Irmão que nasceu após o desaparecimento de Carlos, em 1993, achou um panfleto com telefone do familiar. Eles vão se encontrar pela primeira vez no fim de semana. A mãe dele morreu de câncer em 2017.
Após presenciar uma agressão do padrasto à mãe, o menino Carlos da Silva, aos cinco anos, fugiu de casa e se escondeu em um ônibus no terminal rodoviário da cidade onde morava, Juazeiro do Norte, no Ceará, em 1993. Ele dormiu no veículo e, quando acordou, estava em Fortaleza, perdido da família.
Mais de duas décadas sem conhecer a família biológica, um amigo dele, também chamado Carlos, teve a ideia de distribuir panfletos em busca dos parentes. O panfleto tinha as informações que Carlos lembrava a respeito da cidade natal, uma foto atual e outra de quando era criança e o título “Procuro a minha mãe”. Veja imagem do panfleto abaixo.
Para a surpresa dos dois, Carlos recebeu uma ligação na terça-feira (24) do irmão biológico mais novo, que nunca havia conhecido.
“Eu fui entregando panfletos nas cidades. Posto de gasolina, recepção de hotel, churrascaria, e também coloquei nas redes sociais”, lembra o amigo. Um enfermeiro que viajava pegou um dos papéis na recepção do Hotel Municipal de Araripe e o guardou.
“Eu não sei por que motivo perdi o papel, mas quando eu estava jantando e abri o celular, tinha o mesmo panfleto no Facebook, aí eu fui ler com atenção”, lembra o enfermeiro Clécio, irmão de Carlos.
O panfleto relatava uma história parecida com a que a mãe de Clécio contava. “Você vá, mas volte. Perdi um filho, não aguento perder outro não”, era o que Clécio ouvia da mãe, Geane da Silva. Ela faleceu em 2017, vítima de um câncer de mama.
‘Um milagre’
Clécio ligou para o número do panfleto e depois de uma conversa descobriu que estava falando com o irmão desaparecido. Clécio nasceu somente após o desaparecimento de Carlos e nunca o havia conhecido.
“Em um ano de pandemia, de tantas tragédias, um milagre”, diz Carlos, que prepara as malas para viajar na próxima semana, quando deverá encontrar a avó e os irmãos.
Os irmãos se falam com frequência desde terça-feira, em chamada de vídeo ou por telefone, e planejam um reencontro que deve ocorrer no fim de semana (27). A avó, Francisca da Silva também participará do encontro. “Vai ser muita emoção pra ela”, alerta Clécio.
Órfão e adoção
Quando chegou perdido a Fortaleza, em 1993, Carlos foi identificado pelo motorista do ônibus como uma criança sem acompanhamento dos pais e foi levado para uma casa de acolhimento de crianças órfãs. Desde então, passou por vários abrigos e também viveu pelas ruas da capital cearense, até ser abrigado na Associação Beneficente Pequeno Nazareno, em Maranguape, na Grande Fortaleza.
Quando lhe perguntavam sobre a família, Lembrava do nome da mãe e que tinha três irmãos. Ele também sabia que o nome completo é Antônio Carlos da Silva e tinha um tio artesão, chamava de Nino e lhe presenteava com carrinhos feitos de barro.
Antônio Carlos foi adotado pelo fundador da Associação Beneficente Pequeno Nazareno, o ex-frei alemão Bernardo Rosemeyer. Aos 32 anos, ele é motorista, casado e tem uma filha.
Fonte: G1 – CE
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