O jornalista Sérgio Vilas-Boas fala sobre o trabalho de pesquisa e apuração para contar a história de um dos empresários mais bem sucedidos do país. Ele está hoje em Fortaleza para o lançamento do seu mais novo livro, “Ivens Dias Branco: simples, criativo, prático”.
Há um ano, Vilas-Boas recebeu o convite para escrever o perfil de Ivens, de quem nunca tinha ouvido falar. Deste então, o autor entrevistou 85 pessoas e viajou a cidade de Aveiro, em Portugal, local onde nasceu o pai de Ivens, Manoel Dias Branco. Vilas-Boas conversou com O POVO, ontem, enquanto se encaminhava ao aeroporto de Guarulhos (SP), de onde embarcaria para Fortaleza.
O POVO – O livro é uma biografia ou um perfil?
Sergio Vilas-Boas – Eu chamo de perfil porque, pelo que eu tenho estudado, biografia é mais aplicável a mortos, perfil é para vivos, é jornalístico.
OP – O que o levou a escrever sobre Ivens Dias Branco?
Vilas-Boas – Eu fui convidado. Quem me contatou, em abril do ano passado, foi o Geraldo Luciano Mattos (vice-presidente de Investimento e Controle do Grupo M. Dias Branco). Nós marcamos um encontro, em um hotel em São Paulo, onde também estavam alguns dos filhos do Ivens. Expus o meu método de trabalho e disse que queria um tempo para pensar. Mas não havia tempo. E em maio, com o contrato assinado, já comecei a trabalhar.
OP – O que o senhor sabia sobre ele?
Vilas-Boas – Quando me contataram, eu nunca tinha ouvido falar dele.
OP – O fato de ser não conhecê-lo dificultou o seu trabalho?
Vilas-Boas – Isso foi a melhor parte. É isso que torna o livro credível e sério. O fato de eu não ter nenhuma ligação profissional, afetiva, e não ter nenhuma ligação com o Ceará trouxe ao livro uma liberdade autoral. E o fato de eu ser de fora é o mais recomendável nesse caso, porque eu tenho um método muito meu. O livro não contém nenhuma opinião pessoal.
OP – Quanto tempo o senhor passou para escrever o livro?
Vilas-Boas – Três meses de dedicação exclusiva, de oito a nove horas por dia. E foi o momento mais prazeroso. No total, 85 pessoas foram entrevistadas. A maioria presencial. Cada entrevista durou, em média, duas horas. E 90% delas feitas em Fortaleza. O material era muito rico, tinha cerca de 800 paginas de entrevistas transcritas. E eu tinha um projeto de o livro ter 300 paginas de texto. E tive que condensar. Essa garimpagem foi muito difícil.
OP – Quantas horas de conversa o senhor teve com Ivens?
Vilas-Boas – Ivens é um homem muito reservado. Não é um homem de longas conversas. Nós tivemos umas seis conversas presenciais de uma hora e meia cada uma. E ele respondeu a vários questionários meus, cujas respostas foram gravadas em um gravador e transcrita por um assistente dele.
OP – De que forma o senhor o acompanhou nesse período?
Vilas-Boas – Passei alguns dias com ele em Portugal, em Aveiro. É um lugar onde remete a toda família. O pai dele nasceu numa pequena vila a 30 minutos de Aveiro. Nós visitamos lugares que ele gosta, fomos ao túmulo do pai dele… Há mais de 40 anos ele vai a Aveiro, todo ano, e fica no mesmo hotel, frequenta os mesmos restaurantes. Lá percebi nele um comportamento metódico e leal. Mesmo podendo ficar em hotéis melhores, ele prefere o hotel onde sempre ficou. E frequenta sempre os mesmos restaurantes.
OP – O que mais pode perceber nessa viagem?
Vilas-Boas – Eu percebi, entre outras coisas, que ele fica muito mais a vontade em Portugal porque se sente mais seguro para andar onde quiser. E ele criou um ciclo de amizade lá. Ele trata e é tratado de maneira muito especial pelas pessoas de lá. Fui com ele aos restaurantes ver os gostos dele.
OP – Como se dá a narrativa?
Vilas-Boas – O que eu faço é uma composição de vozes de todas as pessoas ouvidas. É uma narrativa que vai e vem no tempo, não é cronológica. Ela começa no programa de rádio do Paulo Oliveira falando do senhor Ivens, anunciando que o perfil seria escrito, e termina nos dias de hoje falando como seria a sucessão dele. Vou costurando a história, com os episódios mais interessantes. É uma costura de vozes de quem tem algo a dizer.
O autor
Sergio Vilas-Boas é jornalista, escritor e professor de Reportagem na Faculdade Cásper Líbero, em São Paulo. É autor de “Biografismo” e “Perfis”, entre outros. Em 1998 recebeu o Prêmio Jabuti com “Os Estrangeiros do Trem N”. Cofundador da Academia Brasileira de Jornalismo Literário (ABJL), Vilas-Boas é membro da International Association of Literary Journalism Studies (IALJS). “Ivens Dias Branco: simples, criativo, prático” é o seu nono livro. Para ele a obra é um “perfil de um senhor discreto, modesto e de pouca instrução formal que ergueu um complexo de indústrias com impactos positivos na vida de 50 mil pessoas de regiões historicamente desfavorecidas.”
SERVIÇO
Ivens Dias Branco
Editora: Manole, 352 páginas
Lançamento: Centro de Eventos do Ceará.
Quando: Hoje, às 18 horas
Evento fechado ao público
Fonte: http://www.opovo.com.br
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