Obra inédita contextualiza origens de cidades do Cariri

O livro é o primeiro sobre a história desses municípios, elaborado exclusivamente sobre fontes primárias Araripe A história nacional se funde com momentos que marcaram os acontecimentos, na mesma gênese, em cidades do interior nordestino. Epidemias do século XIX, formação das milícias e a escravidão no interior do Estado. São registros que, em alguns momentos, têm a primazia a partir de dados coletados em fontes como o Arquivo Público do Estado do Ceará (Apec), para compor o livro Notas para História dos municípios de Araripe, Saboeiro e Assaré no Século XIX, de Elisandro Carvalho. Recém lançada na cidade de Araripe, a obra é considerada muito importante para a contextualização histórica, por meio de documentos antigos e a construção de uma memória que foi estratificada ao longo dos últimos anos. Um passeio na MEMÓRIA Acervo contou com diferentes fontes No alto, a cidade de Araripe no século XIX, em plena modernização de sua zona urbana; no sentido horário, Igreja Matriz de Nossa Senhora da Purificação, em Saboeiro, cidade que deu origem a Assaré e Araripe; Casa da Várzea, em Assaré, construção ainda existente; vista panorâmica de Araripe nos dias atuais, onde a pesquisa para a produção do livro teve início; Cadeia pública de Saboeiro, em foto do século passado; Centro de Assaré; Centro de Saboeiro, em registro do séc. XIX. A busca por documentos históricos na cidade foi decisiva para a obra FOTOS: ARQUIVO pessoal / AÉCIA LEAL/MOACIR SIQUEIRA/EGBERTO ARAÚJO Escravidão O autor reuniu em seu trabalho uma compilação de dados para se compreender, por meio de uma pesquisa mais ampla, a trajetória da escravidão no Brasil. E é pela poética de Castro Alves, como Navio Negreiro, que ele sensibiliza o leitor para o Sangue, Suor e Negritude Escrava. Pelos mapas de Classificação dos Escravos para serem Libertados, ele ressalta por meio de documentação histórica a realidade vivida nos anos de 1880, desde a entrada dos primeiros escravizados no Estado, Cariri, até chegar às cidades de Saboeiro, Assaré e Araripe, dentro de um contexto de formação. Segundo Elisandro Carvalho, “Notas para a história de Araripe, Saboeiro e Assaré no século XIX” é a primeira publicação sobre a história desses municípios, elaborada exclusivamente sobre fontes primárias, e a única a retratar a presença e o uso da mão de obra escrava nestas municipalidades. De acordo com o autor, até o momento, os principais estudos existentes sobre a escravidão no Ceará desprezaram a existência de escravos nestas três localidades. Ele destaca que a abordagem da história da guarda nacional também é de grande relevância local, por essas localidades terem abrigado comandos superiores e haver cidadãos possuidores de cartas patentes imperiais com nomeações feitas pelo próprio Imperador Dom Pedro II. “Eram a maior distinção possível dentro da Guarda Nacional no império brasileiro”, diz. No caso da epidemia de cólera, a abordagem minuciosa da epidemia de cólera em seus territórios, ele classifica como algo de grande relevância histórica, por contribuir para a compreensão do contexto da saúde pública da província do Ceará no século XIX. “Este livro é, na verdade, um ponto de partida para desdobramentos ou estudos futuros e complementares sobre os temas enfocados”, ressalta o autor. Resgate “O livro é a única publicação a retratar a presença e uso de mão de obra escrava nestas municipalidades” Elisandro Carvalho Escritor Bibliografia Para Elisandro, a obra é significativa por tornar acessível a informação histórica, já que a maioria dos municípios não dispõe de livros ou pesquisas que abordem seu desenvolvimento e evolução histórica, com base em fonte segura e aferível. “Outro aspecto que amplia o relevo da pesquisa, está no método de trabalho adotado”, afirma. “É que dezenas de documentos estão à mercê do tempo, por estarem inertes e encaixotados em arquivos e, com isso, passam a ter sua perpetuidade assegurada, mediante sua reprodução pela técnica da transcrição paleográfica e da produção de cópias dos originais em versões digitalizadas”, destaca. Esse material integra a publicação, em anexos capitulares. A ideia inicial do livro não era uma publicação sobre Araripe, Saboeiro e Assaré. Ele buscava nas fontes primárias, custodiadas pelo Arquivo Público do Estado do Ceará, provas documentais para a hipótese formulada do primeiro livro “Araripe: Lugar Onde Nasce o Dia, 100 Anos de Gênese Documentada”, também do autor. Antes do município de Araripe ter pertencido à municipalidade de Assaré – e dele sido desmembrado, era parte de Saboeiro na condição de distrito de Paz, no ano de 1859. Na tentativa de encontrar essa verdade histórica, a documentação encontrada pelo autor foi definindo claramente que a cidade-mãe de Assaré e Araripe era Saboeiro. Com isso, diz ele, houve uma interligação e uma interdependência entre as localidades, no aspecto político-administrativo e no âmbito judiciário durante boa parte do século XIX. Esse período coincide com a escravidão, guarda nacional, epidemia de cólera e os primórdios da atividade policial, que são abordadas nesse livro. O autor-historiador destaca, mediante essas análises, que Saboeiro era uma das mais importantes cidades do interior da província do Ceará, tendo, no período, destacado papel econômico e político, inclusive por ser o berço de um dos políticos e de uma das famílias mais influentes da política cearense daquela centúria, o Barão, e, depois, Visconde de Icó, Francisco Fernandes Vieira. A pesquisa para elaboração do trabalho foi iniciada em 1997 por conta própria e, nos últimos quatro anos, conta com o apoio financeiro para a pesquisa e publicação da Prefeitura Municipal de Araripe, por meio da Secretaria Educação e Cultura. Estão previstas a publicação de outros dois livros e uma cartilha, que será utilizada na rede municipal de ensino como material para a disciplina de história. Mais informações Elisandro Carvalho, Rua Santo Antônio, n.º 60, Centro Araripe – Cariri elisandrocarvalho@hotmail.com (88) 9958.5999/ 9292.8287 ELIZÂNGELA SANTOS REPÓRTER Fonte: Diário do Nordeste
Zeudir Queiroz

Compartilhar notícia: