Nenhum novo suspeito, nenhuma denúncia recente, nem mais relatos de ataques. Desde a semana passada, a Polícia Civil do Ceará não teve notícias sobre o paradeiro do maníaco da seringa, temido malfeitor que vem gerando uma onda de medo no Centro de Fortaleza. Um homem abordaria pessoas, perfurando-as com uma seringa, cujo conteúdo é desconhecido.
O malfeitor atacaria frequentadores do Centro da Cidade e teria preferência pelas praças José de Alencar e do Ferreira Foto: Alcides Freire
Com base nos dados já levantados, que incluem três depoimentos e descrições, o que resta ao órgão, segundo o delegado do 34º Distrito Policial (DP), Everardo Lima, é continuar investigando a procedência do caso, cujo mistério permanece.
Embora não haja novidades, o suspense acerca do criminoso e seus ataques tem causado repercussão na cidade durante a última semana. Apesar de muitos ainda não acreditarem na existência do sujeito, é difícil negar que o mistério trouxe de volta à tona uma série de antigas histórias que, fictícias ou não, fazem parte das recordações de todo fortalezense.
Até hoje, a chamada “perna cabeluda”, por exemplo, é temida em alguns bairros da Capital cearense por aqueles que já ouviram falar dos chutes que ela aplicava em transeuntes noturnos. Quem viveu na cidade nos anos 80 de certo lembra do “corta-bundas”, indivíduo que, armado com uma navalha, tinha por hobby cortar nádegas femininas no bairro José Walter.
Mais recentemente, crianças e adolescentes passavam longe de qualquer Hilux preta que circulasse pelas ruas, temendo serem sequestradas.
Imaginário
De acordo com o historiador Gleudson Passos, lendas urbanas como estas surgem a partir de uma mistura entre o imaginário religioso, marcado pelas crenças e princípios, e o folclore local, com influências da população que veio do ambiente rural e de moradores antigos da Cidade, que presenciaram diferentes épocas durante suas vidas. As histórias acabaram reproduzidas, por meio da tradição oral, de geração para geração, tornando-se verdadeiras relíquias narrativas de Fortaleza.
“As lendas urbanas sempre existiram em todo ambiente urbano, até mesmo nos que possuem características de metrópole. O que faz com que elas se perpetuem é o caráter excêntrico e mirabolante dos mistérios. Isso chama a atenção das pessoas e começa a fazer parte dos contos fantásticos repassados entre os anos”, destaca Gleudson Passos.
O historiador acredita que o medo também contribui na difusão e na continuidade dos boatos. Prova disso é que, ainda hoje, muitas pessoas que moram próximo ao Centro da Cidade ainda temem as histórias da mulher cobra, um espírito que assombra as pessoas, e da rua que, à noite, fecha-se, engolindo quem passa por ela, ambas ligadas ao Cemitério São João Batista. “Talvez alguma coisa que causou mal-estar em uma determinada época ficou impregnada na sociedade e isso acabou sendo transmitido”, analisa o especialista.
Laços sociais
Segundo ele, o temor pode ser considerado o lado negativo das lendas urbanas, uma vez que, em níveis muito avançados, corre o risco de virar uma histeria coletiva. Entretanto, Gleudson destaca que as histórias, sejam fantasiosas ou não, também são uma forma de, aproximar as pessoas, por meio do humor e da pilhéria, em uma cidade grande, a exemplo de Fortaleza.
“Hoje, a vida em comunidade está tão inviável, que as pessoas sentem necessidade de se encontrar. Umas das formas de fazer isso é através dessas histórias. As lendas lembram um modo de organização típico de uma urbanidade onde os laços sociais, coletivos são mais próximos”, avalia o historiador.
VANESSA MADEIRA
REPÓRTER
Do Diário do Nordeste
- Menina de 6 anos é resgatada após sequestro no interior do Ceará - 22 de novembro de 2024
- Polícia Federal Indicia Jair Bolsonaro e 36 Pessoas por tentativa de golpe de estado - 21 de novembro de 2024
- Deputado Apóstolo Luiz Henrique condena divisão entre fiéis e discurso de ódio na política - 21 de novembro de 2024