Ainda bem que clássico é imprevisível. Se não fosse, perderia a graça a emoção tão característica destes embates. O clichê de que o duelo se iguala sempre que arquirrivais entram em campo pode ser muito bem sustentado com o retrospecto recente do Clássico-Rei. Os últimos embates entre Ceará e Fortaleza vem sendo marcados pelo equilíbrio; não é por menos que o empate de ontem em 1 a 1, na Arena Castelão, pela abertura da Copa do Nordeste, foi a quarta vez em cinco jogos que os times saíram de campo em igualdade.
O resultado fez justiça ao que Vovô e Leão fizeram, porém o sentimento das duas torcidas após o resultado não condisse como o placar da partida. Após o apito final, enquanto os alvinegros vaiaram o time, os tricolores aplaudiram muito e é nesse momento que volta o tema da imprevisibilidade.
A reação negativa dos torcedores do Ceará é condizente com o momento do time, notoriamente mais técnico, organizado e caro, por isso a frustração por não ter vencido. Já os leoninos, viram sua equipe crescer em campo, subtrair a disparidade entre elencos e o peso da turbulenta semana anterior para encarar o rival de frente.
Desde o primeiro minuto de partida era visível a vontade e determinação do Fortaleza em dar uma resposta ao torcedor, ressabiado pelo início de ano irregular da equipe, por isso mesmo comparecendo em menor número na noite de ontem.
Como nos clássicos anteriores, o Ceará parecia seguro demais de si, de sua maior qualidade técnica e, em muitos momentos da partida, a equipe estava em ritmo diferente. Com um toque de bola lento demais, quase displicente, e errando nos passes finais. O Vovô demorou para encaixar seu jogo e foi dominado pela volúpia tricolor.
Liderados por Correia, o Fortaleza transpiravam mais e isso era visto em campo, com as melhores chances na primeira metade do jogo sendo para o time do Pici. Mas, como ocorreu na final do Estadual, o goleiro alvinegro Luis Carlos evitava que o gol saísse. Pio, Lúcio Maranhão, Correa e Samuel pararam no camisa 1 alvinegro.
Depois de tanta pressão, o Ceará acordou nos minutos finais do primeiro tempo, quando boas tabelas saíram e Assisinho perdeu dois gols.
Solta o grito
O teimoso empate sem gols – placar também dos dois últimos Clássicos-Rei do Campeonato Cearense – assombrava as duas torcidas mais uma vez, pelo que viram em grande parte do segundo tempo. Muita luta, faltas, erros de passe. Todavia, Porangabuçu e Pici não mereciam passar mais uma noite sem o grito de gol ecoar pelas ruas.
Primeiro quem comemorou foram os alvinegros, aos 27 minutos do segundo tempo, quando William – que acabara de entrar – desviou de cabeça e Magno Alves fuzilou: 1 a 0.
Destemido, o Fortaleza foi para cima e cinco minutos depois, em um ‘balaço’ de Vinícius Hess, deixou tudo igual para delírio da torcida tricolor.
Se o empate era o resultado mais justo, as duas equipes se acomodaram, fatalmente com receio de perder o primeiro clássico do ano. Ao fim, novamente, não houve vitorioso ou vencido.
Torcida aplaude time ao fim do jogo
O Fortaleza não venceu o primeiro clássico-rei do ano. Estava perdendo por 1×0, mas empatou num gol do volante Vinícius Hess. Contudo, a boa atuação do time, que pecou apenas nas finalizações, fez com que sua torcida presente à Arena Castelão, aplaudisse o time no fim do jogo.
Os torcedores entenderam que o Leão apresentou o espírito de luta que sempre caracterizou a equipe do Pici. “A gente sabe que tem uma torcida por trás que nos cobra muito e hoje demos a resposta, com muita luta, mesmo quando estávamos perdendo a partida. A torcida está de parabéns pelo apoio que nos deu”, elogiou o volante Corrêa.
O cabeça-de-área Corrêa disse ainda que o Fortaleza foi prejudicado pela sequência de jogos. “Essa história de regulariza e não regulariza os nossos jogadores que chegaram agora atrapalhou também a preparação, mas estamos no caminho certo.
Merecer vitória
Para o técnico do Fortaleza, Nedo Xavier, se houvesse um vencedor no clássico teria que ser a sua equipe. “Tivemos mais posse de bola, mas oportunidades criadas, enfim, enfrentamos um adversário forte, mas fizemos uma boa apresentação e por isso mereceríamos a vitória”, disse.
Nedo foi expulso pelo árbitro Avelar Rodrigo, por reclamar da arbitragem. “O Charles cometeu três a quatro faltas violentas e ele não expulsou. Uma arbitragem dessa é um desastre”, reagiu.
O zagueiro Genilson considera que a boa partida do Leão e o empate foram uma resposta ao adversário. “A gente vê algumas coisas nas redes sociais. Alguns disseram que iam nos golear e a gente mostrou que não é bem assim. Tivemos muito empenho e quase saímos de campo com uma vitória”, desabafou.
Marcação foi responsável pelo empate
Na visão do técnico do Ceará, Dado Cavalcanti, a forte marcação do Fortaleza foi a grande responsável por sua equipe não vencer o primeiro jogo da Copa do Nordeste de 2015.
“Nós deixamos muito espaço no meio campo para o Fortaleza e eles preencheram. Jogavam com três volantes e 10 jogadores atrás da linha da bola, tirando o nosso espaço para criar. Colocaram o Uilliam acompanhando a saída de bola do Tiago Cametá e com isso perdemos aquela válvula de escape. Faltou a gente explorar pelo menos o lado esquerdo”, analisou Dado.
Mesmo diante de um esquema de forte marcação, o treinador considera que houve alguns momentos em que o seu time esteve frente a frente com o goleiro Deola e pronto para marcar, além do gol de Magno Alves.
“No final do primeiro tempo a gente construiu algumas tabelas que poderiam redundar em gol, mas ele não veio além do que foi marcado pelo Magno Alves”.
“Nossos jogadores tentaram, não houve falta de iniciativa da parte deles, mas nós deixamos um pouco a desejar em alguns aspectos, que depois eu vou conversar com eles na nossa preleção desta quinta-feira”, disse.
Para o goleiro Luís Carlos, faltou tomar alguns cuidados no meio-campo. “Não houve a devida compactação no meio-campo e cedemos espaços para eles. Quando não ocorre essa compactação, estoura lá trás na defesa e no gol”, observou o goleiro, que reconheceu os méritos do volante Vinícius Hess, no gol de empate. O centroavante William falou que o time como um todo, não pode deixar escapar as vitórias em casa. “Virão outros times fortes e duros aqui dentro e não podemos deixar passar a chance de ganhar”, disse.
Pelo Estadual, no domingo, o Ceará pega o Guarani (J), às 16h, em Horizonte.
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