O forte avanço do mar tem destruído ruas, avenidas, casas, hotéis, pousadas e barracas, em Fortaleza e Região Metropolitana (RMF), constantemente. Isso acontece porque, desde a construção do Porto do Mucuripe, na década de 1950, tem ocorrido um recuo da linha de costa em toda essa área. Somente nesse período, a redução chegou a cerca de 40 metros em Fortaleza, segundo informações do Laboratório em Gestão Integrada da Zona Costeira da Universidade Estadual do Ceará (Uece).
>Fenômeno afeta água doce, economia e manguezais
Na Praia do Icaraí, 22Km distante da Capital, na cidade de Caucaia, o cenário é de reconstrução. O paredão, que as ondas já destruíram diversas vezes, está sendo reerguido na orla. Por conta disso, a dificuldade para tomar banho naquele local é grande, já que o mar está cheio de pedaços de concreto dos antigos paredões e restos das barracas de praia que foram destruídas na área.
Trafegar ou andar pela Avenida Litorânea é uma tarefa difícil devido ao grande número de pedras jogadas pelo mar, espalhadas pelo calçadão. Em algumas áreas, o fenômeno foi tão forte que prejudicou a estrutura de diferentes residências.
O corretor de imóveis Jonatas Costa Alves lembra que a erosão mudou todo o litoral do Icaraí. “Quando o mar seca podemos ver a destruição espalhada pela praia. São tijolos e pedaços de barraca pelo chão”. O surfe, uma prática constante naquela região, foi bastante prejudicado, ressaltou o corretor. “Aqui não tem mais ondas por conta do fenômeno. Então, a prática do surfe é complicada”.
Os quatro espigões construidos na orla da Caponga, que fica a 80Km de Fortaleza, no município de Cascavel, melhoraram bastante a situação que já estava delicada. No entanto, onde as intervenções não foram realizadas, o problema continua.
Muros
As áreas que ficam mais próximas da Capital estão com a situação mais complicada, pois o mar chega até os muros das residências e, por isso, não se vê mais a faixa de areia.
Devido à força das ondas, os muros das casas foram destruídos, assim como parte do que existia nos terrenos. É perigoso até mesmo andar nesses locais motivada pela violência do mar e do grande número de detritos.
Apesar da melhora, o pescador João Batista acredita que mais espigões são necessários. “Desde os espigões melhorou demais a situação, pois agora podemos até andar na areia. Mas, precisamos de mais para que toda a praia seja recuperada”.
Desde a década de 1950, o mar subiu 29cm, na vertical, de acordo com o doutor em Oceanografia Ambiental e Costeira e coordenador do Laboratório em Gestão Integrada da Zona Costeira, Fabio Perdigão Vasconcelos. “A expectativa é de que o mar vá subir até um metro nesse século. Portanto, a tendência é ter mais erosão nos próximos anos”.
Entre os principais motivos para o fenômeno, na Praia do Icaraí, está a construção do Porto do Mucuripe, porque o equipamento impede que as areias da Praia do Futuro cheguem até Caucaia, e o grande número de espigões na orla, relatou o doutor. “Há 18 mil anos, o nível do mar vem subindo e esse processo foi acelerado pelo homem. Hoje, estamos sofrendo as consequências dessa aceleração”, afirmou o coordenador.
Como a população litorânea cresceu muito nos últimos dois séculos, as decorrências do avanço das ondas são diversas, destacou Vasconcelos. Patrimônio público, como ruas e avenidas, é danificado e locais privados, residências e pousadas, são destruídas.
A construção de aterros, em regiões urbanizadas, para recompor a praia, é uma das principais medidas para combater o fenômeno, esclareceu Vasconcelos. “Além disso, todas as pessoas precisam contribuir para a diminuição do aquecimento global”, frisou.
A tendência, a longo prazo, é de que essa forte erosão chegue à Praia do Futuro, afirmou o professor de pós-graduação do Curso de Geografia da Universidade Federal do Ceará (UFC), Jeovah Meireles. “A zona de berma, os manguezais e as dunas estão sendo ocupados e degradados irregularmente. Portanto, a tendência é que o avanço do mar só aumente”, lamentou o especialista.
As casas e hotéis construídos no litoral e nas dunas da Caponga foram fundamentais no processo desse fenômeno, explicou o professor. Por conta disso, os sedimentos das dunas não chegam até as praias.
Hoje, cerca de 60% da área entre São Gonçalo do Amarante e a Praia da Caponga já foram ocupados pelo homem, declarou Meireles. “Não temos políticas públicas para conter o problema. Ao invés de trabalhar em conjunto, o que seria correto, cada município trabalha de uma forma”, ressaltou.
A Secretaria do Meio Ambiente (Sema) tem, atualmente, programas na área de gerenciamento costeiro. O primeiro é o Projeto Orla, em que cada município recebe o apoio da Sema para elaborar seu Plano de Gestão Integrada da Orla (PGI), e, assim, estabelecer medidas que visem o uso ordenado e a preservação ambiental do seu litoral.
Enquanto isso ocorre, a Reestruturação e Atualização do Zoneamento Ecológico Econômico (ZEE) do Litoral e das Unidades de Conservação Costeiras do Ceará está sendo atualizado, já que foi elaborado em 2006.
Verba
A Assessoria de Comunicação do Município de Caucaia informou que as obras de reconstrução do paredão, para a contenção das ondas, estão sendo feitas com verbas da própria cidade. Enquanto isso, a Prefeitura aguarda o repasse de R$ 135 milhões do Ministério da Integração Nacional para a construção de sete espigões. Devido à crise econômica, o órgão tem demorado a fazer a transferência do valor.
Até o fechamento dessa sedição não foi possível entrar em contato com a assessoria de comunicação de Cascavel.
Fonte: Diário do Nordeste
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