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Fraude Milionária em empréstimos da Caixa Econômica utilizou pessoas de baixa renda

Carros de luxo, como uma Maserati com valor estimado em R$ 1,2 milhão de reais, foram apreendidos nas garagens dos empresários investigados ÉRIKA FONSECA
Carros de luxo, como uma Maserati com valor estimado em R$ 1,2 milhão de reais, foram apreendidos nas garagens dos empresários investigados
ÉRIKA FONSECA

Antônio fazia entrega de documentos. Convites de aniversário, mensagens, bolos. Às vezes, buscava uma senhora idosa na igreja. Em uma manhã diferente de todas as outras, vê seu nome envolvido em investigação da Polícia Federal (PF) e tem de dar explicações sobre movimentação milionária de uma empresa em seu nome.

O homem, assim como outras 12 pessoas, figura como ‘laranja’ no esquema desmontado pela Operação Fidúcia, deflagrada pela Polícia Federal em 24 de março. Como a maioria dos que tiveram seus nomes envolvidos, afirmou não ter o menor conhecimento da empresa citada.

Na Operação, são investigados desvios de R$ 20 milhões a R$ 100 milhões em empréstimos junto à Caixa Econômica Federal (CEF) em um período de aproximadamente um ano e meio. 56 mandados judiciais foram expedidos pela 32ª Vara da Justiça Federal.

Conforme as investigações, os estelionatários abriram empresas fantasma de construção civil em nomes de terceiros, usados como ‘laranjas’. Em seguida, solicitavam à Caixa empréstimos e financiamentos bancários, com documentos falsos.

O processo de concessão dos benefícios era manipulado pelo grupo, que aliciou servidores da própria Caixa, de acordo com a PF. Os funcionários da instituição bancária então concediam os pedidos. Segundo a PF, as empresas não executaram serviço nenhum, servindo apenas para obtenção dos empréstimos.

José é pedreiro. Trabalha também como pintor e eletricista. Conforme as investigações, é sócio, junto com o filho, em uma empresa que tomou mais de R$ 3 milhões em empréstimos. Ele alega que foi convidado por um cliente a abrir uma empresa para prestar serviço, mas que não tinha ideia do que de fato estava acontecendo, nem do montante que o CNPJ em seu nome estava movimentando.

Confiança

Antônia trabalha desde 1998 para a família de um dos investigados que está preso. Ganhando dois salários mínimos, ela não tem carteira de trabalho assinada. Contudo, o nome da mulher compõe o quadro societário de uma das empresas investigadas. Ela era sócia do próprio patrão.

A mulher, por sua vez, admitiu ter conhecimento da existência do contrato, e que assinou os documentos necessários sempre sem questionar. Cartões dos bancos e movimentações ficavam à cargo do patrão, que movimentava mais de 33 milhões em empréstimos feitos junto à Caixa. Disso, Antônia diz que não sabia.

Machado também diz que confiou na pessoa errada. Amigo de um primo dos chefes da quadrilha, o mecânico disse que assinou uma papelada com a promessa de que receberia direitos trabalhistas que estavam atrasados. No entanto, uma empresa foi aberta no nome do mecânico e movimentou também alguns milhões de reais.

Josué, que é eletricista, diz que depende de benefícios sociais do Governo Federal para manter a casa onde mora. Diz também que há dois anos uma pessoa que não se recorda quem, o convenceu a assinar alguns papéis. Ali era aberta uma empresa de importação de produtos de informática no nome do homem. Também foi descoberta pela PF como envolvida em fraudes junto à Caixa.

Maria está atônita. A dona de casa alega que fabrica tapiocas e as vende, gerando uma renda mensal de R$ 500. Mal sabe escrever o próprio nome, quiçá ler as linhas do contrato social da empresa que comercializava máquinas e equipamentos. A empresa foi aberta no nome de Maria, com um sócio que ela não faz ideia de quem seja.

A mulher não reconhece a assinatura no papel. Parece, mas não é a dela. Ela não sabe como seu nome, até então limpo, teria ido parar ali.

Iacira também disse não entender o que está acontecendo em sua vida. A diarista, que afirma receber R$ 250 por mês prestando serviços em casas de família, é citada como empresária do ramo de comércio de computadores. Ao ver os documentos apresentados em que constavam seu nome, não reconheceu as assinaturas.

Todos os 13 ‘laranjas’ apontados pela Polícia Federal estão em liberdade. A participação e o conhecimento deles da prática dos crimes ainda estão sendo investigados pela PF.

Justiça

Na última sexta-feira (24), o Ministério Público Federal (MPF) ofereceu denúncia contra quatro homens, apontados pela Polícia Federal como os principais articuladores do esquema.

Os empresários Ricardo Alves Carneiro, 43; Diego Pinheiro Carneiro, 27; José Hybernon Cysne Neto, 56; e o ex-gerente de Pessoa Jurídica da Caixa Econômica Federal (CEF), Israel Batista Ribeiro Júnior, 43, estão presos preventivamente e foram denunciados pelo procurador regional da república, Geraldo Assunção Tavares.

“O fato de não constar desta denúncia outros indiciados não significa que o Ministério Público Federal esteja requerendo o arquivamento tácito do presente apuratório em seu favor, apenas entendemos por bem denunciar nesta ocasião os acusados que já estão presos preventivamente”, relatou o MPF.

Interpol será acionada para capturar foragido

Um dos homens investigados pela Polícia Federal (PF) nas fraudes milionárias junto à Caixa, o empresário Fernando Hélio Alves Carneiro, ainda não foi localizado pelos investigadores.

Segundo a PF, ele estaria foragido nos Estados Unidos. Por este motivo, será pedido o apoio da Interpol para auxiliar na localização do suspeito. O nome de Fernando será incluído no sistema de Difusão Vermelha, visando o cumprimento de seu mandado de prisão.

Memoriais

Os advogados Leandro Vasques e Holanda Segundo apresentaram requerimentos ao procurador regional da República, Geraldo Assunção Tavares, tentando demover o Ministério Público Federal de oferecer denúncia contra todos os que foram presos na deflagração da Operação Fidúcia, em 24 de março.

Os memoriais protocolados foram em nome do gerente geral da agência da CEF situada na Avenida Dom Luiz, Jaime Dias Frota Filho; e o superintendente Nacional da Caixa para o Nordeste, Odilon Pires Soares.

De acordo com Vasques, os dois teriam tido atuação diferente dos outros servidores da Caixa Econômica. Jaime, conforme o advogado, teria sido, inclusive, o principal denunciador do esquema dentro do banco. A defesa diz que e-mails pediam o afastamento do então gerente Israel Batista Ribeiro Júnior.

“A denúncia se limitou a reproduzir o mesmo enquadramento penal trazido pelo relatório da autoridade policial. Consideramos que o relatório possui certos exageros. Durante a instrução iremos demonstrar a regularidade de todos os negócios feitos”, disse Vasques.

Levi de Freitas
Repórter

Fonte: Diário do Nordeste

Zeudir Queiroz