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Comércio da RMF atinge 350 mil empregos, maior volume da história

O dado é reflexo dos incentivos voltados ao consumo e do estímulo à venda de artigos produzidos no País
Diferentemente do observado, nos últimos anos, a cada primeiro quadrimestre, quando pessoas são dispensadas e há retração das vendas, o comércio da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) atingiu, em abril, o maior patamar de contratações da história da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), iniciada em dezembro de 2008. Ao todo, somam-se 350 mil postos no setor, alcançados através do aumento de 7 mil empregos desde março de 2012. Em relação a abril do último ano, o crescimento foi de 25 mil vagas.

Desempenho do comércio ainda ajudou na estabilização da taxa de desemprego anual FOTO: TUNO VIEIRA
A Capital cearense apresenta 178 mil pessoas desempregadas – 8 mil a mais que em março – e 1,6 milhão de pessoas empregadas – também quatro mil a mais do que na última pesquisa.

O desempenho do comércio ainda ajudou a manutenção da taxa de desemprego total no comparativo anual, a qual está em 9,8%, enquanto a do mês anterior ficou em 9,3%. A última variação, no entanto, não é classificada como “grande” pelos pesquisadores.

Causas

Para os analistas do Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (IDT) e do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), responsáveis pela PED, a justificativa para o cenário atípico do comércio constituiu-se do somatório dos incentivos do governo para o consumo – como a redução do IPI para produtos da linha branca e automóveis – e do incentivo da comercialização de artigos produzidos no País.

“Esses fatores juntos fazem com que o comércio se aqueça, mas é um momento ímpar. Nunca aconteceu isso no nosso mercado. Esse momento era de demissão, mas como as vendas estão aquecidas, e foi preciso contratar”, avalia o coordenador da PED no Dieese, Ediran Teixeira.

Já para o coordenador de Estudos e Análise de Mercado do IDT, Erle Mesquita, “as políticas, por si só, não resolveriam o problema, mas a ausência delas deixaria o cenário preocupante”.

Segundo ele, a política de fortalecimento do salário mínimo também teve participação nesse cenário, já que impulsiona o consumo, principalmente pelas classes mais baixas, e, ao gerar mais dinheiro no mercado, também cria mais postos de trabalho.

Mais contratações previstas
Antevendo o restante do ano, Ediran afirma que a tendência é de um aumento nas contratações, mas, por o comércio dispor de contingente suficiente para atender a demanda que está por vir, “a tendência é que essas contratações se ampliem, mas não num patamar tão grande como nos anos anteriores”.

Conforme o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Fortaleza, Freitas Cordeiro, a perspectiva é que o ritmo de crescimento do setor seja mantido ou mesmo ampliado, especialmente no segundo semestre, quando o comércio tende a apresentar evolução.

Segundo o presidente da CDL, os números divulgados ontem, que classificou como “surpreendentes”, são “um alento” para o setor, principalmente porque a geração de novos postos de trabalho implica em maior potencial de crescimento para o comércio na RMF. Ele também destaca os incentivos do governo como elementos que possibilitaram o crescimento.

Demais setores

Dentro das 1,6 milhões de pessoas ocupadas, de acordo com a pesquisa, houve uma queda de -2,4% (igual a três mil postos) no comparativo mensal e um crescimento de 15,2% (16 mil), o qual foi maior proporcionalmente que o do comércio. “Isso é positivo, pois a construção civil vem ampliando a sua participação no mercado de trabalho, por estar ampliando o estoque de emprego, de 105mil para 121 mil”, observa o coordenador do Dieese. Entre os pesquisados, a indústria foi a única a apresentar retrações no comparativo anual. A perda de postos chegou a menos 20 mil, o que representou -6,7% ante abril do ano passado. Comparado a março, houve geração de 2 mil empregos (0,7%).

O especialista do IDT ainda ressalta que o movimento desse setor é semelhante em todas as regiões metropolitanas pesquisadas para a PED, salientando que “se, antes, se baseava na capacidade instalada, hoje, se baseiam na demanda de mercado”.

Assalariados

No levantamento que aponta quais as posições dos trabalhadores no mercado, 1.013 dos 1,6 milhões dentro do mercado de trabalho são assalariados. A pesquisa também mostra que o número de pessoas com carteira assinada ainda é o maior, com 681 mil postos dos 884 mil dentro do setor privado.

Dentro da informalidade, tendo uma queda de -1,5% ante março, estão 203 mil postos. Fecham o levantamento trabalhadores do setor público (129 mil),autônomos (424 mil) e empregados domésticos (116 mil).

Fila do desemprego
178 mil pessoas estão desempregadas em Fortaleza, oito mil a mais que em março, e 1,6 milhão estão empregadas

Cai para 30 semanas espera para recolocação
O tempo médio de espera de uma pessoa para retornar ao mercado de trabalho também é o menor desde dezembro de 2008, quando foi iniciada a Pesquisa do Emprego e Desemprego (PED). Atualmente, 30 semanas é o período médio que um trabalhador aguarda para voltar a trabalhar, segundo o levantamento. O maior período já constatado foi de 48 meses.

“Apesar de todo o quadro de menos oportunidades e economia desacelerando, as pessoas estão conseguindo retornar ao trabalho com menos dificuldades”, argumenta o coordenador de Estudos e Análise de Mercado do IDT, Erle Mesquita.

Rendimento em março

Quanto ao salários dos trabalhadores na RMF, no mês de março último, a PED evidencia a chamada “fragilidade do mercado”, pois, apesar de aumentar vertiginosamente a contratação, não consegue manter o salário dos funcionários na mesma proporção de crescimento.

O rendimento médio geral fechou em R$ 997 – uma variação de 0,4% ante fevereiro e 8,5% ante o mesmo mês de 2011. Sobre os dois principais setores, o coordenador da PED no Dieese, Ediran Teixeira, afirma que “o rendimento tem se ampliado também no comércio, mas a gente sabe que eles têm tradição de pagar salário baixo”.

Nas categorias de ocupação, o servidor público conta com o maior rendimento médio (R$ 2.245), seguido pelo empregado com carteira assinada (R$ 936), os autônomos (R$ 711) e os informais (R$ 650).

Comparada às outras seis regiões metropolitanas e o Distrito Federal, Fortaleza manteve sua posição. “O quadro de Fortaleza não mudou no cenário nacional. Continuamos com a terceira menor taxa de desemprego (9,8%), com o menor rendimento de todas as PEDS e também continuamos com o mercado de trabalho pujante, taxa de desemprego relativamente menor, mas uma precarização ligada aos baixos salários”, analisa. (AOL)

Do Diário do Nordeste

Zeudir Queiroz