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Funceme prevê nova estiagem em 2016

Eduardo Sávio Martins explica que monitoramento do Pacífico, feito até o mês passado, mantém hoje "80% de chance do El Niño persistir até fevereiro de 2016", o que pode indicar mais seca no ano que vem
Eduardo Sávio Martins explica que monitoramento do Pacífico, feito até o mês passado, mantém hoje “80% de chance do El Niño persistir até fevereiro de 2016”, o que pode indicar mais seca no ano que vem

Com apenas dois meteorologistas e um físico à disposição para traduzir relatórios diários de monitoramento do planeta, a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) prevê mais longos dias de seca para  2016.

O cenário pode até virar, admite o presidente do órgão, Eduardo Sávio Martins, mas é o que apontam neste momento as águas do Pacífico, aquecidas pelo fenômeno El Niño. A se confirmar, será o quinto ano consecutivo de estio, metade desta década.

Ele descreve que até a intensidade do fluxo solar, uma informação ainda sendo descoberta pela Funceme, que aponta níveis de radiação do sol, tem indicando que o ano que vem será preocupante. Principalmente para as reservas hídricas cearenses. “Vamos ter que ter a preocupação sobre o uso mais eficiente da água”, alerta Eduardo Sávio.

O POVO – A Funceme já disparou um alerta que 2016 pode ter a continuidade do quadro de seca, por causa da manifestação do El Niño. Há como dizer que, cientificamente, isso já está dentro da previsão das mudanças climáticas para o semiárido cearense?
Eduardo Sávio Martins – Nós sempre conseguimos dar previsão com alguns meses de antecedência. De três a quatro, a previsão sazonal que a gente faz. A gente tem uma boa previsibilidade aqui para o Norte-Nordeste. Por que, além disso, estamos colocando a preocupação? Primeiro, por causa do armazenamento que temos hoje nos reservatórios do Estado. Hoje estamos com menos de 20%. Mas tem reservatórios, como o Banabuiú, que é estratégico, está com 1,23%. Reservatórios que são responsáveis pelo abastecimento de algumas sedes urbanas estão com 3%, 5%. Já estamos vivenciando dificuldade grande para garantir água para algumas sedes, como Irauçuba. O pessoal da Sohidra (Superintendência de Obras Hidráulicas) está fazendo trabalho intenso de perfuração de poços, mas infelizmente os poços não estão dando vazão significativa para a demanda. Então realmente é preocupante, pelo estado que estamos hoje. A gente já fazia no passado, mas com esse armazenamento, a gente resolveu, desde 2012, começar a emitir alertas por volta de maio, diante a situação do Pacífico. A gente resolveu informar não só para dentro do Governo, mas para a sociedade em geral porque entendemos que o setor privado também precisa se mobilizar. Até para repensar estratégias de atuação diferentes, tentar maximizar eficiência no uso da água, tentar mudar em estrutura para usar mais efetivamente a água disponível. Certamente teremos que passar por uma mudança cultural. Estamos no quarto ano de seca, o El Niño hoje é forte em maio. Pode mudar? Pode ter essa mudança, mas o que os modelos do Pacífico estão dizendo é que temos 80% de chance do El Niño persistir até dezembro e janeiro e fevereiro de 2016.

OP – O que daria um quadro de seca em 2016?
Eduardo – Foi El Niño, é seca? Não, mas afeta negativamente a nossa quadra chuvosa.

OP – Você tem que ver a intensidade dele?
Eduardo – A intensidade, quando a gente olha os modelos do Pacífico, a maioria coloca um El Niño intenso. Mas existe uma incerteza muito grande, a gente precisa acompanhar. É muito distante maio de janeiro e fevereiro do próximo ano. Pode haver mudança, mas os modelos não estão colocando essa mudança, estão apresentando a persistência do El Niño até janeiro-fevereiro. E isso afeta negativamente a nossa quadra chuvosa.

OP – Mas os próprios meteorologistas trabalham hoje em dia com essa instabilidade de informações muito maior.
Eduardo – Estamos falando de duas coisas. Uma é a previsão do clima e a outra é a previsão das forçantes do clima. No caso, o Pacífico, que é uma delas. O Atlântico é o outro, é mais difícil prever porque é uma bacia menor. É mais nervoso, digamos assim, ele muda mais rapidamente. O Pacífico, como é uma bacia maior, mais ou menos cinco vezes maior do que o Atlântico, pra mudar a temperatura de uma panela quente grande, leva mais tempo. Temos uma inércia maior nessa mudança. Ele sair pra uma situação favorável leva mais tempo. A gente está comparando muito a situação de hoje sempre olhando pro passado, ver o que aconteceu alguns anos atrás. Essa situação de maio deste ano lembra maio de 1997. Se você olhar 1997 como evoluiu, temos um El Niño forte no final e início do ano seguinte. Quer dizer que isso vai acontecer? Não sei, mas a preocupação que estamos colocando para o Governo do Estado é que realmente precisamos ter o cenário como factível.

OP – Fortaleza vai ter que racionar água se essa previsão se confirmar em 2016?
Eduardo – Nós vamos ter que ter a preocupação sobre o uso mais eficiente da água. Vamos ter que economizar água, aquelas cenas que a gente não gosta de ver, de gente lavando calçada. Temos que começar a combater esse tipo de comportamento, por isso o governo vai lançar uma campanha, o governador já anunciou isso. De maior preocupação com o uso da água já agora.

OP – Há outros anos que tiveram semelhança com o momento atual?
Eduardo – 1982, 1983 foi um ano seco.

OP – E já havia essa previsão de que o ano seguinte poderia ser seco?
Eduardo – Não, nessa época não tinha. Nós tínhamos antes esses modelos disponíveis, mas em 2008, 2009 estávamos com o cenário de reserva lá em cima. Foram dois anos chuvosos. 2010 foi um ano seco, mas iniciamos um ano seco com reservas lá em cima. Foram cheias em 2009. Foram feitas operações, e isso digo que não foi divulgado, de monitoramento de clima e hidrologia e previsão pra tentar terminar a quadra chuvosa com o Castanhão no nível mais cheio possível. Por que isso? Porque tinha a preocupação de 2010 que seria um ano de seca. A gente queria garantir que estaria com o estoque de água o mais alto possível. Isso não foi externado à época pra ninguém, mas foi uma operação de risco.

OP – O que exatamente foi feito?
Eduardo – Aqui era direto. Sábado, domingo… À época o presidente da Cogerh (Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos) era o secretário atual (de Recursos Hídricos), Francisco Teixeira. Ele ligava, a gente rodava modelos aqui na Funceme para fazer previsão de aporte aos reservatórios. Usava previsão de tempo, aquela curta de dois, três dias, para ver o que ia acontecer em termos de chuva e de vazão aos reservatórios. Calculava o aporte, abria ou fechava a comporta. Essa história nunca foi contada.

OP – Naquela época não se estimava que a seca se prolongaria por quatro, cinco anos, porque não havia como?
Eduardo – Não tinha como. Hoje também não tem previsibilidade de cinco anos, mas a gente tem indicativos que colocam preocupação sobre esse período. Por exemplo, intensidade do fluxo solar. Quando o fluxo solar está alto, a tendência é que a precipitação média de um período de cinco anos seja baixa. Estamos num momento que o fluxo solar está subindo. E os últimos anos foram secos. E ele ainda não parou de subir.

OP – Isso tem a ver com aquecimento global ou não tem?
Eduardo – Não tem. A energia do sol que chega à Terra tem flutuações. A flutuação é mínima, mas afeta o clima do planeta.

OP – Essa oscilação na intensidade do fluxo solar é derivada dele mesmo ou decorre de algo?
Eduardo – É dele mesmo e tem particular relação com o clima aqui da nossa região. Mas isso é um fator novo. A gente ainda está investigando, fazendo alguns experimentos na Funceme, se isso pode até melhorar nossa previsão. Para o período fevereiro-março-abril, ela é muito boa, e quando você acerta esse trimestre, você tem 65% das chuvas do ano em média. E de fevereiro a maio, a previsão também é muito boa, aí você vai pra 75% da chuva do ano. Então estamos concentrando todos os esforços nesse período. Os outros períodos são importantes, têm boa performance também, mas o período melhor da previsão climática é fevereiro a maio.

OP – A gente está sentindo mais calor em Fortaleza por causa desse fenômeno solar?
Eduardo – Não, não. O calor tem a ver com a radiação incidente, com a energia do sol que chega à Terra. E isso varia ao longo do ano. Na verdade, essa não é a temporada de calor. Estamos sentindo mais calor porque na verdade não está chovendo, está muito seco.

OP – Os setores econômicos produtivos consulta muito mais a Funceme do que antes?
Eduardo – A gente participa de reuniões com o pessoal do agronegócio, às segundas-feiras. Coloquei pra alguns deles a preocupação com o próximo ano. Por que a gente faz esse esforço de atingir o setor do agronegócio? Porque são consumidores de água. Eles têm que se precaver com algumas medidas a serem tomadas no uso da água. Por exemplo, temos seis dos sete perímetros colapsados, não têm água. Tem pra atender só aquela agricultura de salvação mesmo, para não deixar morrer as culturas permanentes. Preocupa se tivermos o último perímetro, Jaguaribe-Apodi, colapsado. É por isso que a gente tenta que a informação chegue para que eles antevejam suas ações.

OP – O consumo da água, grosso modo, é dividido para agronegócio, indústria e consumo humano. A Funceme chega a orientar essa distribuição?
Eduardo – Não, isso já é setor de Recursos Hídricos, que a gente faz parte, mas aí é Cogerh e Secretaria. A informação que nós damos é do clima. Nós temos colaborado com o monitoramento hidrológico, com o desenvolvimento de ferramentas para suporte à decisão do setor de recursos hídricos, modelagem hidrológica, análise de operação de reservatórios. Estamos desenvolvendo uma ferramenta aqui sobre isso e devemos programar um treinamento para a Cogerh no segundo semestre, exatamente para que ele se aproprie dessa ferramenta na identificação de regras de operação dos reservatórios, para que atenda aos usos e observando as restrições do sistema. A gente vem apoiando científica e tecnologicamente na produção de ferramentas, dando treinamento onde é nossa expertise, mas o processo decisório é da Cogerh.

OP – O que 2015 ainda tem de previsão de chuva?
Eduardo – Agora estamos no fim da quadra chuvosa. Fevereiro – março – abril foi indicado como cenário mais provável ter chuvas abaixo da média. Foi isso que foi observado. Vamos começar lá de antes. A Funceme começou a dar previsão da pré-estação uns três anos atrás. Novembro-dezembro-janeiro, abaixo da média. Dezembro-janeiro-fevereiro, também abaixo da média. Cenário mais provável foi de que vai faltar. Janeiro-fevereiro-março, abaixo da média, cenário mais provável a apontar. E agora, fevereiro-março-abril, também cenário mais provável abaixo da média. Maio-junho-julho foi colocada a categoria da média como mais provável, mas, se você olhar as probabilidades, não tem tanta diferença da abaixo da média e da média. Elas são muito próximas, comparadas com as outras previsões que fizemos. Pode ser normal ou abaixo, colocaria isso para o período maio-junho-julho. Se você olhar, maio chove 89 milímetros. Já vai curva de baixo. Em média chove isso. Vai pra 140mm maio-junho-julho. Agora, para reverter esse quadro de estoque de água, só se fosse muito, muito, muito acima. E que fossem chuvas concentradas. Para o setor de recursos hídricos, é melhor que esses 140mm ocorram em um, dois dias, no máximo. Por que vai gerar escoamento e ir pro reservatório

OP – É improvável?
Eduardo – Não é improvável porque em período seco essas coisas acontecem. Você viu temporais recentes que tivemos em Fortaleza, em alguns locais chovendo 140, 150mm. Teve local que choveu mais de 200mm. Essas coisas acontecem.

OP – O cidadão está muito mais interessado pelo tema das previsões meteorológicas?
Eduardo – É, o pessoal gosta de clima. Mas o cearense tem o humor como profissão. A gente pena muito nisso. Porque, na verdade, tem problemas de percepção. Tá chovendo em Fortaleza, o cara assume que tá chovendo no Ceará todo. Por exemplo, a chuva que deu hoje, 35 mm lá em Messejana, o usuário da informação duvida: como pode ser abaixo da média? Mas ele não está vendo os quatro anos que o Sertão Central passou. Tauá, cinco anos de chuva abaixo. Então, não tá vendo o Interior.

OP – E esse humor que você fala?
Eduardo – É na gozação mesmo. A gente tem uma página no Facebook, o pessoal curte. Mas tem o usuário mais informado que vai em defesa. Então é bom a gente ver isso, gera uma dinâmica na discussão da informação. É o papel de educação mesmo. Tem programas de televisão, que não são jornalísticos, eles gostam realmente de ficar no escárnio.

OP – Você falou uma coisa interessante, agora há pouco. A gente está no quarto ano de seca, pode entrar no quinto. Mas existem localidades no Ceará que estão há mais tempo?
Eduardo – Há mais tempo. Acho que a Bacia do Curu como um todo, lá tá há mais de cinco anos já. Como certeza mais de quatro anos está.

OP – Por que a precipitação ali é menor?
Eduardo – Ah, isso a gente ainda não consegue identificar. Porque a natureza da nossa chuva, em geral, ela é convectiva. O sol aquece uma determinada faixa do terreno o tempo todo. Isso provoca uma térmica, uma elevação de ar por conta da temperatura da superfície. Se vem um jato de vento trazendo umidade do litoral, essa umidade é elevada. Quando o ar quente e úmido vai para altitudes maiores, ele se expande, se esfria e forma nuvens e pode precipitar. Essa é a natureza, em geral, da nossa precipitação. É mais difícil prever aqui essa chuva de curto prazo, um, dois, três dias, do que prever com três meses. Aqui é melhor prever clima do que tempo. Prever tempo é mais complicado aqui, exatamente por essa natureza convectiva.

OP – A Funceme mudou de paradigma, saiu da ideia de bombardear nuvens para fazer chover e passou a ser mais científica, trabalhar na previsão. Esse marco acontece exatamente quando?
Eduardo – A Funceme foi criada em 18 de setembro de 1972 até com isso no nome. Era Fundação Cearense de Meteorologia e Nucleação Artificial. A grande mudança, e aí a Funceme cresceu muito, foi na época do doutor Viana, Francisco Lopes Viana. A Funceme começou a ter várias áreas, ampliando muito por conta de instituições que foram extintas e os profissionais foram absorvidos aqui. Como a antiga Sudec, o pessoal de solo, de geografia, isso foi ampliando as áreas de atuação, mas ainda sem um planejamento muito bem definido. A área de meteorologia cresceu por conta de programas do governo federal, de atração de bolsas. Isso muito por conta da ideia de criar “Funceminhas” no Nordeste e depois no Brasil. Esse programa de bolsas, a Funceme se beneficiou muito, conseguiu atrair profissionais do Brasil todo. Teve uma relação muito forte com o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), a parte de satélites, de meteorologia, cresceu muito. Foi criada a área de recursos hídricos, com atuação nas áreas de água superficial, subterrânea. A Funceme andou investigando métodos geofísicos para identificação de locais de perfuração de poços, tanto em terrenos sedimentares como cristalinos. E na parte de hidrologia superficial, estudos de hidrologia, modelagem hidrológica, estimativa de vazões, tentando identificar aporte aos reservatórios e por aí vai. O papel da Funceme, onde ela deveria atuar, ainda não estava muito bem definido. Cresceu muito, a gente ganhou experiências nas diferentes mudanças que tivemos ao longo das mudanças de governo. Muda o governo, a primeira pergunta que se faz é pra onde vai a Funceme. A gente passou da Secretaria de Agricultura, inicialmente. Em 1987 foi criada a Secretaria de Recursos Hídricos, migramos para lá. Aí teve um foco em geografia física. Antes disso foi feito um concurso. Conseguimos absorver boa parte dos bolsistas que estavam na Funceme e outras aprovadas. Entrei como bolsista. Vim do IPH (Instituto de Pesquisas Hidráulicas), no Rio Grande do Sul. Cearense, fui fazer o mestrado, quando terminei foi a época do concurso. Fiz e passei. Depois a gente migrou da Recursos Hídricos para a Secretaria de Ciência e Tecnologia. Ficamos lá até o governo Cid. E esse mudou para a SRH. Teve uma mudança em 2001 com o Assis (ex-presidente Francisco de Assis Souza), tentar organizar todas essas áreas com foco na aplicação, no uso da informação. E isso a gente continuou tentando ampliar para outros setores. Por exemplo, de energias. A gente participou da elaboração de atlas de potencial solar, eólico. Estamos desenvolvendo ferramentas pra Cogerh, participando de desenvolvimento de portais, aplicativos. O Funceme Tempo, o portal Hidro, fizemos o aplicativo para o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), pra ANA (Agência Nacional das Águas). A gente consegue, através dessas pequenas ações, parcerias que resultam em projetos maiores e conseguem dar sustentabilidade a ações, que são de caráter temporário, mas não de curto prazo. Por exemplo, deveremos ter um grande projeto com a ANA que deverá ter um horizonte de cinco anos. Esse projeto tem foco de uso da informação de clima para o setor de recursos hídricos, vai analisar a questão das regras de operação do rio São Francisco para as bacias receptoras (Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco e Paraíba) e também a questão de secas. Ter planos de seca para alguns hidrossistemas, para sistemas de abastecimento como Cagece.

OP – Mais uma mudança de pasta como essa, isso é ruim, é bom? Muda o perfil de atuação, da utilização dessas informações?
Eduardo – Eu vejo a mudança como positiva. E eu acredito que boa parte dos técnicos aqui da casa pensa assim. Essa é minha percepção. Porque o melhor período que tivemos aqui foi quando estivemos na SRH. Tivemos grandes projetos. Isso nos engajava com metas. Eram grandes projetos de importância para o Estado. A Funceme estava inserida nesse contexto. Quando a gente foi pra Secitece, tentou ao máximo continuar engajados com o setor de Recursos Hídricos, exatamente por conta disso, tendo a aplicação mais próxima. Da informação gerada pela instituição à sua aplicação no mundo real, na sociedade. Isso pra mim é importante porque uma instituição como a Funceme, você não vende fácil. Ou você tem um gestor acima de você que entenda por que é preciso uma instituição como a Funceme ou…

OP – É uma contradição, porque a economia do Estado passa por aqui.
Eduardo – É, mas existe uma dificuldade, isso em qualquer lugar do mundo, inclusive em alguns avançados, como Austrália e Estados Unidos, do uso de uma informação que é incerta no processo de tomada de decisão. A gente fala aqui que o clima tá mudando, que temos essa incerteza do clima no próximo ano, como a gente toma uma linha de ação que vai atender às necessidades que teremos em 2016? Existe a dificuldade do gestor público delinear um conjunto de ações diante dessa incerteza da informação que a gente gera. Mas, infelizmente, é a natureza. E a natureza é incerta. A gente nunca vai conseguir dizer: olha, vai chover tantos milímetros nos próximos três dias.

OP – Você pontua e diz “pra mim é bom”, mas e para a academia? O que pensam os pesquisadores que se aproximam daqui, sobre essa troca de pastas a que submetem a Funceme?
Eduardo – Essas passagens que tivemos nas outras secretarias, a gente sempre pegou algo pra dentro da Funceme. A gente ganhou bagagem. No sistema de ciência e tecnologia, a bagagem que a gente pegou foi iniciar um processo de competição em editais de concorrência. Quando a gente foi pra Secitece, eu era gerente de recursos hídricos, o Assis era o presidente, tivemos uma reunião com o doutor Hélio Barros (ex-secretário da Secitece), que disse “não é possível, temos que competir com Pernambuco, temos que ter captação de fomento do setor de ciência e tecnologia”. Eu disse pra ele “me dê gente que a gente compete”. Ficou acertado que a gente teria bolsistas, para trabalhar algumas propostas. Lembro que no primeiro ano a gente elaborou 30 propostas e não tivemos nenhuma aprovada, porque a competição era acirrada. Até que no ano seguinte tivemos a primeira e aí começou, uma atrás da outra. Hoje a gente tem projeto de cooperação internacional com a Alemanha. Com França e África, um projeto tripartite, para estudar seca aqui e lá e fazer comparativo. O pessoal da Alemanha que a gente tem cooperação é da Universidade de Potsdam, também nessa área de recursos hídricos e estudos de seca e cheia. A gente está preocupado hoje com seca, amanhã a gente vai estar preocupado com cheia. Tem que antever.

OP – Que recortes de estudo os estrangeiros estão fazendo aqui?
Eduardo – Vários recortes. Desde do estudo da operação de reservatórios diante de eventos críticos, seca e cheia, como também a elaboração de ferramentas. No caso de cheia, o desenvolvimento de rotinas para o uso da informação do radar, para estimar uma cheia afluente ao Castanhão e você saber o quanto tem que abrir a comporta pra atenuar os efeitos dessa cheia na região jusante. Tem projeto de estudo de qualidade de água, também com a França e as universidades de Brasília e a Federal do Amazonas, usando informação de sensoriamento remoto (satélite). O monitoramento em campo de 140 reservatórios, você consegue fazer uma vez a cada três meses. Mas com satélite, se eu conseguir imagens de boa resolução, consigo fazer todo dia, na frequência que o satélite tiver a imagem.

OP – A Funceme não faz ainda?
Eduardo – Já está fazendo. No escopo desse projeto, já estamos monitorando diariamente Orós, Banabuiú e Castanhão, juntamente com o pessoal da França. E agora com o pessoal da Universidade de Brasília estamos fazendo um estudo, um pouco diferente, eles estão desenvolvendo um vant, que é um drone. A gente faz uma medida pontual, pra ver o balanço de radiação que chega no reservatório, e faz a relação desse balanço com a reflectância da imagem do satélite. Aí estabelece essa relação a partir da análise laboratorial de clorofila A, que dá o índice de eutrofização. Com o vant, a gente vai ter a imagem de todo o reservatório. Nós vamos relacionar a imagem do vant com a do satélite. Com isso vamos ter uma análise do indicador de eutrofização para todo o espelho d´água. A gente vai conseguir ver, por exemplo, pontos de lançamento de esgoto clandestino.

OP – O que esses últimos quatro anos de seca trouxeram de novidade na pesquisa da Funceme, de aprendizado saído daqui?
Eduardo – Acho que se pudesse escolher uma, das coisas que a gente vem trabalhando, e no Brasil não tem nenhum grupo que esteja trabalhando tanto quanto a gente para ter produtos voltados para os setores de agricultura e recursos hídricos, é a questão da previsão climática e impactos. Hoje a Funceme está rodando o modelo global. Por que, se faz previsão para o Ceará?

OP – Modelo global significa que monitora o planeta todo?
Eduardo – Eu faço a previsão do clima para o globo. Só que o clima do Ceará é afetado pelo Atlântico e pelo Pacífico. Por isso que é importante fazer global. Porque eu posso fazer a previsão em janeiro para fevereiro-março-abril, e se eu quiser, porque existe uma incerteza, posso mexer no Atlântico. Deixá-lo numa situação mais desfavorável e rodar novamente no modelo para ter uma sensibilidade, o que pode acontecer como clima futuro com essa tendência que os especialistas estão apontando para o Atlântico ou Pacífico.

OP – Isso não se fazia quatro anos atrás?
Eduardo – Não, não se fazia. Historicamente, a Funceme sempre trabalhou com modelo regional de clima. A gente usava modelos globais, de outros centros, para forçar modelos regionalizados. Hoje a gente roda o global aqui, roda o regional aqui. Somos totalmente independentes dos centros nacionais e internacionais hoje. Não precisa de ninguém.

OP – Até quatro anos atrás eram dependentes?
Eduardo – Nós iniciamos isso em 2012. Por quê? A gente via que alguns centros que a gente estava utilizando informação para forçar os nossos regionais, eles estavam alterando os resultados do modelo estatisticamente. A gente achava que isso não era bom. Às vezes o modelo estava indicando que era seco, mas ele fazia uma correção estatística com base nas forçantes. Esse modelo que eles usavam para fazer a correção era totalmente dominado pelo Pacífico e, às vezes, o sinal invertia. O que era seco ficava mais normal, um pouco chuvoso. A gente achou que era melhor ter uma abordagem mais objetiva em relação à modelagem. Até porque o modelo que a gente usa tem uma performance muito boa com o Norte-Nordeste. Fazer qualquer alteração nesse modelo, talvez para eles, na região que eles têm interesse, funcionasse, mas para nossa região não funcionava. E a outra razão da mudança foi por conta da necessidade de a gente poder rodar cenários. “Os especialistas estão indicando que o Pacífico pode mudar assim”, “que o Atlântico pode mudar assim”. Pra gente não ficar pensando o que pode acontecer, a gente roda o modelo e tem uma ideia do que pode piorar ou melhorar em termos de clima nos próximos meses.

OP – Institutos do Norte-Nordeste mandam previsões para outros Estados?
Eduardo – Isso foi valor agregado ao trabalho que estamos fazendo. Como a gente está fazendo a previsão pro globo, o resultado para o Brasil hoje é utilizado pelos centros nacionais para combinar com os modelos que eles rodam. Eles combinam o modelo da Funceme, o modelo do Inmet e os três modelos do Inpe e geram uma previsão que chama Superconjunto de Modelos Nacional. Que é Cptec (Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos), Inmet e Funceme.

OP – Quais outros Estados têm unidades meteorológicas importantes?
Eduardo – Eu diria que Pernambuco está avançando muito. Lá é junto com a agência de águas, a APAC (Agência Pernambucana de Águas e Clima). Tem o Simepar, Sistema Meteorológico do Paraná, cuja especialidade é mais tempo. E tem o de Santa Catarina, que é o Epagri (Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural).

OP – O prestígio da Funceme em relação ao país está bom?
Eduardo – Está. Apesar de todas as restrições que nós temos, principalmente em termos de pessoal, a gente tem conseguido com esses projetos, de caráter temporário, continuar ativo nessas áreas. Nosso foco nos últimos anos tem sido muito a previsão climática e impactos. Ou seja, prever o clima, mas não ficar só com a variável de precipitação. A gente saber o que vai acontecer em termos de vazão, de safra. Temos desenvolvido produtos nesse sentido.

OP – Para o cidadão, no dia a dia, melhorou?
Eduardo – O dia a dia é tempo. É difícil a gente responder isso porque cada usuário tem um interesse diferente. Às vezes chover e não chover pra ele é a mesma coisa. O usuário que acho que a gente pode mais medir a temperatura, de importância do trabalho, seria em relação à Defesa Civil. A gente tem que citar o excelente trabalho que a Defesa Civil vem fazendo, desde a gestão anterior, muito motivacionada pela vontade dos seus técnicos.  A Defesa Civil é uma grande usuária da nossa informação. Trabalhos que eles fazem nas escolas com as nossas informações. Eles têm acesso a todos os aplicativos, então conseguem antecipar suas ações com base nas imagens do radar, com base nos modelos de previsão. Sempre quando tem previsão de evento severo para a Região Metropolitana, a gente manda um alerta pra Defesa Civil. Quando a gente trabalha com o usuário, não tem a pretensão de achar que sabe o que o usuário precisa. Então, a gente trouxe a Defesa Civil e perguntou “o que você precisa?”. A partir dessa pergunta, a gente avaliava o que podia fornecer e modificava a partir do perfil do usuário. Essa é uma tentativa também de melhorar nossos laços com os usuários que fazem uso dessa informação.

OP – Há uma constatação de que, mesmo com vários avanços e do que ganhou com a troca de experiências nos últimos anos, a Funceme perdeu muito com a fuga de cérebros. Qual o déficit de pessoal que a Funceme tem hoje?
Eduardo – Para você ter uma ideia, a gente perdeu muita gente pra aposentadoria. Desde 1995 vem perdendo gente. E muita gente realmente pediu demissão por conta da questão salarial.

OP – Qual o quadro de pessoal da Funceme hoje?
Eduardo – Do último concurso, pra você ter uma ideia, nós tínhamos 76 pessoas, hoje temos 20.

OP – São apenas 20 pessoas no quadro da Funceme?
Eduardo – Aí tem o pessoal do administrativo…

OP – Que trabalham com os dados, são 20?
Eduardo – Meteorologistas… nós temos dois meteorologistas.

OP – Dois? Precisaria de quantos?
Eduardo – Eu gostaria de pelo menos 13.

OP – Vocês já trabalharam com quantos?
Eduardo – Ah, já tivemos muita gente aqui.

OP – Já trabalharam com mais de 15, 20?
Eduardo – Já. Uns 15.

OP – De 15 baixou pra dois?
Eduardo – É.

OP – Os que estão presentes hoje são de convênio ou de quê?
Eduardo – Não, nós temos bolsistas. Não podemos terceirizar área fim. A legislação não permite. Tem um físico que trabalha na meteorologia, então temos três pessoas na meteorologia. E no dia a dia da meteorologia nós temos, um físico, um meteorologista e um bolsista que é meteorologista. Três pessoas. É pouco e insuficiente pra se fazer plantão. A gente tem que preparar a instituição pra ter plantão 24 horas. Como se pode dar alerta na madrugada se não se tem um técnico de plantão olhando os sistemas que estão entrando? O tempo aqui muda muito rapidamente.

OP – Como vocês fazem isso hoje?
Eduardo – Hoje a gente faz com a colaboração da Defesa Civil, dando treinamento pra eles. Porque eles têm plantão.

OP – Eles monitoram a informação básica?
Eduardo – Eles monitoram e a gente tenta automatizar todos os nossos processos. Isso nunca é perfeito. Mas, por exemplo, uma estação está registrando uma mudança muito grande de precipitação nas últimas horas, o sistema manda uma mensagem pra Defesa Civil. A gente tem o radar no sistema se intensificando, o algoritmo implementado por um técnico de TI (tecnologia da informação) detecta isso e manda um alerta pra Defesa Civil.

OP – Certamente esse é o menor quadro de pessoal que vocês já tiveram?
Eduardo – Com certeza. Estamos no fundo do poço em termos de pessoal. Não tem mais o que fazer.

OP – E o que se tem previsto de melhora dessa situação?
Eduardo – Foi uma das primeiras conversas que tive com o governador. Ele autorizou a gente fazer um plano de cargos, porque também não adianta fazer concurso com os salários existentes. Vou nem falar em salário aqui pra vocês não se chocarem.

OP – Se os dois meteorologistas e o físico saírem, parou a previsão aqui?
Eduardo – A previsão de tempo, sim. A previsão de clima, não. Porque hoje a gente tem uma abordagem de modelagem. Em clima se usa modelagem porque tem uma boa performance. Claro que a gente consulta especialistas, participa das reuniões de discussão com o Inpe, Inmet, mas nosso sistema cuida.

OP – Você está dizendo então que pra isso as máquinas resolvem?
Eduardo – As máquinas com o bom senso de alguém.

OP – Esse pessoal que cuida do clima, há quantos?
Eduardo – É tudo gente de TI.

OP – É mesmo?
Eduardo – Eu não posso ter terceirizado na área fim. Área fim é concurso público ou bolsista. Uma vez saído o resultado, é claro, a gente discute com o pessoal, os meteorologistas que estão na instituição. Mas, em última análise, o modelo tem cumprido o papel. Se não estiver dizendo nenhum absurdo, fica o que o modelo disser. A gente tem tido bons resultados usando essa abordagem.

OP – Os governos têm sido bons pra Funceme?
Eduardo – O governo que mudou a cara da Funceme foi o governo Ciro Gomes, anos 1990. O concurso foi na época do Ciro.

OP – Mas esse pessoal todo foi embora?
Eduardo – Foi.

OP – Então a gente pode dizer que internamente, no Ceará, a Funceme perdeu prestígio.
Eduardo – Isso, acho que não. O problema não é esse. Quando a gente fala em resolver problema de pessoal, isso rebate em várias áreas. A postura do governo tem sido de cuidado ao olhar essa coisa de um plano de cargos, concurso. Porque não é só a Funceme que tem carência. Educação, Saúde… Quando você lança um, isso gera impacto, uma onda de demandas que tem que ser contida de algum modo. Isso é natural.

OP – Hoje, o quadro satisfatório pra Funceme seria de 15 meteorologistas?
Eduardo – O concurso que a gente pediu ao governador foi de 45 vagas. E, na verdade, pedindo mais, da seguinte forma: a gente tendo oportunidade de chamar, ao longo do tempo, mais profissionais. Porque a gente não consegue absorver todo mundo porque o espaço aqui é limitado. De uma vez não vai conseguir. A gente queria botar pelo menos 13 pessoas na meteorologia, divididos na área de modelagem, de radar, mas a ideia é ter plantão. Porque é incabível ter uma instituição meteorológica sem plantão. A gente precisa ter gente aqui se comunicando 24 (horas) por 7 (dias), não importando se é Natal, Carnaval. Desastre acontece é nessas horas.

OP – Se for necessário apertar um botão de pânico, a informação não será tão precisa?
Eduardo – É. Nós precisamos ter plantão porque alguns eventos acontecem muito localmente. Se não tiver gente olhando pra tela, lendo o sistema de monitoramento, não vai conseguir avisar aos usuários que precisam ser avisados.

OP – Uma enxurrada como aquela do dia 3 de janeiro deste ano, em Fortaleza (onde choveu 55mm, entre 5h e 14h), teria como ser antecipada?
Eduardo – Teria. Mas sem gente olhando, não.

OP – Mas ali foi disparado alerta?
Eduardo – Foi dado alerta. Pela Defesa Civil. O que a gente tem adotado é um plantão, com muito boa vontade, em que sábado o pessoal vem pra instituição até meio dia. Aí o técnico leva um telefone pra casa e fica monitorando on call (em chamada), como a gente chama. Monitora de casa. Ele tem internet, computador, e qualquer mudança comunica à Defesa Civil.  E o órgão municipal é muito alerta.

OP – Como está o Monitor das Secas? Está rodando?
Eduardo – Está rodando, não está operacional. Estamos esperando o lançamento oficial pelo Ministério da Integração e Agência Nacional de Águas. Estamos rodando o Monitor todos os meses. A gente sai com o mapa da severidade da seca daquele mês e o que mudou em relação ao mês passado. Desde julho do ano passado.

OP – Esse material está sendo aproveitado pelo governo?
Eduardo – Pela Agência Nacional de Águas, pelo governo. No Plano de Seca (lançado há poucos dias no Ceará), estava lá o mapa do Monitor, pra mostrar a situação de evolução da seca desde julho até aquele momento. Foi base para o plano de seca do governador.

OP – A iniciativa privada está utilizando?
Eduardo – Não, porque a gente ainda não lançou oficialmente. E essa é uma demanda que a gente tem junto ao Ministério da Integração e está sendo tratado pela Agência Nacional de Águas.

OP – Precisará pagar ou vai ser uma informação pública?
Eduardo – Não, será uma informação pública. A grande vantagem dessa informação é que ela está sendo feita, diria, a quatro mãos. É o Governo Federal e os governos estaduais trabalhando no mesmo monitoramento. O que isso permite? Temos a rede federal sendo utilizada para compor o mapa, temos as redes estaduais e todo mundo validando aquele produto. Ao final você tem um produto que foi acordado entre os entes estaduais e o ente federal. Não tem aquelas disputas, “ah, meu município não está assim”, “meu estado não tem esse índice de severidade”. Você tem um produto que resolve alguns conflitos. O grande sonho é que esse produto possa ser efetivamente utilizado. Mas é claro que precisará de um tempo de maturação para como usá-lo. Para eventualmente você ter uma decretação de emergência com base no nosso Monitor de Secas. Esse é um sonho, espero que um dia a gente possa chegar a isso.

OP – Você imaginava, quando criança, que iria trabalhar com seca e chuva?
Eduardo – Não. Mas quando entrei na universidade sabia que iria trabalhar com água.

OP – Veio de qual curso?
Eduardo – Engenharia Civil, aqui na UFC. Mestrado e doutorado em Recursos Hídricos.

OP – Você não é meteorologista de formação?
Eduardo – Não. Acho isso interessante porque coloca a aplicação como fim. A gente tem preocupação de gerar a informação, ok, mas o que eu faço com ela? Acho até que temos que chegar mais além, ao usuário global. É tanto que uma das demandas que tenho pro concurso é poder botar gente de comunicação. Pra trabalhar com a sociedade, talvez com tipologias diferentes de produtos de comunicação, pra diferentes usuários, agricultura, mídia em geral. Ter produtos formatados para o público em geral.

OP – A área de meteorologia é deslocada da indicação política, diferentemente de quase toda área de governo?
Eduardo – Vou falar da minha experiência como presidente da Funceme. Nunca sofri pressão política para mudar previsão, por exemplo. Se isso foi feito por alguém, foi por visão de mundo de alguém no momento. Até mesmo momentos críticos a gente tem alertado, sobre preocupações futuras de mais longo prazo, embora não seja previsão. Com o El Niño é uma preocupação, não estou colocando como uma previsão. Porque acho que o cenário pode mudar também, mas não é isso que está sendo indicado. É uma preocupação que precisamos colocar pra todo mundo. Não dá pra gente, diante do quadro que temos de reservas hídricas, se calar diante de uma informação dessas.

OP – A Funceme tem um setor que trabalha com desertificação. Entrando para o quinto ano de seca, qual é o grau de influência que vamos ter na desertificação?
Eduardo – Uma das forçantes da desertificação é o clima. Essa relação entre o que chove e o que transpira, força a desertificação. Quando o clima é muito árido ou semiárido, isso favorece o processo de desertificação. É claro que existem as forçantes antrópicas. O uso intensivo de uma terra já frágil acelera o processo. Sobre desertificação, estamos fazendo algumas ações, projeto pequeno, de recuperação da área do Brum, no Jaguaribe. A gente está aplicando uma série de técnicas, tentando fazer obras de contenção de sedimentos. A ideia é ver a efetividade dessas técnicas naquela região, bem degradada. O projeto tem um ano e meio e a gente já vê alguns resultados, apesar das chuvas que não foram tão bondosas naquela região.

OP – Tem regiões que já não têm mais recuperação, como Irauçuba, por exemplo.
Eduardo – Ali é a combinação de uma área que foi muito antropizada e ao mesmo tempo o clima, que é muito severo. Precisaria de uma ação mais intensa para poder conter a erosão, que é marcante. Em algumas áreas, simplesmente um repouso já seria uma medida aconselhável. Estamos iniciando um diálogo com a Secretaria de Meio Ambiente (Sema), para ver como a Funceme e a Secretaria podem colaborar mais nessas áreas. Não só diagnóstico. Esse olhar só monitorando durante algum tempo serviu a um propósito. A gente tem que começar a ter ações mais proativas na recuperação dessas áreas.

Fonte: O Povo

Zeudir Queiroz