Cearenses de nascença, adotados por holandeses na infância, procuram os pais biológicos para dizer da vida. Cecília de Been, por exemplo, gostaria de lhes dizer que vai se casar
Uma história da infância não sai da cabeça de Cecília Stefânia de Been, 28. A história, aliás, é parte da jovem holandesa que nasceu em Fortaleza, é um passado que está à deriva entre a Holanda e o Brasil. “Contaram apenas que, no dia 16 de dezembro de 1986, fui abandonada na frente da creche Elvira Marinho (na época, situada à rua Dona Leopoldina, 782, Centro), em Fortaleza, enrolada em panos e com um papelzinho indicando a possível data do meu nascimento 12.12.1986”, narra(-se), em entrevista por e-mail.
Hoje, o que leio, vejo e o que aprendi sobre o Brasil, Fortaleza, me encanta muito. Quero um dia, espero que seja para ver meus pais (biológicos), ir ao Brasil”, escreve.
Mas é como se ela jogasse uma garrafa ao mar, com uma mensagem ao tempo. Desde os 16 anos, Cecília começou a procurar os pais biológicos. “Eu sempre soube que era adotada do Brasil e sempre tive um sentimento de que faltava algo em minha vida para ser completa”, espelha. Cecília procura um passado que lhe pertence e ainda por viver. “Quero saber da minha família, de onde vim, quem são, como vivem. Tenho vontade de saber quem é minha mãe e saber o que a levou a me abandonar. Não tenho raiva alguma, apenas muita vontade de saber quem eles são. E descobrir quem eu sou”, soma.
Amor amplo
Cecília contou, então, sua busca a uma associação holandesa especializada em casos semelhantes, repete a história de sua infância de papel nas redes sociais e nos mais diversos meios de comunicação e também aprende português para contar aos pais brasileiros que se tornou enfermeira e que vai se casar em breve: “Desde outubro do ano passado, essa vontade de encontrá-los ficou ainda mais forte. Como me casarei dia 25 de setembro, essa vontade de encontrá-los é ainda mais pois gostaria de tê-los aqui, nesta data especial. Dói muito pensar em que talvez isso não aconteça ou talvez nunca aconteça”.
O sentimento é o cordão umbilical que ainda liga Cecília a uma possível família brasileira. A jovem holandesa sequer sabe o nome dos pais biológicos, mas já aprendeu o essencial para se comunicar com os parentes que imagina encontrar em Fortaleza. “Tenho certeza que existe uma relação muito forte entre nós. Estou estudando Português agora e eu gostaria de dizer a eles que não me chateio pelo que aconteceu. E que eu sempre pensei neles durante todos esses anos, sempre orei por eles e os amo muito”, afirma.
O amor, a propósito, não precisa de tradução, nem exige alguma razão de ser. É amplo e irrestrito, Cecília soube que ele existia assim desde os primeiros momentos de vida, quando era apenas uma data de nascimento. “Amo muito meus pais adotivos. Eles me deram todas as possibilidades para ser quem hoje eu sou”, reconhece. E uma de suas possibilidades é amar ainda mais. “Que minha mãe (biológica) não tenha medo de me encontrar. Que, se ela estiver lendo essa matéria, possa me dar a chance de conhecê-la e abraçá-la. Sonho com isso todos os dias da minha vida”, veleja.
Fonte: O Povo
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