Apesar dos esforços, os investimentos seguem concentrados em algumas regiões do Estado
A RMF é a região com os maiores índices de atração de indústria do Estado Foto: Kid Júnior
O semiárido enfrenta hoje a sua maior seca dos últimos 50 anos e o Ceará, tendo mais de 90% de seu território encravado neste clima, é um dos estados mais afetados. Que o diga o pequeno agricultor rural, que vê sua produção perder-se por falta de chuva. Mas essa não é uma realidade nova para nenhum brasileiro – que o diga os cearenses -, e sim recorrente. Por conta disso, desde a década de 1960, políticas públicas estaduais buscaram alternativas de emprego e renda menos vulneráveis aos efeitos da estiagem, e a industrialização passou a ser vista como uma possível solução para o Interior diante dessas intempéries.
O problema é que, cerca de meio século depois, os avanços nesse aspecto estão longe de serem os esperados.
Ao contrário da Capital e dos municípios próximos a ela, as cidades afastadas do Ceará amargam os menores índices de atração de indústrias, empregos e desenvolvimento de maneira geral Foto:Cid Barbosa
É evidente que algumas regiões do Estado passaram a receber mais indústrias ao longo destas décadas, com destaque para os municípios de Juazeiro do Norte (Cariri cearense) e Sobral (região Norte do Estado), que tiveram importante fortalecimento nesse setor, especialmente, no segmento calçadista, fazendo com que o Ceará seja hoje o segundo polo do País nesta atividade.
Contudo, os dados mais recentes (2011) apresentados na Relação Anual de Informações Sociais (Rais), resultado de pesquisa realizados pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), provam que esse desbravamento do Estado pelo setor não está apresentando uma dinâmica representativa.
Concentração
Naquele ano, dos 15,7 mil empreendimentos industriais em atividade no Estado, 11,5 mil estavam na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). Ou seja, a área geográfica que engloba 15 dos 184 municípios cearenses absorvia 73,4% do total de indústrias do Estado.
Informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) reforçam esta constatação.
O órgão mostra que, do valor adicionado total da indústria do Ceará, em 2010, 53,2% estavam somente em dois municípios: Fortaleza e Maracanaú, sendo a Capital do Estado responsável, sozinha, por 42%.
Política pioneira
“É importante buscar o crescimento da economia, tornando mais dinâmicas economias com pouco dinamismo. Há um potencial não explorado no Interior, que tem que se buscar dimensionar. E esse potencial significa oportunidades”, aponta Carlos Manso, doutor em Economia pela Universidade Federal do Ceará e coordenador do Núcleo de Inteligência Industrial do Instituto de Desenvolvimento Industrial do Ceará (Indi), ligado à Federação das Indústrias do Estado (Fiec).
A política inicial do Estado de tentar atrair novas indústrias para o Interior foi a de criar incentivos fiscais para as empresas, instrumento até hoje presente por meio do Fundo de Desenvolvimento Industrial (FDI).
O Ceará foi pioneiro nesta medida, que foi responsável pela atração da indústria gaúcha Grendene ao município de Sobral, modificando sobremaneira a economia da região.
Hoje, esta política se encontra replicada nos demais estados, o que aumenta a concorrência e torna necessários outros atrativos para que investidores se interessem por áreas distantes da Capital.
O economista pondera que não é fácil movimentar a economia industrial em todo o Estado, apesar de esta ser a situação ideal de desenvolvimento.
“Isso depende do ambiente, da natureza empreendedora do local, é uma questão histórica, de uma economia que privilegiou a Capital, em detrimento do Interior. Essa realidade é comum no Brasil inteiro, mas especialmente no Nordeste, com forte concentração nas regiões metropolitanas de Fortaleza, Recife e Salvador”, comenta.
Diante desta problemática, o Governo do Estado e a iniciativa privada, por meio de entidades como Fiec e o Centro Industrial do Ceará (CIC), começam a empreender novas ações objetivando incentivar a interiorização da indústria. Os desafios, entretanto, ainda são grandes.
SÉRGIO DE SOUSA
REPÓRTER
Fonte: Diário do Nordeste
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