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Lixão de Pacajus representa risco para o Eixão das Águas

Constam na Semace 44 ocorrências no município de Pacajus; destas, 18 são infrações do tipo poluição

As esperanças que brotaram às margens do Eixão das Águas já não se mantêm tão vivas assim. Pelo menos no trecho que passa pelo município de Pacajus. Os moradores da região temem a contaminação das águas pelo aterro sanitário da cidade, que está localizado bem próximo ao canal.

O aterro tem dez anos, e o trecho do Eixão no local começou a ser erguido em 2008 Fotos: Fabiane de Paula

Não é muito difícil perceber a proximidade entre um e outro, basta reparar um pouco na paisagem e descer para conferir. A distância entre o aterro e o Eixão é de cerca de 1.200 metros, percurso que dá para fazer a pé.

Dono de um olhar atento, o publicitário Edilson Bezerra Martins,38 anos, mora em Chorozinho, e no seu ir e vir não deixou observar o que está ali para todo mundo ver.

“Sinto uma profunda indignação ao ver isso, pois demonstra um total desrespeito com o ser humano e a falta de planejamento ambiental por conta do governo, que já depositou milhões nesta obra. É triste, mas é a realidade com a qual convivemos diariamente, o lixão está aí, funcionando, lado a lado com o Eixão”.

Das margens do canal, sente-se o forte mau cheiro e observa-se também a sujeira que cai lá de cima. Ao longo do Eixão é fácil se ver sacos de lixo com os mais diversos conteúdos. De baixo, também avista-se a fumaça que vem do alto e o trabalho dos que do lixo tiram seu sustento. É comum ver garças e urubus às margens do Eixão, tirando de lá o seu alimento.

Apesar dos riscos que o aterro pode causar de contaminação da bacia hidrográfica da região, o catador José Roberto Nascimento, 49 anos, teme que ele seja desativado.

“Todos os dias, estou aqui e nunca nos comunicaram nada sobre desativar, muito pelo contrário. Agora, proibiram a entrada de crianças e têm máquinas para distribuir melhor o lixo. Espero que isso não ocorra tão cedo, pois é daqui que tiro R$ 70,00 a R$ 80,00 por semana e boto a comida na mesa da minha família”, ressaltou.

Trabalhadores conseguem lucrar de R$ 70 a R$ 80, por semana, com a venda material reciclável, por isso eles temem a desativação do aterro

Canal

A preocupação com a contaminação é válida, pois, de acordo com professor do departamento de Geografia da Universidade Federal do Ceará (UFC), Jeová Meireles, é comprovado que pode haver infiltrações tanto da água do canal para o entorno, quanto pode existir a contaminação da água do Eixão por meio da infiltração do líquido exterior para dentro do canal.

“Pode ocorrer o escoamento superficial partindo do lixão em direção ao canal potencializado pelas chuvas”, explica Jeová.

Ele atenta também para a falta de planejamento por parte da gestão, que deveria ter analisado os riscos da construção do Canal próximo ao lixão, tendo em vista que o aterro é anterior à obra. “Esperar desativar o aterro e implantar medidas de contenção do processo de contaminação da água e da bacia hidrográfica, assim como pensar em outros locais para obra, seriam algumas das medidas cabíveis”.

De acordo com informações locais, o lixão tem, pelo menos, dez anos. Já o trecho do Eixão que passa por lá começou a ser construído em novembro de 2008 e concluído em 2012. São estas as informações que constam no site da Secretaria do Recursos Hídricos (SRH), onde diz que o valor do trecho IV custou o equivalente a R$ 134,1 milhões.

A Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh) informou que tem conhecimento do lixão e já denunciou à Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace) por o considerar um risco de contaminação. Além disso, acrescentou que o monitoramento do Eixão é feito regularmente e que, até o momento, as águas não foram contaminadas.

Denúncias

Por meio de nota, a Semace informou que constam em seus sistemas 44 ocorrências no município de Pacajus, 18 relacionadas com infrações do tipo poluição e, destas, quatro possuem relação com o lixão municipal. Todas as denúncias já foram apuradas e os procedimentos adotados, segundo o órgão.

Ressaltaram, também, que desde outubro de 2009, a Diretoria de Fiscalização (Difis) vem apurando o fato, já tendo, inclusive, autuado a Prefeitura Municipal de Pacajus em R$ 25 mil pelo lançamento de resíduos sólidos em desacordo com a legislação vigente (Artigo 62, inciso V do Decreto Federal N° 6.514/2008).

Informaram, ainda, que esta autuação foi fruto de uma denúncia encaminhada pela Cogerh, por meio de um ofício datado no ano de 2011, e que o processo administrativo relacionado ao assunto encontra-se em fase de instrução (julgamento do auto de infração). A reportagem do Diário do Nordeste tentou, sem sucesso, entrar em contato com a Prefeitura Municipal de Pacajus, durante dois dias.

THAYS LAVOR
REPÓRTER

Do Diário do Nordeste

Zeudir Queiroz