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Dois anos de espera pela operação comercial do Metrofor

A Estação da Parangaba, situada ao lado do terminal de ônibus do mesmo bairro, faz parte da Linha Sul do Metrô de Fortaleza que engloba 12 pontos, ligando Fortaleza, Maracanaú e Pacatuba, em um percurso de 15 quilômetros Foto: Lucas de Menezes

Uma longa espera para ver o trem passar. Apesar de a Linha Sul do Metrô de Fortaleza ter começado a atuar em 2011- na chamada operação assistida -, já são dois anos de testes, completados esta semana. Período em que os trens só funcionam em horário reduzido – das 8h às 12h – atendendo, portanto, uma demanda insignificante. O que era para durar seis meses se estende até hoje.

A população acredita que o início das operações da Linha Sul já foi um grande passo e comemora a gratuidade do serviço, mas aguarda, ansiosamente, o metrô com todas as linhas e estações funcionando.

Seu Sebastião Gildo Lucena, 71 anos, acredita que ainda vai ver o sistema em total funcionamento. Aposentado, ele aproveita o serviço gratuito para resolver uma questão aqui e outra ali. Mora na Parquelândia e sempre vai ao Centro de trem. “De graça não atrapalha ninguém. Embora tenhamos esperado mais de dez anos, está a contento. Já foram quatro governos?”, titubeia o aposentado.

Com a fase de experimentação, a volta para a casa precisa ser via ônibus. E a procura é de pessoas que vão visitar familiares vez por outra e não como transporte público diário. O casal Cristina Barbosa da Silva, 21, e Francisco Alderi, 27, ouve falar da implantação do metrô há muitos anos e ainda não viu o funcionamento efetivo.

A vendedora e o segurança moram no Centro e costumam ir a Maracanaú visitar parentes. Dizem que o transporte é mais rápido, entretanto, sentem falta do trem na volta. “Precisamos retornar de ônibus”.

Por enquanto, apenas quatro veículos ferroviários atendem na Linha Sul e, como estão em fase de testes, podem parar no meio do caminho. A ideia é que sejam 25 quando o projeto estiver totalmente concluído.

O prazo para o término da operação assistida é indefinido. A vendedora Maria Elizani Ferreira Gomes, 24, acredita que neste ano o horário da Linha Sul seja expandido e diz que o serviço vai trazer benefícios.

A espera também é de quem mora em bairros que abrigavam estações ferroviárias e poderiam contar, hoje, com pontos do Metrofor. No Otávio Bonfim, famílias inteiras aguardavam há anos a passagem da linha metroviária e de uma nova estação, destruídas para a construção de uma avenida. Nada foi feito. “Esperava que a Otávio Bonfim fosse servir de estação central, mas temos de usar a do Benfica”, diz o comerciante Antônio Carlos de Alencar, 49.

Segundo o professor do Departamento de Engenharia de Transportes da Universidade Federal do Ceará (DET – UFC), Mário Azevedo, a espera da população pelo sistema do metrô vem desde 1987. As obras começaram em 1999.

Sobre o funcionamento assistido, o especialista lembra que não se trata de serviço de metrô, já que atende a uma demanda insignificante. “O prejuízo que a população sofre é a não melhoria do seu sistema de transporte público já que até mesmo alguns projetos de corredores (Av. José Bastos/Av. João Pessoa) de ônibus foram cancelados (ou suspensos) por conta da Linha Sul do metrô”, destaca.

De acordo com Azevedo, quando o Metrofor estiver operando, vai servir à população que usa transporte público, e até a que não usa, mas atenderá uma parcela da demanda e uma determinada região da cidade. “Para que o benefício seja maior, deverá haver uma integração muito boa com o sistema de transporte público por ônibus”, alerta.

Licitações

Conforme a Companhia Cearense de Transportes Metropolitanos (Metrofor), falta a finalização de algumas licitações para início da operação comercial. Elas foram encaminhadas, mas algumas tiveram problemas, tendo de ser refeitas.

Na operação assistida, o tempo entre um trem e outro é, em média, 30 minutos. Na comercial, não chegará a cinco minutos. Mas para chegar a esse tempo é necessário ter equipamentos de sinalização, de ventilação e de bilhetagem. A licitação deste último está em andamento.

Mesmo funcionando somente quatro horas por dia, o sistema atende uma média de 11 mil pessoas por dia.

Na Linha Sul, faltam duas estações ainda para serem construídas – a Padre Cícero (elevada, localizada atrás do campo do Ceará) e a Juscelino Kubitschek (ao lado do Bar Avião).

A Linha Oeste atualmente ainda funciona como ferroviária, porém será modernizada para metroviária. Além disso, as estações Álvaro Weyne e Antônio Bezerra vão se tornar elevadas. Dessa linha, a Estação Moura Brasil é provisória, ligando Caucaia ao Centro de Fortaleza. Da Linha Leste só existe a Chico da Silva que vai servir para baldeação.

Linha Leste não sai antes de 2020

As obras da Linha Leste do Metrô de Fortaleza não ficam prontas antes de seis anos, apesar de já iniciadas. A informação é da Secretaria de Infraestrutura do Estado do Ceará (Seinfra).

O emboque, túnel por onde entrarão as tuneladoras – localizado ao lado da estação Chico da Silva, que também passa por obras – e a instalação do canteiro já foram iniciados. Duas tuneladoras estão em Fortaleza, mas ainda não começaram a operar.

Esses equipamentos começam a funcionar depois de estarem montadas no shaft que está em processo de feitio.

Conforme o professor do Departamento de Engenharia de Transportes da Universidade Federal do Ceará (DET-UFC), Mário Azevedo, a Região Metropolitana e a cidade de Fortaleza não possuem plano de mobilidade urbana. “A Linha Leste, portanto, não faz parte de um projeto que tenha identificado as necessidades da população. Já que vai ficar pronta daqui a seis anos, esperemos que se faça um plano, pelo menos, para compatibilizá-la com a cidade”, opina.

Segundo o professor, as pessoas vão fazendo metrô, BRT, VLT e depois correm atrás para ver como é que eles vão se integrar. “Não é um problema simples de se resolver, mas tem jeito. É só pensar e trabalhar para um horizonte que vá além da próxima eleição”, alfineta.

O investimento total da Linha Leste será de R$ 2,3 bilhões. O empreendimento receberá recursos do Programa Mobilidade Grandes Cidades, do governo federal, do Orçamento Geral da União e financiamento da Caixa Econômica Federal. A contra-partida do governo do Estado do Ceará é de pouco mais de R$ 1 bilhão (R$1,034).

O projeto prevê a construção de 11 estações: Sé, Colégio Militar, Luiza Távora, Nunes Valente, Leonardo Mota, Papicu, HGF, Cidade 2.000, Bárbara de Alencar, CEC e Edson Queiroz. Além dessas, haverá integração com as linhas Oeste e Sul na estação central Chico da Silva, totalizando 12 estações.

Serão 12,4 quilômetros de extensão. A obra fará a ligação entre o Centro, partindo da estação Chico da Silva (de integração), e o Fórum Clóvis Beviláqua, no bairro Edson Queiroz.

A linha será operada com trens elétricos que transportarão cerca de 400 mil pessoas diariamente quando integrado com os demais modais de transporte.

Já a Linha Sul terá investimento de R$ 1,8 bilhões. Do total, quase R$ 1,45 bilhão referem-se a obras civis, como construção de túneis e estações. Outros R$ 562 milhões foram investidos na aquisição de trens (25 no total), fabricados na Itália, além da implantação de sistemas de segurança metroviária, de ventilação e de bilhetagem.

Para administração e projetos foram investidos R$ 114.731 milhões e, nas desapropriações, R$ 58 milhões.

A Linha Sul liga Fortaleza a Pacatuba. A via conta com 24,1 quilômetros de extensão em via dupla, sendo 18 quilômetros de superfície, 3,9 quilômetros subterrâneos e 2,2 quilômetros em elevado.

Estações

Atualmente, 18 estações estão em funcionamento: Carlito Benevides (antiga Vila das Flores); Jereissati; Maracanaú; Virgílio Távora (antiga Novo Maracanaú); Rachel de Queiroz (antiga Pajuçara); Alto Alegre; Aracapé; Esperança (antiga Conjunto Esperança); Mondubim; Manoel Sátiro; Vila Pery; Parangaba; Couto Fernandes, Porangabussu; Benfica; São Benedito; José de Alencar (antiga Lagoinha); e Central -Chico da Silva.

A via começou a ser construída em janeiro de 1999, mas somente a partir de 2007 houve um incremento no ritmo de execução das obras. O período de 2007 a 2012 foi responsável por mais de 58% dos investimentos.

Lina Moscoso
Repórter

Fonte: Diário do Nordeste

Zeudir Queiroz