A obra de requalificação da Praia do Cumbuco, no município de Caucaia, está deixando apreensivos moradores e comerciantes da região. O clima de tensão se criou entre a população devido à falta de informações sobre o projeto. Os habitantes alegam, por exemplo, não terem sido informados sobre quanto tempo levará a execução dos trabalhos e se haverá ou não desapropriações. Enquanto isso, o comércio local permanece sem funcionar.
Os serviços foram iniciados em setembro do ano passado, pela Secretaria do Turismo do Estado (Setur). O valor da obra é de R$ 12 milhões, provenientes do Programa de Desenvolvimento do Turismo (Prodetur) Nacional, com financiamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
Segundo o presidente da Associação de Moradores do Cumbuco, José Edvaldo da Silva, o objetivo da população não é impor resistência à realização do projeto, e sim, ter ciência do que será feito. “Pelo que nós imaginamos, o projeto em si é muito bom, só que a gente foi apanhado de surpresa. Muita coisa já foi derrubada, e todo mundo fica se perguntando o que vai acontecer”, argumenta.
Edvaldo explica que não houve reunião entre representantes do Governo do Estado e os membros da comunidade local, a fim de esclarecer o que será feito. “Não avisaram a ninguém. Os operários já chegaram quebrando. Deveria ter um cronograma, para que os moradores e comerciantes se preparassem”, opina.
O maior transtorno, na visão do representante dos moradores, reside nos prejuízos gerados ao comércio. Como os serviços estão sendo executados em todas as ruas da vila ao mesmo tempo, as lojas e lanchonetes tiveram que fechar as portas simultaneamente.
“Todo mundo aqui vive de turismo: bugueiros, comerciantes, cavaleiros, artesãos, pescadores. Com as obras acontecendo em todas as ruas ao mesmo tempo, o turista não tem como ficar, e, então, não entra renda na vila. E quem vive de aluguel, como faz para pagar? E as contas de energia? E os impostos? Fora a questão do desemprego”, desabafa José Edvaldo da Silva.
Alta estação
A comerciante Liliane Fioravante, que há quatro anos mantém um estabelecimento na vila, teme pela falta de perspectivas em relação à conclusão das obras, tendo em vista que o período da alta estação se aproxima. “Todo progresso é bem-vindo. Mas é necessário ter uma satisfação para a comunidade. Há muitas pessoas desesperadas, sem saber o que vai acontecer com suas casas”, ressalta.
Outra moradora da região, Cristiane de Paula, também comerciante, diz que já tentou obter respostas junto à Setur, entretanto, não teve sucesso. “Nós pedimos à Secretaria, por meio de ofício, que mostrasse à população e aos comerciantes o projeto. Já faz um ano que pedimos, mas não dão resposta. É dinheiro público que está sendo usado, mas não temos o direito de saber do que se trata”, lamenta.
Cristiane sugere que os trabalhos sejam realizados por etapas, concluindo a primeira para só então passar à seguinte, no objetivo de evitar grandes prejuízos ao comércio. “É uma reação em cadeia, em que todas as fontes de geração de renda param ao mesmo tempo”, explica.
Demolição
Severino Morais, que possuía uma barraca na área em que está acontecendo a obra, foi mais um dos afetados, tendo o estabelecimento derrubado para a execução dos serviços. “Chegaram (os responsáveis pela execução dos trabalhos) à minha casa numa hora em que eu não estava, e pediram para a minha mãe, que já tem mais de 80 anos, assinar um documento. Sem saber o que era, ela assinou e, alguns dias depois, a barraca foi derrubada, dando tempo só que as pessoas saíssem de dentro”, relembra.
De acordo com Severino, o documento assinado pela mãe valeu como consentimento dele para a derrubada do imóvel. A demolição ocorreu em agosto do ano passado “Eles prometeram dar outra barraca, mas não sei quando isso vai acontecer. Enquanto isso, vou vivendo com o que sobrou daquele tempo. Vamos aguardar para ver o que vai acontecer”, anseia.
Por meio da assessoria de imprensa, a Setur informou que “o Projeto de Valorização da Vila do Cumbuco inclui obras de requalificação das calçadas, paisagismo, ordenamento da Vila do Cumbuco, ordenamento do estacionamento para ônibus, carros de passeios e bugues, além da criação de um centro de artesanato”. O órgão também comunica que as intervenções têm previsão de ser concluídas em agosto deste ano.
Contrariando o que dizem os moradores, a Secretaria garantiu que “o projeto foi idealizado juntamente com a comunidade, onde a Setur realizou diversas oficinas para identificar as necessidades de melhorias na Vila do Cumbuco”. A empresa responsável pela execução dos serviços é a Enpecel Engenharia.
Bruno Mota
Repórter
Fonte: Diário do Nordeste
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