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Ministério Público abre inquérito para apurar denúncias sobre o Hospital do PV

Um inquérito civil público vai apurar o que de fato está acontecendo no interior do Hospital de Campanha instalado no estádio Presidente Vargas (PV). Inaugurado há 12 dias, em Fortaleza, a unidade é destinada a pacientes infectados pelo novo coronavírus. A promotora Ana Cláudia Uchôa, da 137ª Promotoria de Justiça que atua na defesa da saúde pública, vai intimar a Secretaria de Saúde do Município para que responda em cinco dias a uma série de denúncias feitas por médicos e outros profissionais de saúde.

Por conta da suposta gravidade das queixas feitas formalmente por médicos, o Conselho Regional de Medicina do Ceará (Cremec) determinou uma fiscalização no Hospital do PV. Durante três horas, na tarde de ontem, 29, o médico Roberto da Justa inspecionou o que foi indicado como problemático.

O relatório é sigiloso. O que posso adiantar é que há alguns problemas graves e outros que são comuns à natureza de um hospital de campanha“, informou ao O POVO.

Na manhã de hoje, Roberto da Justa enviará uma cópia do relatório da fiscalização à promotora de Justiça Ana Cláudia Uchôa e à secretária da Saúde de Fortaleza, Joana Maciel. “O nosso objetivo é elevar o nível de assistência e esperamos que a gestão solucione o que não está em conformidade”, disse.

A pedido da promotora Ana Cláudia Uchôa, o Conselho Regional de Enfermagem do Ceará (Coren-CE) também fiscalizará o Hospital do PV. As denúncias, feitas na última terça-feira, vão desde a falta de condições de trabalho para quem está na linha de frente da lida com a Covid-19 à falta de monitores para acompanhar a evolução dos infectados. Na ala D, recém-inaugurada, teriam dois para 21 pacientes, segundo os médicos.

Uma médica, que pediu para não ser identificada, afirma reconhecer a natureza de um hospital de campanha. “Numa situação de emergência, como a que vivemos, há um nível de improvisos e pendências. Mas no Presidente Vargas é preciso, primeiro, uma organização administrativa para que os processos de trabalho favoreçam o atendimento de quem precisa e preserve a saúde física e mental dos profissionais”, reivindica.

A médica explica que não há, por exemplo, um desenho do fluxo e os responsáveis em cada plantão pelos médicos diaristas, plantonistas, enfermeiras, técnicos, fisioterapeutas e assistentes sociais. “Isso embarreira a capacidade de resolução dos problemas que estão acontecendo a todo instante. Não quero responder por morte ou contaminação de alguém porque não termos nem Ouvidoria nem respostas para o que precisamos no dia a dia”, reclama.

Com duas alas abertas, de um total de 4, a médica diz que não era “para faltar nada” para os atendimentos. “Falta bomba de infusão contínua de medicação. É fundamental para manter pacientes sedados e a pressão arterial, para mantê-los vivos”.

Muitos doentes, explica ela, ficam “com medicações como noradrenalina, midazolam e fentanil em soro por gotejamento. Não se consegue ter controle preciso de quanto entra por esse método. É incompatível. Por exemplo, a pressão dos pacientes que atendi oscilavam de 230 x 110 a 60x 20. Com esses níveis, você pode ter dano irreversível, morte cerebral, infarto e morte”.

De acordo com a médica, a Secretaria Municipal da Saúde comprou “uma bomba de infusão, mas não comprou o equipo dela (algo mais caro) e colocou o equipo de soro simples. Qualquer pessoa da saúde sabe que a bomba não roda. Ela trava e a medicação para. A pressão despenca, o paciente acorda intubado (e isso dói muito) e pode provocar a morte”.

Ao MP, ao Cremec e ao Coren, os médicos relataram um rosário de problemas. Até perda de prontuário, que impediu a alta de um paciente, obrigado-o a ficar mais 24 horas internado. E o caso de uma senhora, também de alta, que fugiu porque não localizavam a documentação para autorizar a saída.

O POVO enviou perguntas para a assessoria de imprensa da Prefeitura de Fortaleza e manteve contato telefônico, mas até o fechamento desta edição não teve retorno oficial.

Fonte: https://mais.opovo.com.br/

Zeudir Queiroz