O Sítio do Patu funcionou na década de 1930. Cerca de 20 mil pessoas vindas de diversas partes do estado que tentavam fugir da seca foram confinadas no local.
Um antigo campo de concentração de retirantes da seca no interior do Ceará foi tombado nesta segunda-feira (8). O Sítio Histórico do Patu, no município de Senador Pompeu, funcionou de 1932 a 1933, e estima-se que abrigou cerca de 20.000 pessoas oriundas de diversas partes do estado que chegavam ao local a pé ou de trem.
O tombamento definitivo do Sítio Histórico do Patu foi aprovado em reunião extraordinária do Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Cultural do Estado do Ceará (Coepa), na Biblioteca Pública Estadual do Ceará (Bece).
“Tão importante quanto a preservação do Sítio Histórico, é trazer à tona as histórias de vida das pessoas que ali estiveram e como a seca de 1932 institucionalizou as práticas de confinamento. O reconhecimento de um crime contra a humanidade, na figura dos mais pobres. É uma memória sensível, é uma memória de dor”, afirma Jéssica Ohara, coordenadora de Patrimônio (Copam), da Secult Ceará.
“São memórias sensíveis, são memórias dolorosas. É para que isso seja ressignificado em resistência, para que não mais aconteça”, afirma o secretário da Cultura, Fabiano Piúba.
Embora guardem marcas de momentos cruéis na vida de retirantes, estas áreas, ressaltam historiadores, apesar de serem chamadas de campos de concentração, não podem ser associadas aos campos de extermínio que existiram na Alemanha, durante o regime nazista.
A semelhança está atrelada à ideia de controle sobre uma determinada população. No mais, os campos de concentração do Ceará não tinham a finalidade de exterminar a população abrigada, apesar de as condições sanitárias desses locais configurarem riscos profundos aos retirantes.
Sítio Histórico do Patu
A estrutura era utilizada para abrigar “retirantes da seca”, termo usado para descrever pessoas que deixaram suas casas e cidades onde moravam com a intenção de fugir dos efeitos da estiagem. O Ceará teve, inclusive, oito espaços como este.
Erguidos em dois momentos distintos — em 1915 e 1932 — os campos de concentração eram espaços de aprisionamento espalhados estrategicamente em rotas de migração no estado para evitar que os chamados “flagelados da seca” chegassem a Fortaleza, em busca de auxílio.
Na década de 30, aproveitando-se da estrutura deixada pelos ingleses, os retirantes podiam ser trazidos pela via férrea até dentro do campo, já que havia uma estação própria para recebimento de pessoas e suprimentos.
As pessoas eram levadas até o lugar e depois impedidas de sair, sendo vigiadas por guardas e até colocadas em prisões improvisadas caso se rebelassem contra a ordem vigente.
Nesse contexto aconteceram inúmeras fugas, depois relatadas por sobreviventes. O campo registrava uma grande quantidade de mortes por dia, com as pessoas sendo jogadas em valas comuns cavadas pelos próprios flagelados.
No registro de sobreviventes, é possível entender que as pessoas entravam por um portão vigiado e depois eram impedidas de sair, só sendo levado para outros campos ou para realizar atividades de interesse público, como a construção de açudes, estradas e ferrovias.
Os homens, mulheres e crianças que eram capazes de trabalhar eram recrutados para as atividades de manutenção do campo ou para as obras públicas. Não era permitido que as crianças brincassem e ficassem soltas no campo. Os guardas eram instruídos a impedir que as pessoas saíssem desse local. Muita gente ficava ao relento com a falta de material para construção de novos barracões.
Os relatos mostram que não havia campanhas de prevenção a doenças, muito menos era oferecido a estrutura mínima para que isso ocorresse. Não havia médicos disponíveis, nem suprimentos suficientes para tratar os flagelados. Além da falta de informação que essas pessoas eram obrigadas a passar, a ponto de esconderem seus mortos para que os médicos não os abrissem.
Fonte: https://g1.globo.com/
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