Representantes explicam que o confinamento dificulta o comércio e manifestações culturais que garantem renda. Sem auxílios do Governo, elas dependem de doações solidárias de outras entidades.
O Ceará tem, pelo menos, 20 mil pessoas vivendo em comunidades ciganas, distribuídas em 60 municípios, segundo o Instituto Povo Cigano do Brasil (ICB). O grupo étnico, que sobrevive do comércio e de atividades culturais, é mais um dos impactados pelo isolamento social.
Em Sobral, na Região Norte do Estado, vivem cerca de 500 pessoas, concentradas, principalmente, no bairro Sumaré e na Fazenda Joelma. Nos dois locais, vivem 153 pessoas, das quais 14 são idosas e 38 são crianças. Paulo Cigano, liderança local, afirma que a comunidade está “rigorosamente cumprindo a lei”.
O governador Camilo Santana prorrogou por mais 15 dias o decreto que proíbe o funcionamento de estabelecimentos comerciais em todo o Ceará e manter o isolamento social para contar o avanço do novo coronavírus no estado. O decreto vai se estender até o dia 20 deste mês.
“Somos família em coração, sangue e alma. Não temos nenhum caso e esperamos que não tenhamos qualquer problema”, afirma Paulo Cigano. Há quase 30 dias, ele está em quarentena, dentro de casa, e encontra dificuldades financeiras para manter a própria família.
Paulo explica que, em décadas passadas, os homens ciganos viviam da troca e venda de animais. Hoje, a maioria tira sustento da compra e venda de veículos. Poucas mulheres mantêm a tradição da quiromancia, a “leitura” de mãos; as outras investem no artesanato, culinária e dança, por exemplo.
Solidariedade
Além de Sobral, a cidade de Pindoretama, na Região Metropolitana de Fortaleza , também tem registro significativo de ciganos: são 35 famílias. Na Capital, há quatro grupos localizados nos bairros Granja Portugal, Henrique Jorge, Barroso e Conjunto Ceará.
Segundo Rogério Ribeiro, cigano da etnia calon, o povo no Ceará é fixado nos territórios, ao contrário nomadismo que marca outras regiões do País. “Aqui, se acontecer com um, pode se alastrar”, alerta. Sem trabalho ou perspectivas de apoio governamental, as comunidades ciganas do Ceará contam com outras iniciativas de solidariedade.
O Núcleo Fortaleza do Grupo Mulheres do Brasil, por exemplo, doou 35 cestas básicas para os moradores de Pindoretama, na última segunda (6). “Estivemos na comunidade e vimos a necessidade, a carência, em que as mulheres ciganas, de baixa renda, lutam pela sobrevivência. Passamos a acompanhá-las e ficamos sabendo das necessidades pela reclusão”, explica a psicanalista Magnólia Costa, integrante do Grupo.
No início de abril, o programa Mesa Brasil, do Serviço Social do Comércio (Sesc), entregou 150 litros de leite às comunidades do Sumaré e da Fazenda Joelma, em Sobral. Comunidades de Fortaleza e Caucaia também receberam carregamentos de banana por meio da entidade.
Programas
O presidente do ICB critica o fato de que, dos cerca de 3 milhões de ciganos no Brasil, apenas 26 mil estejam inscritos no Cadastro Único (CadÚnico), instrumento do Governo Federal que identifica e caracteriza as famílias de baixa renda.
“O Governo ficou de lançar o aplicativo pra quem não tá no Cadastro Único e muitos estão no aguardo. Enviamos sugestão ao Ministério da Cidadania pra constar o campo ‘etnia’”, afirma. Segundo ele, demandas do povo cigano já foram enviadas ao Governo do Estado do Ceará, junto com reivindicações de artistas circenses.
A Secretaria da Proteção Social, Justiça, Cidadania, Mulheres e Direitos Humanos (SPS) informou que mantém contato com os diversos grupos étnicos para identificar suas demandas, e que estão sendo adquiridas cestas básicas para aqueles com essa necessidade, atualmente. Ainda segundo a Pasta, a população cigana também será beneficiada com a garantia do pagamento da luz elétrica e água por três meses.
Por sua vez, o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH) informou que a Secretaria Nacional de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Snpir) está em contato direto com as principais instituições que cuidam de comunidades tradicionais, como indígenas, ciganos e quilombolas, “reforçando as medidas de prevenção de contágio ao Covid-19 e arrecadando cestas básicas”.
Fonte: G1 – CE
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