A estiagem dos dois últimos anos, atípica especialmente para a região Sul, é a grande vilã apontada, pelo governo federal, quando o assunto é a crise energética que está na iminência de deixar parte do País às escuras – rendendo, inclusive, apelos à São Pedro para reverter a situação. O planejamento equivocado, ou mesmo a falta dele, para o uso das matrizes energéticas brasileiras, entretanto, é o erro mais grave que os especialistas no setor energético elegeram como causa desse cenário, aliado a um quadro que parece ter se institucionalizado no Brasil: o atraso de obras de infraestrutura.
Prova disso é a análise dos dados dos relatórios de Acompanhamento da Expansão da Oferta de Energia Elétrica, publicados mensalmente pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). No levantamento de janeiro, se forem consideradas as obras de usinas hidrelétricas, Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs), usinas termelétricas e parques eólicos que deveriam ter sido entregues até o mês passado, o País já deveria ter 9.611,1 MW em capacidade instalada, quantidade seria suficiente para tirar o Brasil da situação de crise elétrica atual.
Prevenção
“Esses megawatts teriam evitado a crise energética. Em geral, os sistemas, quando funcionam, deveriam ter 5% de folga. O sistema elétrico do Brasil é de aproximadamente 130 mil MW, 5% disso é seis mil e pouco. Esses nove mil megawatts seriam uma folga boa, comparados com os seis mil necessários”, afirma, categoricamente, o professor da Universidade de São Paulo (USP) e ex-presidente da Companhia Energética de São Paulo (Cesp), José Goldemberg.
Considerando as obras que deveriam ficar prontas ao longo de todo este ano, mas que já tiveram a entrega adiada para 2016, ou mesmo para depois, são mais 4.142 MW que poderiam estar no sistema elétrico nacional até o fim de 2015, mas devem demorar fornecer eletricidade. A crise atual, explica o professor, está ocorrendo porque o consumo está maior do que a produção.
Goldemberg acrescenta, ainda, que uma estimativa publicada recentemente previa que, se a crise energética persistir, deve afetar o Produto Interno Bruto (PIB) em mais de 1%.
“Esse atraso é mais do que planejamento, é execução. É preciso mão firme para conduzir a execução dessas obras. Grande parte delas é obra do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e o governo deve pressionar essas empresas”, enfatiza.
Prever é necessário
O engenheiro Roberto D’Araújo, diretor do Instituto Ilumina, também levanta a questão do planejamento, que não é feito pelo Operador Nacional do Sistema (ONS): “quando o ONS faz um levantamento de geração disponível, ele faz para quatro anos seguidos. Então, falta agilidade para ele enxergar o atraso e não liberar as águas das barragens, garantindo a capacidade de geração da usina”.
Armando de Oliveira Lima/Jéssica Colaço
Repórteres
Fonte: Diário do Nordeste
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