Eleições 2024

Mesmo com jogo, Brasil nunca terá uma Las Vegas, diz ex-prefeita

Jan Jones defende que o jogo não é viciante como o cigarro e que é possível criar meios de barrar dependentes

las-vegasAinda que seja aprovada a legislação que tramita em Brasília para liberar jogos de azar no Brasil, o país nunca terá uma Las Vegas.

A opinião é de Jan Jones Blackhurst, ex-prefeita da capital do jogo, que depois de seus dois mandatos, na década de 1990, empregou-se no Caesars Entertainment, gigante dos cassino-resorts do qual é vice-presidente responsável pela área de relações com governos.

Ela diz que a cidade é irreplicável porque foi construída em um deserto, como se fosse uma tela em branco.

Blackhurst defende que o jogo não é viciante como o cigarro e que é possível criar meios de barrar dependentes.

***

Folha – Como avalia os projetos de lei em andamento?

Jan Jones Blackhurst – Ainda estão em desenvolvimento. Mas, para atrair grandes operadores americanos, o regime regulatório é importante. Temos licenças no mundo todo e não vamos colocá-las em risco

para operar numa jurisdição que não tenha definições transparentes. É preciso ter certeza de que as regulações federal, estadual e municipal estejam de acordo entre si.

Para onde o governo deveria direcionar a receita?

Tem de garantir que os centros de entretenimento sejam acessíveis. Isso se faz com infraestrutura. Mas, ao mesmo tempo, é possível melhorar a infraestrutura para a comunidade. Quando fui prefeita, foram colocados milhares de novos quartos de hotel na cidade. Mas foram também bilhões em infraestrutura, rodovias, expansão de aeroportos, distribuição de água, habitação, escolas.

O que diz sobre o receio de que facilita lavagem de dinheiro?

Precisa ter estrutura regulatória correta. Há modelos nos EUA, na Austrália, que são bem construídos para combater lavagem de dinheiro. O Brasil tem que garantir isso.

O projeto limita poucos cassinos por Estado. Não deveria ser como Las Vegas, com muitos deles juntos?

Las Vegas era uma tela em branco, um deserto. O Brasil já tem cidades densas. Nunca vão conseguir replicar. É melhor olhar o que já existe e depois construir resorts que complementem.

Las Vegas era uma cidade completamente nova. Poderia ser construída do nada. E o Brasil não precisa disso, tem boas razões para atrair turistas. Pode incorporar a experiência com shoppings e restaurantes, casas noturnas. Só precisa construir mais instalações. Em Las Vegas, ao mesmo tempo em que foram construindo os hotéis, também construíram centros de convenções. Temos 92% de ocupação nos hotéis porque ocupamos durante a semana com outros eventos.

Os grandes jogadores são fiéis às marcas de hotel?

São. Há cassino-hosts, um anfitrião que ajeita tudo. É uma relação em que importa o modo como você é tratado, a hospitalidade, se sabemos seu nome. Por isso temos um programa de fidelidade.

E o vício?

Cerca de 2% das pessoas que jogam se viciam. Mas o cassino não causa o vício. Elas provavelmente seriam viciadas de qualquer maneira. No Brasil, já há pessoas com problemas, mas elas não têm serviços de apoio.

Como proteger o viciado?

Com conscientização e campanhas que mostrem às pessoas que, se elas têm o problema, há um número em que podem ligar. O governo deve usar parte da receita para levantar fundos para isso. Todos os nossos funcionários são treinados para identificar isso. Se o consumidor demonstrar que está tendo problemas, podemos nos aproximar e dizer onde buscar ajuda. O cliente pode se excluir ou se restringir.

Como?

Há uma base de dados. Se você for um cliente com restrições e tentar fazer check-in em um hotel ou usar o seu cartão de jogo, nós o reconhecemos. Se você ganhar um jackpot [prêmio acumulado] estando com restrição declarada, podemos doar para caridade.

Algumas pessoas dizem que jogar causa problemas. Não é isso. Pessoas que têm a patologia têm problemas. Cigarro é viciante. Jogo, não.

RAIO-X

Para compartilhar esse conteúdo, por favor utilize o link http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2016/11/1836041-mesmo-com-jogo-brasil-nunca-tera-uma-las-vegas-diz-ex-prefeita.shtml ou as ferramentas oferecidas na página. Textos, fotos, artes e vídeos da Folha estão protegidos pela legislação brasileira sobre direito autoral. Não reproduza o conteúdo do jornal em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização da Folhapress (pesquisa@folhapress.com.br). As regras têm como objetivo proteger o investimento que a Folha faz na qualidade de seu jornalismo. Se precisa copiar trecho de texto da Folha para uso privado, por favor logue-se como assinante ou cadastrado.
Cargo: Vice-presidente-executiva de comunicações e relações com o governo do Caesars Entertainment.

Trajetória: Prefeita de Las Vegas entre 1991 e 1999.

Formação: Graduada em Inglês pela Universidade Stanford.

(Folha de São Paulo – Joana Cunha – De São Paulo)

Fonte: http://www.bnldata.com.br/

Zeudir Queiroz