Boatos de sequestros de crianças gera temor em Fortaleza

Devido ao medo causado pelas mensagens compartilhadas nas redes sociais, pais proíbem os filhos de ficarem nas ruas ou até os impedem de ir à escola
Devido ao medo causado pelas mensagens compartilhadas nas redes sociais, pais proíbem os filhos de ficarem nas ruas ou até os impedem de ir à escola
A sensação de insegurança se mistura aos atos de violência e a “onda de medo” rapidamente ganha força. No limiar entre os registros oficiais e os relatos fantasiosos, informações sobre a ocorrência de sequestros de crianças em Fortaleza, nos últimos dois meses, vêm sendo repassadas e gerado temor. Oficialmente, os únicos indícios de perigo real são respaldados por três Boletins de Ocorrência (B.O.S) registrados em distintas delegacias da Capital sobre tentativas de rapto. Ainda assim, a propagação de relatos, muitas vezes irresponsáveis, nos ambientes virtuais e reais tem interferido no comportamento da população. Para tentar encontrar respostas acerca desse assunto, as delegacias distritais deram início a investigações. São pais que impedem filhos de ficarem nas ruas, como antes ficavam. Outros que recolhem as crianças em determinados horários, na tentativa de protegê-las ou mesmo proibem de ir à escola. Rotinas alteradas pelo medo das supostas tentativas de rapto de meninas e meninos na Capital, potencializadas pelo desencontro de informações. Nos registros oficiais, a narrativa é a mesma: uma dupla, que se locomove de motocicleta, aborda a mãe e tenta tomar a criança à força. Nas três situações registradas nas Delegacias da Capital, o uso do capacete pelos supostos sequestradores dificultou a confecção de retratos falados. Nos três casos, sendo um no Bom Jardim, outro na Parangaba e o mais recente no Demócrito Rocha, os supostos sequestradores não obtiveram êxito na ação. Investigações A titular da Delegacia de Combate à Exploração da Criança e Adolescente (Dceca), Ivana Timbó, informa que as investigações dos casos já iniciaram, entretanto, somente hoje uma das mães que denunciou será recebida na Dceca. “Já pedimos para que as vítimas nos procurassem. No entanto, ainda temos poucas informações. Vamos começar a trabalhar com mais profundidade a partir desse relato”, informa. Ivana coloca ainda que é necessário cuidado ao divulgar supostos casos em redes sociais, pois muitos não são reais. “Há cerca de três meses, recebi uma mensagem de uma criança que teria sido sequestrada, no Antônio Bezerra, mas quando vimos, não procedia. Outra informação, de que um sequestrador estava agindo em um carro furtado, também era falsa. De maneira generalizada, compartilhar essas mensagens é um comportamento contraventor. Não deixa de ser uma perturbação da tranquilidade do sossego alheio”. Nas redes sociais, especulações sobre o assunto são intensas. Nos últimos dois meses, dezenas de mensagens chegaram à ferramenta VC Repórter do Diário do Nordeste. São relatos, questionamentos e afirmações que alertam sobre “a perigosa situação”, que estaria supostamente ocorrendo em Fortaleza. Ao jornal- assim como circula nas redes sociais- chegaram inclusive imagens que teoricamente seriam dos sequestradores. Sintomas de uma cidade que convive com o medo, justificado pela violência real, mas também de um tempo em que as redes virtuais “ampliam o escopo dos fenômenos sociais e proliferam rapidamente as informações”, segundo a análise do sociólogo e pesquisador do Laboratório de Estudos da Violência (LEV) da Universidade Federal do Ceará (UFC), Luiz Fábio Paiva. O pesquisador afirma que “as sensações de medo nunca são a tradução objetiva de acontecimentos específicos. O acontecimento produz ecos, entre eles o rumor e o medo”. Crimes Fábio reforça que o medo em Fortaleza é uma situação real, que envolve acontecimentos objetivos relacionados a crimes graves, sobretudo, os homicídios e os assaltos. “O medo em nossa cidade pode ser resultado de expectativas superestimadas do crime, mas ele não é uma invenção. Assaltos são comuns e a situação exige estratégias específicas no campo da segurança pública para que possamos restituir a tranquilidade da população”. O professor da Universidade de Fortaleza (Unifor), mestre em Psicologia e especialista em Terapia Familiar, Álvaro Rebouças, reitera o argumento de que, em Fortaleza, a perda da sensação de segurança é acentuada por rumores, porque a população já está abalada. Segundo ele, “esses relatos se somam a outras experiências negativas”. Em casos extremos, a propagação dos boatos, conforme o psicólogo, pode gerar o pensamento paranóide que faz com que os indivíduos – neste caso, os pais – aumentem os aparatos de segurança, na tentativa de contrair impedimentos para o outro – os possíveis sequestradores – não terem acesso ao vulnerável – criança. “Essas reações diante dos boatos podem tirar a autonomia dos filhos e até prejudicar o desenvolvimento das crianças”, completa. Já Luiz Fábio enfatiza que a população pode ajudar na segurança pública “não abdicando dos lugares públicos, criando redes de solidariedade nos bairros, além de informar as delegacias as ações sofridas no dia a dia”. Thatianny Nascimento/Ranniery Melo Repórteres Fonte: Diário do Nordeste
Zeudir Queiroz

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