Após dois anos de espera, devotos do Padre Cícero voltaram a Juazeiro do Norte para participar da Romaria de Finados, maior evento religioso da cidade. Diferente de 2020, quando ainda prevaleciam as medidas de restrição sociais por conta da pandemia, neste ano a movimentação de fiéis foi intensa durante os quatro dias de programação. As atividades, que começaram no último dia 29 de outubro, foram encerradas nesta terça-feira, 2, com a já tradicional visita ao túmulo do sacerdote, no cemitério ao lado da Capela do Socorro.
O ritual foi precedido de uma celebração religiosa que ocorreu a portas fechadas para evitar aglomerações. Apesar disso, dezenas de romeiros compareceram ao calçadão da igreja e ouviram a solenidade por meio do sistema de som. O número de devotos, no entanto, foi muito inferior se comparado com a missa de 2019, a última antes da pandemia. Naquela ocasião, cerca de 100 mil pessoas lotaram os arredores da Matriz do Socorro. Neste ano, a Secretaria de Turismo de Juazeiro do Norte (Setur) e a Diocese do Crato não divulgaram a estimativa de público.
Para o romeiro Paulo Roberto Ferreira, 35, que viajou mais de 300 km para acompanhar a festa religiosa, embora a presença de fiéis na cidade tenha sido tímida em relação aos anos anteriores, a movimentação superou suas expectativas. “Eu não esperava tanta gente. Da minha cidade, inclusive, não veio todo mundo que costuma participar, o pessoal mais idoso principalmente. Antes, a gente fretava um ônibus para mais de 40 pessoas, e neste ano contratamos uma van para 13 pessoas”, relata o devoto, que mora em Tuparetama, Pernambuco.
Paulo afirma participar da Romaria de Finados desde os 5 anos, por incentivo dos pais, também devotos do padroeiro de Juazeiro. Ele conta que, apesar de no ano passado o evento ter sido realizado de forma virtual, sua família juntou economias e alugou um carro para visitar a cidade e manter viva a tradição que já dura mais de três décadas. “Estava quase tudo fechado, mas mesmo assim pudemos visitar algumas igrejas e sentir um pouco o clima de paz. Foi só uma visita rápida para não quebrar a tradição, porque isso é muito importante pra gente”, completa o romeiro.
O sergipano Arnóbio Santos, 29, que contabiliza 30 viagens a Juazeiro do Norte, considera que a romaria deste ano tem um significado especial. “Dessa vez, tem um sentimento a mais envolvido, que é o sentimento de gratidão a Deus, à Nossa Senhora das Dores e ao Padre Cícero, por tudo que nós passamos e conseguimos superar, apesar das muitas vidas que foram ceifadas por esse vírus. Eu vi muito nos romeiros um olhar de alegria, de emoção, a felicidade com os reencontros. Essa é a romaria da esperança. Aos poucos estamos atravessando esse vale de lágrimas”, comenta o devoto.
Mesmo com a volta das celebrações presenciais, toda a programação da romaria também foi transmitida pela internet, através da TV Web Mãe das Dores, no YouTube, e nas redes sociais da Basílica de Juazeiro Norte. No início da pandemia, a Diocese do Crato havia recomendado que idosos e pessoas com comorbidades, mais vulneráveis aos efeitos da Covid-19, assistissem às celebrações por meio de canais online para evitar exposição à doença. Com a diminuição nos indicadores da crise sanitária, a tendência, nas próximas romarias, é que Juazeiro passe a receber um número ainda maior de peregrinos.
O calendário religioso da “Terra do Padre Cícero” conta com 12 romarias ao ano. As maiores são a Romaria das Candeias, em fevereiro, a que lembra a morte do fundador da cidade, em julho, a que homenageia a padroeira, em setembro, e a Romaria de Finados, encerrada nessa terça-feira, 2. Antes da pandemia, a Setur estimava que em média dois milhões de romeiros participavam das festividades ao longo do ciclo anual.
O verdadeiro significado do Dia de Finados
O vigário geral da Diocese de Crato, padre José Vicente, falou à rádio CBN Cariri sobre o significado da data de Finados em 2021, segundo ano consecutivo em meio à pandemia da Covid-19. O sentido da data, para o sacerdote, é a celebração dos que se foram. “É trazer a consciência da continuidade da vida. A vida para o homem de fé não se conclui com a morte física. Ela é apenas a passagem que possibilita ao homem ir ao encontro de Deus e contemplar o rosto de Deus como Deus verdadeiramente é”, comentou José.
Com a pandemia e os mais de 24 mil cearenses vitimados pela Covid-19, o vigário considera a situação lamentável e que poderia ter sido contornada com cuidados, como pela parte governamental brasileira. “Mas diante desse mistério da finitude, sabemos que vivemos na esperança e nos colocamos nas mãos de Deus para vivenciarmos a esperança na vida eterna conforme as promessas de Jesus”, comentou o fiel. (Colaboraram Guilherme Carvalho/CBN Cariri e Marília Freitas)
Fonte: https://www.opovo.com.br/
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