Juazeiro do Norte São 78 anos de morte do Padre Cícero Romão Batista e a reverência ao sacerdote só aumenta. Mesmo que o Vaticano ainda não tenha se pronunciado sobre a reabilitação das ordens ao sacerdote, a multidão de devotos é expressiva. A prova é constante, como a de ontem, quando 40 mil católicos celebraram os 78 anos de morte do “Padrinho dos Romeiros”. Assim se referiu o bispo da Diocese do Crato, durante a missa realizada na Praça da Capela do Socorro, às 6 horas.
Ele disse que “os sinais” que devem vir para a reabilitação do “Padrinho dos Romeiros”, ainda não apareceram para dar mais esperança aos fiéis. Seis anos depois de uma comissão ter ido a Roma para entregar documentos, um dossiê de 11 volumes que poderá mudar a história do Padre Cícero, não há informações atualizadas sobre o andamento do processo.
O Diário do Nordeste acompanhou, com exclusividade, em maio de 2006, a comitiva composta de autoridades eclesiásticas e intelectuais que trabalharam para elaboração dos relatórios. Os documentos foram entregues ao cardeal Josef William Levado, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé.
E a força da fé de milhões de seguidores em todo o Nordeste e Brasil pode ser vista em momento de celebração, como e missa de ontem.
A Praça do Socorro ainda está em obras, como parte do projeto Roteiro da Fé, mas foi aberta para acolher os romeiros que participam da tradicional missa do dia 20 de julho.
Juazeiro do Norte festeja os 101 anos de emancipação, amanhã, e a cidade realiza a Semana do Município iniciada no último dia 18. Ontem, foi lançada, ainda em referência aos 100 anos do Município, a Coleção de Cordel Centenária, com 50 reedições de clássicos do cordel e mais 50 inéditos.
Serão distribuídos 100 mil folhetos, com participação dos xilógrafos de Juazeiro na ilustração das capas. O Diário do Nordeste, em homenagem ao aniversário da cidade, circula amanhã com edição especial deste caderno, sobre Juazeiro do Padre Cícero e sua importância social, econômica, cultural e religiosa.
Antes de morrer, aos 90 anos, o Padre Cícero havia sido suspenso de ordens sacerdotais. O pedido de reabilitação reacende a esperança dos romeiros para a canonização do sacerdote, perante a Igreja Católica. Mas, antes disso, viria o processo de beatificação. Para muitos, como o romeiros Cícero Jerônimo Costa, poderá acontecer, mas primeiro vem Deus e depois o ´Padim´, como carinhosamente chama, quem para ele já é um santo.
Padre Cícero é a maior referência quando se trata da criação de uma das maiores cidades do Interior do Estado. Ele foi o primeiro prefeito, o sacerdote que arrebanhou multidões aconselhando os sertanejos, e foi o protagonista, com a beata Maria de Araújo, do propalado “milagre” do sangramento da hóstia, em 1889. A comunhão, segundo dados históricos, sangrou por várias vezes na boca da beata mas, com a presença do Padre Cícero, o fenômeno adquiriu amplitudes, que até então eram inimagináveis. Até hoje, o resultado desse “milagre” acontece todos os dias nas ruas de Juazeiro, cidade que recebe mais de 2 milhões de devotos e visitantes por ano.
O Natal de 1871 marcaria para sempre a história não somente do Padre Cícero, mas de milhões de nordestinos. Foi neste ano, que o religioso pisou pela primeira vez no que mais tarde seria a cidade de Juazeiro do Norte. Ainda era Crato, sua cidade de nascimento. Um ano depois, o sacerdote assumiu uma paróquia no lugar denominado Tabuleiro Grande.
A insistência do milagre foi vista pela Igreja Católica, que não concordou com a hipótese de uma mulher pobre e negra do sertão nordestino vivenciar tal fenômeno, provocando a suspensão de ordens sacerdotais e excomunhão do Padre Cícero, em 1892. A beata foi enclausurada. Os restos mortais da religiosa ainda hoje são procurados.
Mesmo com o posicionamento da Igreja, os fiéis não deixaram de vir para Juazeiro e as romarias aumentaram. O religioso acabou se tornando uma espécie de “santo popular”.
A devota Luiza Maia Mendonça, de Alagoas, se emociona ao falar da sua trajetória como romeira. Presente na missa de ontem, ela lembra que há 28 anos esteve em Juazeiro na mesma data para participar da celebração. Para ela, é um momento único. “Como pode esse homem não ser um santo, arrebanhando tanta gente para a igreja?”, questiona. Para ela, só há uma explicação: “Padre Cícero é um santo”. Já fez promessas e teve atendidos os seus pedidos. Caminha em pagamento, descalça pelas procissões.
O escritor, jornalista e contemporâneo do sacerdote, Geraldo Menezes Barbosa, com 88 anos, afirma que a demora sobre algum posicionamento já era esperada. “Existem processos no Vaticano com mais de 400 anos. Mesmo assim, depois de décadas de luta pelo reconhecimento, o romeiro não perde a crença”.
Mais informações:
Cúria Diocesana
Rua Teófilo Siqueira, 631, Centro
Município do Crato – Cariri
Telefones: (88) 3523.7819
(88) 3521.1110
ELIZÂNGELA SANTOS
REPÓRTER
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