Pedro Ícaro foi denunciado de uma série de abusos físicos e psicológicos contra membros de uma seita espiritual. O G1 não localizou a defesa do guru.
Uma operação do Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE) prendeu preventivamente, na manhã desta terça-feira (29), o guru Pedro Ícaro de Medeiros, conhecido como Ikky, acusado de cometer uma série de abusos físicos e crimes sexuais durante reuniões de uma seita espiritual. A prisão preventiva ocorreu em decorrência da prática de crimes contra duas adolescentes, porém ele foi denunciado por outros jovens que frequentavam a Comunidade Afago.
À época das denúncias, Ícaro disse que no começo deste ano registrou Boletim de Ocorrência alegando ser vítima de calúnia e difamação por parte de pessoas que deixaram a comunidade. Ele negou as acusações de estupro. Segundo o guru, houve relações sexuais com alguns homens, mas elas eram consentidas.
Até as 9h50 desta terça-feira, o G1 não havia localizado a defesa de Pedro Ícaro para comentar sobre a prisão.
A operação, nomeada de “Erasta”, também cumpriu nesta terça ordens de busca e apreensão em três endereços na capital cearense contra o guru. Os mandados foram expedidos pela 12ª Vara Criminal de Fortaleza. Conforme o MPCE, foram apreendidos aparelhos celulares e computadores.
Os crimes cometidos contra dois adolescentes por Ikky foram investigados pelo Núcleo de Investigação Criminal e contou com a colaboração do Núcleo de Atendimento às Vítimas de Violência (NUAVV). As investigações iniciaram com a hashtag #exposedfortal, que denunciava crimes sexuais cometidos por suspeitos no Ceará. Após a hashtag, o Ministério Público lançou duas campanhas convocando as vítimas de crimes sexuais no estado.
Em seguida, duas vítimas denunciaram Pedro Ícaro de Medeiros como autor de crimes sexuais em desfavor delas.
O guru ficou nacionalmente conhecido ao ser denunciado por uma série de abusos físicos, sexuais e psicológicos a membros da comunidade. O caso foi revelado pelo Fantástico, na edição de 19 de julho. (Veja na reportagem abaixo)
Segundo o coordenador do Núcleo de Investigação Criminal do MPCE, Humberto Ibiapina, os crimes investigados nesse inquérito foram o início da prática criminosa de Ícaro, antes do desenvolvimento do suspeito na Comunidade Afago. Ibiapina afirmou que o guru conheceu as se aproximou das vítimas prometendo que teria a ‘salvação’.
“Essas duas vítimas são, talvez, as primeiras vítimas do modo de agir do Ícaro. Se aproximava de pessoas carentes, pessoas com problemas pessoais, que sentiam essa carência de uma pessoa que conversasse, interagisse, e, a partir daí, ele fazia essa aproximação”, explica o coordenador.
O coordenador afirmou que a prisão ocorreu por volta de 5h30 e que o estudante não resistiu. “Embora ele não tenha recebido, aberto a porta, a gente conseguiu entrar. Ele só pediu que nós explicássemos o que estava acontecendo. Foi mostrada a ordem judicial, e, a partir, daí ele ficou tranquilo”, relatou Ibiapina.
Comunidade Afago
As denúncias de vítimas da Comunidade Afago estão sendo investigadas em um outro inquérito, instaurado no 26° Distrito Policial. Nesse caso, Ikky é acusado por violação sexual mediante fraude, crime sexual para controlar o comportamento social ou sexual da vítima, charlatanismo e curandeirismo.
A Justiça do Ceará aceitou a denúncia do Ministério Público (MPCE) e tornou o guru espiritual réu em 24 de julho, uma semana após o caso ser revelado. Na época, o juiz recusou o pedido de prisão preventiva de Ícaro.
As vítimas começaram a prestar depoimentos no 26° Distrito Policial em 16 de julho. Conforme a jurista Thayná Silveira, que encaminhou as denúncias ao Ministério Público e acompanha o caso, pelo menos 50 jovens afirmam terem sofrido algum tipo de crime cometido por Pedro Ícaro.
Em entrevista ao Fantástico, as vítimas afirmaram que Pedro Ícaro se apresentava como mestre espiritual da Comunidade Afago e usava se sua posição para cometer os crimes. Os abusos e agressões ocorreram entre 2018 e 2019.
Um jovem que optou por não ter seu nome divulgado contou que o suspeito o obrigou a ter relações sexuais com ele: “Eu estava chorando, sangrando e eu esperava dele um pouco de humanidade. O que ele fez foi tirar minha blusa e colocar minha blusa na minha boca para que parasse de chorar e ele pudesse continuar”.
Já uma mulher, também de identidade preservada, comentou os impactos negativos em sua saúde mental após as vivências no lugar. “Eu entrei na Afago já num momento frágil psicologicamente. E fui ficando cada vez mais frágil e culminou numa crise de depressão muito intensa”, lamentou.
O estudante também é investigado por estelionato. Ele ofereceria cursos e consultas de terapia tântrica. O guru alegava que havia recebido formação do Prem Hamido, que tem uma clínica de terapia corporal em Fortaleza. Porém, o terapeuta desmentiu Ícaro durante entrevista ao Fantástico.
Conforme Pamela Magalhães, membro da Afago, Ikky ofereceria cursos para a comunidade e, a cada semestre, os valores das aulas aumentavam. “Tanto que quando eu entrei era R$ 50 e quando eu saí um determinado curso já era R$ 1500”, afirmou.
Rituais
Os jovens também relataram a prática de rituais violentos dentro da comunidade. Para subir de hierarquia, haviam provas violentas e troca de tapas.
Outro ritual era o “ovo luminoso”. Em um círculo mais restrito cinco homens e duas mulheres são convocados para participar. Eles devem obedecer as ordens do estudante. “Para as meninas, ele só pedia o sangue menstrual. Mas pros rapazes, ele dizia que para participar do ovo luminoso, tinha que ter dez sessões de sexo com ele”, detalhou uma das vítimas.
O resultado era um só: “As pessoas ficavam muito tontas. Choravam. Eu sempre chorava”, revelou uma vítima. A justificativa para a sequência dolorosa chamava a atenção. “Ele falava que era pro nosso crescimento pessoal e espiritual”.
Fonte: G1 – CE
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