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Ceará apresenta a maior redução de filhos por casal do Brasil

Para gerente de Projetos e Supervisão do IBGE no Estado, taxa pode comprometer a reposição populacional

A redução do número de filhos por casal é visível em todo o Brasil. E, segundo dados divulgados, ontem, pelo Censo Demográfico 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Ceará foi o Estado que apresentou a maior queda de fecundidade nos últimos dez anos, passando de 2,84 filhos por casal no ano 2000 para dois filhos em 2010, uma queda de 29,7%. Em segundo lugar, está Alagoas, com diminuição de 20,2% e, em terceiro lugar, o Tocantins.

Ainda de acordo com o IBGE, a redução do número de filhos no Estado acompanha a realidade registrada no Nordeste, região que também apresentou a maior queda de fecundidade, com uma redução de 23%: enquanto no ano de 2000 a média por casal era de 2,69 filhos, em 2010, era de 2,06. Apesar disso, os casais nordestinos ainda continuam sendo os que mais têm filhos do Brasil.

Segundo o gerente de Projetos e Supervisão do IBGE Ceará, Paulo Cordeiro, a taxa de dois filhos por casal no Estado já pode ser considerada preocupante. Conforme ele, para que haja uma taxa de reposição populacional coerente, ou seja, a quantidade de pessoas que morrem sendo substituída pelas que nascem, o ideal para o IBGE é que cada casal tenha, no mínimo, 2,1 filhos. Diante dessa situação, Cordeiro considera possível dizer que a população cearense deve estagnar. “As perdas serão maiores que os ganhos. O que vai acarretar é que a população deve diminuir”, avalia.

Para ele, o ideal, é que haja um equilíbrio populacional. Do contrário, com o passar dos anos, o Ceará pode sofrer sérios impactos negativos na economia, com pouca mão de obra e uma população formada por um maior número de idosos. “Acho que o nascimento gera crescimento. Sem novas crianças, diversos setores da economia podem ter decréscimo”, analisa.

Fatores

A socióloga e professora do Núcleo de Estudos e pesquisas sobre Gênero, Idade e Família da Universidade Federal do Ceará (UFC), Celecina Vera Sales, destaca que a queda de fecundidade no Ceará apenas acompanha o cenário brasileiro e mundial. Para ela, vários fatores contribuem para que isso aconteça, como, por exemplo, a mulher no mercado de trabalho assumindo, a cada dia, os cargos de chefia em grandes empresas, o trânsito, estresse, altos custos educacionais entre outros aspectos.

Porém, de acordo com ela, um dos maiores agravantes na redução de números de filhos por casal é a não divisão das tarefas domésticas. Celecina explica que a mulher cearense e brasileira, apesar de estar tão atuante no mercado de trabalho tanto quanto os homens, continuam administrando a casa, levando os filhos para escola, participando de reuniões de pais e levando as crianças para o hospital. Além disso, ela destaca que a falta de estabilidade no trabalho também se torna um empecilho para se ter filhos.

A socióloga diz ainda que as mulheres de classes menos favorecidas também assumiram o papel de sustentar o lar. Assim, estão tomando mais cuidado para não engravidar, pois sabem como é difícil educar uma criança.

SAIBA MAIS

NupcialidadeEntre 2000 e 2010, no Ceará, o número de uniões consensuais, ou seja; quando o casal mora junto, mas não é casado, aumentou de 25,1% para 35,6%

Educação
O nível de instrução também aumentou. Enquanto, no ano 2000, 16,1% dos cearenses com 25 anos ou mais tinham pelo menos o ensino médio completo, em 2010 este número é de 29,2%

Mortalidade Infantil
Em todo o Nordeste, a taxa de mortalidade infantil – crianças que morrem antes de completar um ano – caiu de 44,7%, no ano 2000, para 18,5% em 2010.

Até 30 min para chegar ao trabalho

Quanto tempo você leva, em média, para se locomover de casa para o trabalho? Pesquisa divulgado pelo IBGE, baseada nos dados do Censo 2010, apontam que 45,02% dos fortalezenses (356.158) demoram de seis minutos a meia hora para se deslocar de casa para o trabalho.

No Ceará, 55,73% da população (1.326.863) gasta de seis minutos a meia hora para chegar no trabalho. Chama atenção, ainda, o grande percentual de pessoas que levam de meia hora até uma hora para fazer esse trajeto: 20,51% da população cearense (356.619) e 33,58% da população fortalezense (488.264).

No Estado de São Paulo, 46,67% das pessoas demoram até 30 minutos para chegar ao trabalho, enquanto, na capital paulista, este número é de 28,44%.

Roraima é o Estado em que as pessoas chegam mais rápido ao emprego: 66,10% levam até 30 minutos. Na capital Boa Vista, este é de percentual é de 69,88.

Transtornos

A assistente social Thaís Cristine de Queiroz Costa, de 22 anos, mora no Parque Dois Irmãos e trabalha na Aldeota. Para chegar ao trabalho, ela tem que passar pelo Terminal da Parangaba e demora em média uma hora e meia para se locomover. Na volta, o tempo é ainda maior, por causa do horário de pico. Por dia, ela passa, em média, quatro horas dentro de coletivos.

Na sua opinião, o problema é de conjuntura, pois muitas pessoas estão comprando carros, agravando os congestionamentos. Para ela, o transporte público deixa a desejar, uma vez que os ônibus demoram e estão quase sempre superlotados. “Demoro muito tempo esperando o ônibus e dentro dele”, reclama.

Gislene Macêdo, professora da Universidade Federal do Ceará (UFC), campus Sobral, com doutorado em Mobilidade Humana, comenta que a maior parte da população utiliza transporte público. Por esse motivo, defende que este seja de boa qualidade, o que funcionaria como estímulo ao uso de coletivos.

Ademar Gondim, presidente da Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza (Etufor), afirma que essa abordagem está dentro do modelo de vida que o fortalezense tem. “Não concordo que o transporte público de Fortaleza seja ruim. A pessoa pode até demorar, mas ela chega ao destino. No caso da superlotação, ela pode optar por pegar o ônibus seguinte ou acordar mais cedo”.

CE é 3º em número de deficientes
O Ceará é o terceiro Estado do País com o maior percentual de pessoas com deficiência: 27,7%, ficando atrás apenas do Rio Grande do Norte e da Paraíba, ambos com 27,8%, segundo o Censo Demográfico 2010 do IBGE. O número é superior a média nacional, que aponta que 23,9% da população brasileira (45.606.048) possui pelo menos uma deficiência.

Andréa Borges, técnica do IBGE, esclarece que a pesquisa investiga a deficiência a partir da percepção do próprio informante e do grau de dificuldade que ele tem para realizar certas tarefas cotidianas.

Keila Chaves, presidente do Centro de Apoio à Mãe de Portadores de Eficiência (Campe), ressalta que um dos motivos para esse alto índice é a falta de prevenção. Outra falha grave é a ausência de um cadastro que mostre onde estão essas pessoas com deficiência.

Limitações

Grande parte das pessoas com deficiência vivem excluídas e, geralmente, dependem de outras pessoas para fazer suas atividades diárias. Normalmente, o cuidador é a mãe.

No entanto, ressalta Keila, a maioria delas não entende o que é acessibilidade e não sabe os direitos que possui, como o direito à educação, por exemplo, em escolas próximas a sua casa.

Porém, é a barreira do preconceito a maior que os portadores de deficiência física têm de enfrentar. “A resistência das pessoas ainda é grande em aceitar o diferente”, afirma.

Do Diário do Nordeste

Zeudir Queiroz