O ano que passou deixou marcas da violência sofrida pelos que foram às ruas em busca de notícias. Segundo levantamento realizado pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado (Sindjorce), pelo menos 26 episódios de agressão contra trabalhadores da Comunicação foram registrados no Ceará, em 2013 – mais que o dobro do total apurado em 2012. São casos extremos, como a morte do radialista Mafaldo Bezerra Goes, passando pelo assalto de equipe de reportagem, até agressões de policiais e manifestantes, durante os protestos de junho. Soma-se a tudo isto a insistente violência contra a organização sindical da categoria, com a perseguição de dirigentes nos locais de trabalho.
“8 de agosto de 2013 já pode entrar para a história como o mais violento para a categoria até hoje. Nada menos do que sete episódios de ameaças, agressões e impedimentos de exercício da profissão foram registrados neste dia, quando 120 homens do Grupamento de Operações Especiais da Guarda Municipal realizaram a desocupação do parque do Cocó, em Fortaleza “, lembra a presidente do Sindjorce, Samira de Castro. Um dos casos mais emblemáticos foi o do jornalista Bruno de Castro, repórter do Núcleo Cotidiano do jornal O Povo, que levou um golpe de cassetete na costas e jatos de spray de pimenta no rosto. Equipes da TV Verdes Mares, TV Diário e TV Jangadeiro foram hostilizadas por manifestantes e até impedidas de continuar cobrindo a pauta.
Enquanto os apreciadores do futebol faziam a festa dentro da Arena Castelão, os jornalistas que cobriam os protestos de rua durante a Copa das Confederações aguentaram muito spray de pimenta, balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo, nos dois dias de jogos realizados na Capital cearense (19 e 27 de junho). Uma comissão de diretores do Sindjorce acompanhou, no dia 27, o trabalho da imprensa durante a cobertura da manifestação “Copa para quem?”, realizada na Avenida Dedé Brasil, durante a semifinal do torneio de futebol. Juntamente com uma comissão de observadores do Ministério Público, os dirigentes testemunharam a preocupante onda de hostilidade dirigida aos jornalistas e aos veículos de comunicação.
O relatório da violência traz ainda registros de carros de reportagem depredados ou incendiados, durante as manifestações, mas sem vítimas. E relatos da falta de segurança pública, como o caso de uma equipe da TV Verdes Mares assaltada durante uma pauta no bairro do Pirambu. Há, ainda, o relato de outra equipe da mesma emissora agredida por torcedores descontentes com a cobertura dos times de futebol do Interior, em Sobral.
Patrões minimizam casos de agressão
“Os números evidenciam a necessidade de adoção de um protocolo de segurança, pactuado pelo Sindjorce, empresas de comunicação e poder público. O jornalista e todos os outros profissionais que têm o dever de informar a sociedade não podem ser alvo da falta de segurança, da ira dos manifestantes ou do despreparo das polícias”, comenta Samira. “Infelizmente, os jornais e as emissoras de rádio e televisão minimizam a questão da segurança de suas equipes”, acrescenta.
O fornecimento de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) para os trabalhadores que cobrem conflitos sociais esteve na pauta das campanhas de mídia impressa e eletrônica. “Mas os patrões se recusaram a fornecer os EPIs, alegando que o jornalista já sabe o risco que corre ao escolher sua profissão. Enquanto o presidente do sindicato patronal, Mauro Sales, manda o repórter rezar antes de sair para a pauta, o preposto das emissoras de rádio e TV, Ramon Esteves, diz que a segurança do trabalhador é dever do Estado”, acrescenta Samira.
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