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Castanhão pode abastecer 50 cidades durante dois anos

Russas. Mesmo estando no terceiro ano sem receber recarga d´água significativa, o maior reservatório do estado do Ceará, o Castanhão, ainda consegue garantir sua atual demanda de abastecimento por mais dois anos. Trata-se de uma exceção, em vista da baixa capacidade da maioria dos reservatórios do Estado. Nas condições atuais, apenas 50 cidades, dos 184 municípios cearenses, contariam com reservas até 2015, num quadro de recargas insignificantes.

Apesar da recarga insuficiente ocorrida no maior reservatório do Estado, a expectativa é que o fornecimento para Fortaleza e também perímetros irrigados recebam água, considerando, inclusive os ní veis de evaporação FOTO: ELLEN FREITAS

A Agência Nacional de Águas (ANA) realizou um amplo trabalho de diagnóstico e planejamento nas áreas de recursos hídricos e saneamento no Brasil, com foco na garantia da oferta de água para o abastecimento das sedes urbanas em todo o País.

No diagnóstico, nomeado de Atlas de Abastecimento Urbano de Água, foi verificado que a situação dos mananciais e dos sistemas produtores de água quanto ao atendimento das demandas hídricas futuras no Ceará. Dos 184 municípios cearenses, 134 município necessitam de investimentos, seja para ampliação de sistemas de abastecimento ou novos mananciais. Também sobre a situação de oferta da água, tendo como referência os pontos de captação de água bruta, o diagnóstico apontou que a maior parte dos mananciais isolados (superficial/misto ou subterrâneo) estão em localidades com população inferior a 50 mil habitantes.

Dos 184 municípios estudados, o diagnóstico aprontou que 133 requerem investimentos em abastecimento de água, resultado do saldo negativo (déficit) entre a oferta e demanda de água. Nos próximos dois anos, o Castanhão ainda garante a demanda de água para Capital e outras regiões.

Recarga

Segundo afirmou o coordenador geral do Complexo Castanhão, José Ulisses de Souza, do DNOCS, a água esta sendo usada “de forma disciplinada”.

As chuvas deste ano resultaram em uma recarga de 50 milhões de m³ para o açude, volume considerado “insignificante” pelo coordenador. Atualmente, o Castanhão encontra-se com 3,3 bilhões de m³, representando 50,44% de sua capacidade total de armazenamento. Porém, a demanda anual é estimada em 1 bilhão de m³, mas segundo Ulisses, esse valor não chega a ser utilizado.

“A gente tem uma demanda anual prevista de 1 bilhão de m³, mas nós só utilizamos cerca de 850 milhões de m³ e isso nos garante uma cerca folga se houver necessidade de aumento desta demanda. Como a chuva foi praticamente zero nos últimos três anos, estamos utilizando a água de forma disciplinada”, explica Ulisses.

Essa demanda é especialmente para o abastecimento da Região Metropolitana de Fortaleza e para perenização do rio Jaguaribe, onde nele há a captação da água para o perímetro irrigado Jaguaribe/Apodi, no Vale do Jaguaribe. Atualmente o açude bombeia 10 mil litros por segundo de água para o abastecimento da capital através do canal Eixão das Águas e libera mais 12 mil litros por segundo para o rio Jaguaribe, até a cidade de Fortim, beneficiando uma população de cerca de 600 mil pessoas. Mesmo que haja mais dois anos de seca, o reservatório possui recursos para continuar atendendo a esta demanda.

Contraste

A cada semestre ou a caráter emergencial, os Comitês de Bacias, a Companhia de Gestão de Recursos Hídricos (Cogerh) e o Dnocs solicitam a atualização da válvula dispersora que libera água do Castanhão no leito do rio Jaguaribe. Este ano a válvula chegou a soltar 18 mil litros por segundo, reduziu a liberação para 14 mil l/s e manteve o fluxo nos atuais 12 mil l/s.

A diminuição em pouco mais de 9 metros do nível do Castanhão afetou negativamente a aquicultura. A criação de tilápia no açude responde por 45% da produção anual cearense, que atualmente gira em torno de 27 mil toneladas de peixe no Estado. Por outro lado é notório o contraste na região no entorno do açude. Comunidades circunvizinhas ao açude sofrem com o abastecimento de água. Localidades de Nova Jaguaribara, onde a antiga cidade foi desapropriada para construção do açude, passam sede e recebem água através de carros pipa.

Mais informações

Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos
(Cogerh)
Rua Adualdo Batista, 1550
Telefone: (85) 3218.7020

ELLEN FREITAS
COLABORADORA

Apreensão persiste em Novo Oriente

Novo Oriente. Populações deste município e de Crateús estão preocupadas com o abastecimento de água em 2014. Ao ver a água saindo do Açude Flor do Campo e escorrendo de forma rápida pelo leito do Rio Poty em direção ao Açude Carnaubal, em Crateús, na operação realizada pela Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh) a população deste município começa a ficar temerosa com relação ao seu futuro hídrico. Como ficaremos ano que vem se não houver um bom inverno? É a pergunta que não quer calar dos cidadãos novorientenses.

Moradores de Novo Oriente chegaram a ocupar as margens do reservatório, a fim de impedir a transferência de água até a cidade de Crateús. O medo é que as reservas fique mais baixas e ambas as cidades sejam prejudicadas FOTO: SILVÂNIA CLAUDINO

Na verdade, a pergunta traz em si uma preocupação comum à população também da cidade de Crateús, que recebe a água com a segurança de que em um período de sete meses – até fevereiro de 2014, segundo a própria Cogerh – estará abastecida, e ao mesmo tempo com a incerteza de que em um futuro próximo o colapso poderá de fato se concretizar, caso não haja aporte nos reservatórios pela falta de chuvas, tal como aconteceu na quadra chuvosa deste ano.

Fatores climáticos e ambientais, como o desperdício de milhões de metros cúbicos de água – anunciado pela própria Companhia em seu plano – que ocorrerá na transferência, evaporação intensa nos próximos meses, mortandade de peixes e a incerteza sobre a quadra invernosa de 2014 geram na população a sensação de insegurança quanto ao futuro hídrico na região.

Desperdício

O agricultor José Benevaldo, de Novo Oriente lamenta a transferência e o percentual de água que será desperdiçado na operação. “Fui contra abrir desde o começo porque estraga muita água. A água chega a Crateús, como dizem os técnicos, mas perde muito. E como vai ficar depois, se não chover?”, indaga.

“Sou contra porque haveria meios de levar com mais segurança, com a adutora, que economizaria muita água e depois poderia ser utilizada em projetos de irrigação. Temo que não chova e ano que vem todos nós fiquemos sem água. E ainda que a água fique pouca e os peixes morram e aí a água ficará imprópria para consumo”, diz o pescador Ronildo da Costa, que mora nas proximidades do açude.

O Açude Flor do Campo, atualmente com 14,2 milhões de metros cúbicos de água é um dos poucos reservatórios com razoável volume de água na região, que sofre com a estiagem prolongada desde 2012. O reservatório está abastecendo, além de Novo Oriente, Quiterianópolis e algumas localidade Tauá. E agora, com a operação da Cogerh para evitar o colapso de água em Crateús – cujo reserva hídrica chegou praticamente ao fim – transferirá 7 milhões de metros cúbicos para Crateús.

Essa apreensão com relação ao futuro foi o motor para que comunidades ocupassem margens do reservatório, a fim de impedir o transporte de água até Crateús. Para a Cogerh, a operação de transferência hídrica ocorre com êxito e está concretizando os estudos técnicos do órgão. Chegará ao Açude Carnaubal antes do tempo previsto.

“Em 77 horas a água já percorreu 20km pelo leito do rio – a metade do percurso – e projetamos que em sete dias seja concluída, com a chegada no Açude Carnaubal”, informa Rodrigues Júnior, coordenador do escritório de Crateús, ressaltando que a Companhia acompanha o trabalho por meio de duas equipes de técnicos dispostas ao longo do trecho e maquinários. Medições contínuas são realizadas e desobstruções no leito, quando há necessidade.

Inverno

A Companhia tranquiliza a população de Novo Oriente garantindo que “o volume que ficará no Açude Flor do Campo será suficiente para garantir o abastecimento de água até dezembro de 2014, mesmo na ocorrência de reduzida quadra invernosa em 2014”, garante o coordenador.

Com relação à Crateús, o órgão, segundo a assessoria de imprensa adianta que supõe com base em apontamentos de hidrólogos de órgãos estaduais que 2014 será um ano de bom inverno, embora ainda seja cedo para projeções. E que realiza estudos para evitar colapso no abastecimento da população de 70 mil habitantes de Crateús, caso a quadra invernosa não se confirme.

SILVANIA CLAUDINO
REPÓRTER

Fonte: Diário do Nordeste

 

Zeudir Queiroz