Depois que Ronald Taveira, o homem que ficou conhecido pelo vídeo em que efetuava disparos em via pública, ganhou repercussão nas redes sociais e provocou uma série de comentários sobre a prática de crimes na internet, a reportagem do Diário do Nordesteonline passou a apurar uma sequência de casos de pessoas e grupos que não usaram a prisão do empresário cearense como exemplo. Eles continuam incitando a violência na web, publicando fotos de armas e fazendo apologia ao crime na internet por meio das redes sociais.
No primeiro levantamento encontramos alguns perfis que apresentavam o nome dos próprios usuários. No entanto, os que reúnem maior número de situações de incitação ao crime são espécies de fanpages das facções criminosas de Fortaleza. Esses perfis são utilizados por membros das facções para ameaçar e publicar fotos de inimigos que foram mortos, com o objetivo de intimidar os grupos rivais. É o exemplo da Facção do Alecrim, Babilônia e Piçarreira Facção Criminosa (PFC).
Em uma das publicações, o grupo da facção do Alecrim, comunidade localizada no Conjunto Alvorada, em Fortaleza, faz apologia ao crime contra os policiais do Batalhão de Policiamento de Rondas Intensivas e Ostensivas (BPRaio), afirmando que os policiais merecem morrer. O grupo também utiliza o perfil do Facebook para avisar quando a Polícia Militar entra na comunidade. Na publicação do dia 12 de janeiro deste ano: “Sujou raio de novo (SIC)”. Já uma publicação do grupo denominado “Fronteira GDF”, nas proximidades do Conjunto Palmeiras, mostrava a foto de uma criança, com ameaças de morte e afirmando que o menino levaria “tiro na cara de pistolas calibre .40 e 380”. Muitos inimigos de fações criminosas opostas comentavam na postagem afirmando que o menino trabalhava como catador de lixo e era um inocente.
Armamento
Várias fotos com armas foram encontradas no levantamento feito pela reportagem web do Diário do Nordeste, entre elas, pistolas calibre .40 e revólveres 38. Também existem publicações com munições, drogas e, na maioria dos perfis, a presença do símbolo do palhaço, que significa “matador de policiais”, entre os grupos criminosos. A imagem também é exibida em forma de tatuagem, desafiando a Polícia do Estado do Ceará.
Gangues da Lagoa Seca e Piçarreira exibem fotos de homicídios realizados nas áreas rivais e desdenham das vítimas que morreram na guerra da disputa pelo tráfico. Uma terceira publicação, realizada pelos grupos da “Lagoa Seca”, comunidade localizada no bairro Sapiranga, faz referência aos crimes em que executam seus inimigos e arrancam a orelha das vítimas.
Em outra situação, os bandidos utilizam fotos divulgadas na imprensa, como as de um duplo assassinato que ocorreu em setembro de 2013, dentro de uma loja de piscinas na Avenida Washington Soares.
No caso, dois primos foram assassinados e uma terceira pessoa foi baleada por um grupo de homens armados que fugiram em um automóvel Siena preto. As comunidades do Alecrim, no bairro Conjunto Alvorada, Piçarreira, no Conjunto Palmeiras, Babilônia, no Barroso e Lagoa Seca, na Sapiranga, estão em constantes conflitos.
No dia 2 de janeiro deste ano, uma chacina deixou quatro mortos em um conjunto de apartamentos na comunidade da Babilônia. Na ação, um grupo de cinco homens invadiu um dos blocos e efetuou os disparos.
A rede social Facebook, que para muitos, é uma mídia de entretenimento, crescimento profissional e diversão, para essas comunidades se transformou em um campo de guerra. As facções marcam disputas e avisam o dia que pretendem entrar na área inimiga. A maioria das publicações são realizadas por dispositivo móvel, ou seja, esses grupos utilizam smartphones para administrar os perfis.
Outro traço que pode ser observado nas postagens desses grupos é a ostentação. A maioria exibe um padrão de vida que não condiz com a realidade social em que vivem.
Eles publicam fotos de relógios, tênis, óculos, roupas, dinheiro, joias e pertences que mostram alto poder aquisitivo. Muitas fotos são publicadas de dentro de barracos ou ruas sem saneamento básico.
Polícia Civil pode identificar e prender os ‘internautas’
Com todo o material de incitação ao crime em mãos, a reportagem procurou o diretor adjunto da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), delegado Ricardo Romagnoli, que recebeu todas as imagens obtidas na internet e citadas na matéria.
O delegado Romagnoli analisou o conteúdo e respondeu as dúvidas relacionadas ao parecer jurídico e investigativo que normalmente são associados ao trabalho da DHPP.
O diretor adjunto informou que é possível adotar medidas legais visando a identificação de supostos criminosos a partir das redes sociais, mas alertou sobre a cautela necessária nos casos.
“Nem sempre a publicação é de conteúdo verdade, e a foto exibida é realmente de quem publicou”, explicou o diretor. Para a deflagração do inquérito policial, segundo ele, não é necessário que o suspeito esteja cometendo o crime em flagrante (a pessoa seja detida com arma, droga). Romagnolli explica que o inquérito é iniciado por meio de Portaria, e no decorrer das investigações, se for comprovado que o investigado é realmente autor dos crimes de que é acusado, é solicitado a prisão temporária ou preventiva.
DHPP
A Divisão de Homicídios tem acompanhado todos os casos de brigas entre gangues e realiza operações em conjunto com a Delegacia de Narcóticos (Denarc) com o objetivo de prender os traficantes mandantes de grande parte dos crimes de tráfico na Capital e Região Metropolitana de Fortaleza (RMF).
Um exemplo dessa parceria foi a prisão do traficante Márcio Gladson Dias da Silva, conhecido como ‘Márcio do Gueto’, um dos principais articuladores de homicídios relacionados a disputa por território de tráfico.
Outra prisão de homicida relacionada ao tráfico de drogas foi a de Irineudo Ferreira de Lima, conhecido por “Pequeno”, que comandava o tráfico no bairro São Miguel. Ele acabou detido em uma operação do Comando Tático Motorizado (Cotam).
SSPDS acompanha perfis de grupos
A Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) informou, por meio de nota, que todo o material foi encaminhado à Polícia Civil para que sejam tomadas as devidas providências.
Ainda segundo informações da SSPDS, por questões estratégicas de investigação, a SSPDS não fornece informações sobre as questões técnicas da Polícia.
O trabalho de investigação especializado nos crimes que tenham origem nas redes sociais é feito por meio da Coordenadoria de Inteligência (Coin), da SSPDS, e do Núcleo do Departamento de Inteligência Policial (DIP), da Polícia Civil. “A SSPDS por meio da Coin e de um núcleo no DIP da Polícia Civil, faz o acompanhamento de redes sociais e identifica quem são as pessoas que cometem crimes. Após a identificação, as ações da Polícia Judiciária são iniciadas”, informou a SSPDS.
De acordo com o delegado geral da Polícia Civil, Andrade Júnior, esse tipo de investigação é mais criteriosa, porque envolve, além da Polícia, outros órgãos como o Ministério Público Estadual para o êxito dos inquéritos, que demandam medidas cautelares sigilosas.
Jéssika Sisnando
Redação Web
Diário do Nordeste
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