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Avanço do mar no litoral do Ceará ameaça moradias e força obras emergenciais

Mar avança há anos na orla do Icaraí, em Caucaia — Foto: Fabiane de Paula/SVM

O sonho de morar à beira-mar tem se transformado em pesadelo para muitos cearenses. Em diversas cidades litorâneas do estado, o avanço do mar e a erosão costeira estão comprometendo imóveis, forçando mudanças e afetando a economia local.

Icaraí perde faixa de areia e preocupa moradores

Na Praia do Icaraí, em Caucaia, Região Metropolitana de Fortaleza, o impacto já é visível. Entre 1984 e 2020, a faixa de areia da praia recuou quase 110 metros, conforme estudo da Universidade Federal do Ceará (UFC). Moradores relatam como a paisagem mudou drasticamente.

“Nós tínhamos uma margem de areia enorme. Havia dunas, restaurantes. Agora, a água chega à porta dos imóveis”, relembra o professor Antônio Augusto Rocha Leite, que vive em um condomínio à beira-mar.

A situação reflete o que o monitoramento via satélite da UFC apontou: 47% do litoral cearense apresenta algum tipo de erosão, e, em muitos trechos, a faixa de areia praticamente desapareceu.

A causa: desequilíbrio no transporte de sedimentos

A erosão acontece quando a areia perdida pelas praias, arrastada diariamente pelo vento e pelo mar, não é reposta. Esse “reabastecimento” normalmente ocorre por meio dos sedimentos carregados pelos rios. No entanto, a construção de açudes e barragens tem interrompido esse fluxo, agravando o processo erosivo.

Em Icapuí, mar avança mais de um metro por ano

O problema também é grave em Icapuí, município cearense na divisa com o Rio Grande do Norte. Na Praia da Peroba, o mar avança em média 1,5 metro por ano, afetando diretamente moradores, pescadores e empresários da região.

Pelo menos seis das 14 praias de Icapuí sofrem com erosão severa. Casas foram danificadas, pousadas fechadas e até uma escola precisou ser demolida. “Já fiz oito obras de contenção e perdi parte do meu terreno”, lamenta o dono de uma pousada.

Após disputas judiciais, uma obra de espigão foi iniciada na Praia da Peroba. A estrutura tem como função reter a areia e proteger a linha costeira. Para muitos moradores, a construção representa uma última esperança.

Medo e esperança no litoral cearense

“Hoje a maré alta bate na porta. A gente espera recuperar esse espaço. Acho que agora, com essa intervenção, a gente pode voltar a ter o nosso sossego”, afirma o jornalista Luiz Viana, proprietário de uma casa na Praia da Peroba.

A situação de alerta nas praias do Ceará evidencia a urgência de políticas públicas integradas de contenção e prevenção da erosão, que respeitem os ecossistemas e assegurem moradia digna e segura para as populações litorâneas.

Com informações do G1

Zeudir Queiroz