Publicação alerta para possível “explosão” de crimes de exploração sexual durante a Copa de 2014
Fortaleza, uma das cidades-sede da Copa do Mundo de 2014, ganhou destaque na última segunda-feira (9) no jornal britânico The Guardian. Porém, o motivo nada tinha a ver com futebol ou as praias que encantam os turistas pela sua beleza peculiar. Após descrever uma adolescente na Avenida Juscelino Kubitschek, próximo à Arena Castelão, a publicação chama atenção para o fato de Fortaleza ser considerada a capital brasileira da exploração sexual de crianças e adolescentes. “É um imã para o turismo sexual”, enfatiza a matéria.
Na cidade de Fortaleza, só existe uma delegacia especializada em investigar crimes contra crianças e adolescentes. No Interior do Estado, apesar do aumento do número de casos, não há nenhuma FOTO: JULIANA VASQUEZ
O texto cita que travestis são vistas nas esquinas da via recém-recuperada. Contudo, a procura maior é pelas adolescentes. Com a proximidade da Copa, a preocupação é que haja uma “explosão” da exploração sexual, com pessoas migrando do Interior para as grandes cidades para “atender à demanda dos fãs de futebol local e estrangeiros”. A publicação destaca que 100 mil adolescentes encontravam-se nessa situação, em 2001, no País, saltando para meio milhão em 2012.
Outra defasagem é em relação aos equipamentos disponibilizados pelo Estado para crianças e adolescentes vítimas de violência sexual.
Talita Maciel, advogada do Centro de Defesa da Criança e do Adolescente (Cedeca), denuncia que o Ceará está muito aquém do necessário para fazer frente a esta realidade. “A gente percebe que há uma subnotificação dos casos de exploração sexual, porque ainda existe uma cultura de que as meninas que estão sendo violentadas não são vítimas”, explica.
Campanha
Para reverter essa situação, a advogada frisa que é preciso fazer uma ampla campanha de divulgação contra o crime, tão presente em Fortaleza e que tem se acentuado nas rodovias federais. Para agravar a situação, Talita denuncia que só existe uma delegacia especializada em crimes contra crianças e adolescentes na Capital. Já o Interior, apesar do aumento do número de casos, não há nenhuma.
“Em vez de haver um maior investimento nessa área, nós estamos diminuindo a possibilidade de investigação. Prova disso é que a Delegacia de Combate à Exploração de Crianças e Adolescentes (Dececa) – a única do Estado -, reduziu o número de profissionais. Eram quatro delegadas, mas agora só tem uma”, diz. Além disso, não tem plantão na delegacia. Os crimes cometidos durante a madrugada ou nos fins de semana são encaminhados à Delegacia da Mulher.
“É preciso pensar a política de turismo de forma que não traga esse dano, que é muito grande para a sociedade. Esse custo-benefício – de ter as nossas meninas expostas a esse turismo que não é sadio -, a gente não quer ter. Fortaleza é conhecida internacionalmente pelo turismo sexual, e o governo não está preocupado em mudar essa realidade. Pelo contrário, só pensa no lucro que os esses megaeventos esportivos podem trazer”, diz.
Em nota, a Secretaria de Cidadania e Direitos Humanos de Fortaleza informa que a Prefeitura mantém quatro espaços para abrigamentos de crianças e adolescentes em situação de risco de violência: Casa dos Meninos, Casa das Meninas, Espaço Temporário de Acolhimento e Espaço Aquarela. Informa, ainda, que a secretaria vem trabalhando desde o início do ano com ações voltadas para a Copa das Confederações e a Copa do Mundo.
Sobre a investigação dos casos, a reportagem tentou contactar a Polícia Civil, mas os celulares da assessoria de imprensa estavam desligados.
LUANA LIMA
REPÓRTER
Mais informações:
Para denunciar casos de violência sexual contra crianças e adolescentes, basta ligar para o Disque 100 – Central de Atendimento da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência
Fonte: Diário do Nordeste
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