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Com um dos piores cenários do Estado, Boa Viagem depende de poços

Açude que abastece Boa Viagem, no Sertão Central, deve ser considerado seco até a próxima semana. Torneiras só têm água a cada três dias. “A cada dia, o colapso se aproxima”, diz gestora de água do Município

O açude Vieirão, que abastece Boa Viagem, tem capacidade de acumular 20 milhões de metros cúbicos de água, mas está com apenas 0,58% do volume
O açude Vieirão, que abastece Boa Viagem, tem capacidade de acumular 20 milhões de metros cúbicos de água, mas está com apenas 0,58% do volume

Do local onde, há alguns anos, já era margem do açude Vieirão, que abastece Boa Viagem (a 221 km de Fortaleza, no Sertão Central), hoje é possível andar 100 metros, no mato e em terreno ressecado, até encontrar água. A capacidade do açude é de 20 milhões de m³, mas disso resta apenas 0,58%, e a previsão da Companhia de Gestão de Recursos Hídricos (Cogerh) é de que, no próximo dia 15, o reservatório esteja seco (sem possibilidade de sucção).

Já foram perfurados 75 poços para incrementar o abastecimento da cidade, inclusive fora da sede. Mas somente 19 tiveram vazão para serem incorporados à rede e seis estão em processo de conclusão. Boa Viagem é a sede em pior situação hídrica na região da sub-bacia do Banabuiú, resume o gerente regional da Cogerh em Quixeramobim, Paulo Ferreira. “A nossa cidade tem uma situação das mais delicadas”, lamenta a diretora do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae), Regina do Vale.

Com o açude quase vazio, poços que não alcançam água e sem poder ser contemplada com uma Adutora de Montagem Rápida (AMR), a população tem de conviver com torneiras que somente têm água durante 15 horas a cada três dias. “A gente vai escapando como Deus deixa. Ainda tem água, mas ninguém sabe até quando”, lamenta o motorista Antônio Pereira, 63.

Futuro

Quando o açude da cidade secar, o abastecimento deve ser realizado quase somente através de poços. A rede hídrica da sede já tem quase 30% da vazão com essa fonte. A prioridade, explica o gerente da Cogerh, é de que as perfurações sejam feitas na própria cidade para facilitar a injeção na rede, mas já há prospecções afastadas do centro. Um estudo geofísico é realizado pela companhia para encontrar as fendas que podem conter água no subsolo. “Mas nós não temos uma tecnologia que garanta 100% que no poço tem água”, comenta Paulo Ferreira.

“A cada dia, o colapso se aproxima e, enquanto isso, a gente vai trabalhando alternativas”, indica Regina do Vale, diretora do Saae. Com a previsão de 2016 ser mais um ano de seca no Ceará, a diretora afirma que Boa Viagem deve ser abastecida por fontes de captação mista: alguns bairros com poços profundos injetados na rede, uns com chafarizes e outros com carros-pipa. O racionamento, que acontece desde fevereiro de 2012, estimulou que parte da população cavasse poços próprios ou comprasse água.

Hoje, o Vieirão tem somente 128 mil m³ de água, de acordo com Paulo Ferreira. O volume já se aproxima do limite considerado viável para a captação (100 mil m³), afirma. Em uma semana, isso não será mais realizado porque será necessário um gasto muito alto para o bombeamento. “Nesses últimos dias, houve algumas precipitações e diminuiu a evaporação. Pode ser que esse prazo aumente um pouco”, aponta Paulo. A bomba de captação da água está numa área em que a profundidade é de apenas três metros. Quando chegar a esse ponto, a previsão do Saae é de cavar a área ainda inundada para tentar dar sobrevida ao açude.

Fonte: O Povo

Zeudir Queiroz