Apesar dos cursos profissionalizantes, problemas ligados à mobilidade e à educação básica são obstáculos
As diversas discussões em torno da chegada de grandes empreendimentos e da formação de polos industriais no Ceará redundam em um consenso sobre o qual poder público e iniciativa privada há anos se debruçam em busca de soluções. A falta de qualificação dos profissionais do Estado é hoje o maior entrave para que as oportunidades prometidas através da atração de investimentos sejam aproveitadas de fato pela população que anseia mais qualidade de vida.
Profissões que antes não exigiam muito, hoje demandam maior qualificação Foto: Rodrigo carvalho
Embora tenha representando um passo em direção à superação desse obstáculo, a criação de novas vagas em cursos de ensino profissionalizante, nos últimos anos, não foi capaz de se sobrepôr a uma série de deficiências que permanecem no caminho para a inserção dos trabalhadores cearenses no mercado crescente da indústria.
Mudança de cenário
Hoje a área mais atrativa para quem busca uma oportunidade de trabalho no setor, o entorno do Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Cipp) reúne gargalos cuja solução não se resume a ações pontuais voltadas exclusivamente para a formação de um profissional mais capacitado. Em cidades até poucas décadas atrás caracterizadas pela participação significativa de atividades agrícolas na economia, problemas históricos ligados à educação e à infraestrutura deficientes hoje ganham uma dimensão maior e mais ameaçadora, impossibilitando milhares de pessoas de alcançar portas que a elas permanecem abertas e, ao mesmo tempo, inatingíveis.
Caminho inverso
Se, entre a metade e o final do século passado, crianças e adolescentes abandonavam a escola para ajudar os pais na agricultura ou em áreas que também não exigiam educação básica, centenas de adultos que deixaram o ensino fundamental na infância hoje tentam retornar às salas de aula como forma de aprender o necessário para trabalhar com carteira assinada.
Nessa tentativa, enfrentam problemas que variam desde a impossibilidade de acompanhar os estudos à dificuldade de chegar às unidades onde são ofertadas as aulas ou mesmo às companhias que querem lhe empregar.
Ao mesmo tempo em que o analfabetismo funcional e a rede de transporte insuficiente aparecem como desafios para o poder público e para a população, as empresas instaladas na área do complexo tornam-se cada vez mais exigentes, diante de um mercado mais competitivo.
Profissões para as quais, anos atrás, não era exigido mais do que o ensino fundamental, hoje demandam maior qualificação, sobretudo devido à chegada de empresas estrangeiras, que privilegiam profissionais que tenham noções de inglês ou espanhol. Nesse contexto, a corrida contra o tempo para capacitar o trabalhador torna-se também a luta para alterar a dinâmica de cidades que passam por uma transformação rápida e desigual.
OPINIÃO DO ESPECIALISTA
Importar mão de obra será inevitável
Alcântara Macêdo
Consultor
o Ceará tem atualmente a perspectiva de formar dois polos industriais, sendo um deles metalmecânico e o outro, petroquímico. Esse primeiro polo já está se tornando uma realidade, com a construção da Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP), o que pode implicar, por exemplo na atração de uma montadora. Já o polo petroquímico depende da refinaria Premium II.
Hoje, já há uma importação expressiva de mão de obra, por conta da qualificação deficiente dos trabalhadores daqui. Infelizmente, isso deve aumentar no próximo ano. Se tivesse sido investido mais na qualificação e na educação básica, não teríamos esse cenário, de pessoas mendigando e outras vindo de outros países para trabalhar aqui. É preciso ter uma forte atenção para isso.
Outra coisa necessária é aproximar mais a universidade do setor produtivo, já que, muitas vezes, se investe na produção de um conteúdo que está distante das demandas do mercado. Enfim, são muitos os desafios, mas tenho esperança de que vamos conseguir aproveitar as oportunidades, porque esse cenário que está aí já é fruto do trabalho dos cearenses.
JOÃO MOURA
REPÓRTER
Fonte Diário do Nordeste
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