Um dia após a morte de uma idosa, vítima de Covid-19, a movimentação nas ruas da comunidade do Lagamar segue aparente normalidade nesta semana, de acordo com moradores do local.
“Nem isso serviu para que a população ficasse mais alerta, pois todos estão nas ruas tranquilamente e interagindo uns com os outros sem proteção alguma – inclusive no quarteirão onde a senhora infectada morava e faleceu há pouco. A impressão é a de que as pessoas vêem as notícias na TV mas não as compreendem totalmente”, lamenta Emanuel Costa, integrante do grupo Jovens em Busca de Deus, atuante no local.
Para Emanuel, uma alternativa à desinformação em relação à pandemia, não só na comunidade onde mora, mas em outras regiões periféricas de Fortaleza, seria a mobilização de pessoas-chave com atuação local e que usufruíssem da confiança dos moradores, tais como líderes comunitários, figuras tradicionais com perfil de liderança e até mesmo artistas, de forma que elas pudessem passar a mensagem de alerta de uma maneira fácil de compreender.
“Talvez essa fosse uma maneira de convencer a população de que a pandemia é real e está matando muita gente de verdade, não é só questão de números. Parece que há uma resistência em acreditar que, sem precauções, um simples vírus pode levar muita gente querida embora. Distribuir cestas básicas é importante, sim, mas é preciso que o poder público também dê a chance dessas pessoas se protegerem dessa infecção”, acrescenta.
Adriana Gerônimo, também moradora da comunidade do Lagamar, tem estado em contato direto com moradores todos os dias, seja participando de visitas domiciliares ou auxiliando famílias a obter doações de mantimentos. O trabalho voluntário é feito juntamente com agentes comunitários e equipes de Saúde da Família. Segundo Adriana, um dos obstáculos para o sucesso do distanciamento social na comunidade e a desaceleração da Covid-19 seriam as condições precárias nas quais muitas pessoas vivem.
“As famílias são grandes. São 7,8, às vezes até 10 pessoas vivendo em uma casa de dois cômodos. Se alguém pega a doença, é certeza que ela vai passar para o restante da família, ainda mais porque em muitos casos, não há sequer saneamento nas ruas e banheiros nas casas, quanto mais água, sabão e máscaras à disposição”, aponta.
“A vida na periferia não é fácil, e ainda tem o problema de que as pessoas lá estão subestimando a realidade. E não passa sequer um único carro de som para fazer o alerta de que a doença mata e quais as formas de evitar a transmissão. Se nada for feito até lá, a pandemia vai deixar um rastro de destruição no Lagamar e vamos ver um verdadeiro massacre”, desabafa.
A comunidade do Lagamar, localizada no encontro do riacho Tauape com o rio Cocó, está inserida entre os bairros da Aerolândia, São João do Tauape, Pio XII e Alto da Balança. É uma das mais antigas ocupações da cidade de Fortaleza e possui alto adensamento populacional. (Flávia Oliveira)
Fonte: O Povo Online
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