O Ceará foi o segundo estado com maior redução em 22 anos. Entre 1990 e 2012, teve queda de 82,3
A cuidadora Franciane de Lima, 34, ganhou fama internacional. Já conhecida no Interior do Ceará, através do Projeto Mãe Social, ela é uma das responsáveis pelas quedas nas taxas de redução da mortalidade infantil. Por esses e outros trabalhos, o Estado tem ganhado destaque até no exterior. Especialistas do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e da Organização Mundial de Saúde (OMS) reconheceram isso em Nova York.
Dois municípios cearenses foram ressaltados como exemplo de sucesso: Eusébio (com queda de 15,58 de 2009 para 9,1 por mil nascidos vivos em 2012), e também Sobral (de 18,93 para 14,55 em 2012). Foram as localidades com menor taxa de mortalidade infantil. As experiências exitosas foram apresentadas na sede do Unicef, durante a apresentação do “Relatório de Progresso 2013 sobre Compromisso com Sobrevivência Infantil: Uma Promessa Renovada”.
E Franciane sabe a receita do sucesso, muito carinho e amor pelo que faz. Atendendo às mulheres de Sobral no pós-parto, ajuda como se fossem da família, cuida do bebê, estimula amamentação, lembra da importância da vacina, enfim, faz um trabalho “de formiguinha” para que a criança não entre na estatística de mortalidade. “Meu trabalho é muito importante, porque permite que as gestantes descansem e se mantenham saudáveis durante toda a gravidez e durante o primeiro mês de vida de seu bebê, que é o mais crítico”, diz.
Superação
As quedas nos óbitos não são recentes, mas, mesmo assim, são celebradas. Segundo a Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), em três décadas, deixaram de morrer no Estado 91,8 crianças menores de um ano para cada mil nascidas vivas, número menor apenas que o da Paraíba, que em 2010 evitou 94,2 mortes em relação a 1980. Entretanto, nem sempre foi assim: Ceará tinha a 3ª pior taxa de mortalidade infantil do Nordeste há 30 anos (111,5 por mil nascidos vivos).
O Ministério da Saúde trouxe, ontem, dados de 2012, que apontam uma redução de 82,3 na taxa de mortalidade em 22 anos. O Ceará ficou com a segunda melhor queda (perdendo apenas para Alagoas) – 16,2 há um ano e 91,6 na década de 1990.
Para a Sesa, vários fatores concorrem para o declínio da mortalidade infantil, com destaque para a vacinação, o uso da terapia de reidratação oral, o aumento da cobertura do pré-natal, a ampliação dos serviços de saúde, a redução contínua da fecundidade, a melhoria das condições ambientais, o aumento do grau de escolaridade das mães e das taxas de aleitamento materno.
Ainda conforme a gestão estadual, as mortes de menores de um ano no Ceará se devem às complicações de saúde do bebê antes, durante e logo após o parto, normalmente causadas por afecções ocorridas durante a gestação, baixo peso ao nascer e infecções no período neonatal.
A agente de saúde do Unicef, Maria da Graças Alves, vê a realidade mudar. Atuando desde 1991 em Fortaleza, lembra com pesar de tempos em que das 75 crianças que atendia mensalmente, cerca de 15 estavam desidratas. “Há uns 20 anos, morriam mais por desnutrição, pneumonia. Que bom que está diferente. Visito uns 40 meninos e nenhum está desidratado. Maravilha”, afirma a agente de saúde.
Ela fala com carinho, com os olhos marejados, da sensação de ver uma criança se desenvolver sem risco de vida. “Eu amo as famílias como se fossem minhas, qualquer problema, contem comigo”, afirma Maria da Graças.
No Eusébio, Região Metropolitana de Fortaleza, as melhorias e reduções das taxas vieram através da conscientização. Segundo o titular da Secretaria de Saúde, Acilon Gonçalves, a educação da população foi algo fundamental. “Educamos as gestantes para fazer um bom pré-natal com no mínimo seis consultas, fazendo a vacinação e evitando a gravidez precoce. Junto com isso fizemos investimento no Programa Saude da Família (PSF)”.
Planejamento
A especialista em programas do Unicef, Tati Andrade, ressalta que as boas iniciativas de Sobral e de Eusébio podem ser reproduzidas, sim, em várias outras localidades, basta planejamento e políticas adequadas. “O Ceará tem se destacado por ter implementado estratégias inovadoras como o agente de saúde, a saúde da família, o Projeto Trevo em Sobral, os hospitais amigos da criança, além do Programa Viva Criança, que teve início em 1987. À medida que a mortalidade infantil cai, vai ficando mais difícil conseguir uma grande redução”, explica. Sobre os desafios existentes no futuro, ela põe as crianças de famílias de baixa renda, negras e indígenas como as mais vulneráveis no Ceará.
Brasil
A estatística de mortalidade no país caiu 77% entre 1990 e 2012, segundo Unicef. No período, a taxa passou de 62 mortes a cada mil nascidos vivos para 14 óbitos a cada mil nascidos vivos. O resultado faz com que o Brasil ocupe o 120º lugar no ranking.
IVNA GIRÃO
REPÓRTER
Fonte: Diário do Nordeste
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