Vidente Maria Raio X contou da vida, da morte e da salvação na trilogia de reportagens Santificados, do O POVO
“A morte não é desgraça, é o destino”, entendia a vidente Maria do Carmo Alves da Silva, conhecida como Maria Raio X. Sendo assim, a vida se convertia em um caminho para a salvação. Estrada que ela percorreu por 83 anos, até chegar ao destino, no último dia 4. Foi em paz: “Converso com o povo do outro mundo. Falo com os 12 apóstolos, com Jesus”, era sua missão.
Maria Raio X morava com as visões e os gatos no sobrado de número 397, na rua de Todos os Santos, em Juazeiro do Norte (493,4 quilômetros de Fortaleza). O POVO conversou com a vidente durante as andanças pelos altares dos sertões, na elaboração da trilogia de reportagens especiais Santificados (publicada entre abril e junho de 2011).
Filha da pobreza, retirante do interior de Pernambuco, tinha uma visão ampliada. Contava ver as entranhas do corpo e da terra, as doenças e “os retrocessos” (terremotos). “O corpo se abre, e a gente vê”, afirmava o dom de enxergar além. Maria Raio X era procurada por toda gente, de médicos a padres, de comuns e cientistas, porque previa quando alguém “vai deslocar-se da matéria” e quando o mundo ia acabar.
Tsunami no Ceará
Uma de suas previsões anunciou que a Capital ia virar mar. “Ele (Jesus) já veio falar”, alertava, em 2011: um retrocesso marítimo provocaria uma revoada de pedras das profundezas do oceano em 2013. Então, Maria Raio X, vestida de azul e rosário, viajou até a praia de Iracema, falou com Deus, Nossa Senhora e as pedras e tudo ficou no lugar.
De menina, Maria Raio X afirma que convivia com a corte celeste. Do quintal, avistava quando manufaturavam chuva. Cantava com os anjos às 6 horas da noite. Chegou a quase morrer de uma infecção pulmonar, mas Jesus lhe visitou ao meio-dia e disse que levantasse da cama de varas e folha de bananeira: “Meu Pai me deu minha vida quando eu era morta. Não casou para ser medianeira entre terra e céu. Não estudou, mas deixou letrados sobrinhos e empregadas. Foi denunciada pelo Conselho Regional de Medicina e judiada pela fome.
Assim contando da vida, pode-se imaginar a morte: a Mãe das Dores deve ter vindo buscá-la pela mão, e o quarto da Clínica São José – onde estava internada desde o dia 20 de abril, após uma queda dentro de casa – deve ter se alumiado que nem no dia que Maria do Carmo nasceu (um dia de Candeias).
Fonte: O Povo
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