Cem moradores de rua ocupam a Praça do Ferreira

Espaço é usado como moradia, com lavagem de roupa e banho na fonte. Bancos são utilizados como camas No Centro da Capital, o cenário atual de desordem urbana e transtornos na mobilidade deve mudar até o fim da atual gestão municipal. O prefeito Roberto Cláudio anunciou investimentos da ordem de R$ 500 milhões, com intervenções das mais diversas, incluindo a construção de edifícios garagem e estacionamentos no subsolo de algumas praças como a do Ferreira, Bandeira e José de Alencar. Enquanto os projetos não começam, o principal ícone da Cidade, a Praça do Ferreira, se tornou abrigo para 100 moradores de rua. Lá, as árvores servem como casa, bancos como camas e cabides e a fonte como chuveiro e lavanderia de roupas. Quem passa pelo espaço lamenta que os espaços dos bancos são “marcados”. “Pode observar, eles botam peças de roupas em vários pontos como marcando o território, sobrando pouca coisa para quem costumava sentar para descansar, conversar ou simplesmente ver o tempo passar”, denuncia o aposentado José Henrique Teixeira. Ele conta que há pelo menos 20 anos passa por ali duas vezes na semana. A Praça tem policiamento, e fiscais da Secretaria do Centro (Sercefor) atuam para evitar o comércio ambulante no equipamento, no entanto, eles não podem fazer nada para coibir a presença dos sem tetos. “A praça é pública, e eu posso ficar sim aqui o quanto quiser, pois não tenho para onde ir”, declara um deles que não disse o nome. Direito O administrador da praça, Antônio Ferreira, afirma que não tem o que fazer e conta que, quando tentou conversar com o grupo, quase apanhou. “São agressivos e se acham com o direito de tudo. Além disso, tem um grupo de voluntários que traz janta toda noite e aí vão gostando e ficando cada dia sem nenhum pudor e quem passa por aqui que se dane, pois para eles, os incomodados se mudem”, critica. O servidor público Aldair Bezerra conta que a situação no local é absurda. “Imagine passar por aqui à noite. Eles usam drogas e fazem sexo para quem quiser ver”, afirma. Já o guardador de carros Ronaldo Tavares diz que trabalha na área há 26 anos e numa imaginou um desrespeito tão grande para com um dos cartões-postais da cidade. “Era preciso pelo menos banheiros públicos e um local para levá-los durante a noite”, considera. A secretaria do Centro (Sercefor) diz, via assessoria de imprensa, que a responsabilidade é da Secretaria de Trabalho, Desenvolvimento Social e Combate à Fome (Setras). Esta adianta que não tem poder de retirar quem quer que seja de lugar público, no entanto, aposta numa série de políticas públicas para mudar situação. Ações Entre as ações, informa, estão os Centros de Referência Especializada na População da Rua (Centro Pop) e na inauguração de dois abrigos noturnos, um no Joaquim Távora, que deve ser inaugurado até fim desse mês, e o outro no Jacarecanga. Os dois com 50 vagas. A ideia, adianta, é ampliar essas vagas ou com a construção de outros abrigos ou com a chamada pública para convênios com entidades privadas. Para a economista e doutora em Planejamento Urbano e Regional, Cleide Bernal, o Centro é um lugar privilegiado para se morar, em termos de infraestrutura de energia elétrica, água e saneamento, telefonia e transporte, além da oferta de mercadorias a preços mais baixos que qualquer outro bairro. “Mas o Centro histórico sofreu um processo de empobrecimento e crescentes desigualdades como outras grandes cidades que se abriram para a economia mundial na corrida pela competitividade”, analisa. A área, aponta a professora, perdeu para a Aldeota atividades importantes geradoras de renda, bem como um contingente populacional substancioso. No entanto, conforme examina Cleide Bernal, a pobreza do Centro encontra-se nas pessoas que moram nas ruas e praças, nos vendedores ambulantes e biscateiros, na mendicância, na prostituição e marginalidade, além da falta de segurança pública. São as alternativas da população pobre e miserável de toda a cidade que aí se expõe de forma desumana para que o poder público olhe para elas, ressalta a economista. Vias ganharão quiosques O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), Francisco Freitas Cordeiro, conta que o pacote de melhorias anunciado pelo prefeito Roberto Cláudio para o Centro foi feito durante um almoço na sede da entidade na semana passada. Toda diretoria da CDL e mais seis secretários municipais estiveram presentes. Para começar, adianta ele, as reformas das ruas Guilherme Rocha e Liberato Barroso. As duas vias passarão a ter quiosques padronizados para o comércio ambulante e forte fiscalização para evitar o desordenamento das mesmas. “Ali, todos poderão trabalhar sem que um prejudique o outro e o ir e vir dos consumidores”, garante Freitas. Prazo Segundo ele, como essas intervenções não demandam recursos altos e nem longo prazo, a ideia é que até o Natal desse ano, as ruas estarão prontas e reformadas. O início do trabalho só deverá acontecer após da Copa do Mundo. “Até para não complicar ainda mais a Capital”. O presidente da entidade explica que, para viabilizar os projetos, a Prefeitura deverá contar com parcerias público privada e recursos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). A CDL, diz, avalia positivamente o anúncio do pacote e reconhece que sem pensar alternativas não só para o transporte público como para o privado, as intervenções ficariam pela metade. Ele reconhece que o Centro enfrenta muitos problemas, como a ocupação irregular das calçadas, sujeira, prédios históricos abandonados, engarrafamento constante, insegurança e ocupação de moradores de ruas nas principais praças. “Por isso, o disciplinamento na ocupação do espaço é fundamental”, defende. Leda Gonçalves Repórter #Diário do Nordeste
Zeudir Queiroz

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