Jan Jones defende que o jogo não é viciante como o cigarro e que é possível criar meios de barrar dependentes
Ainda que seja aprovada a legislação que tramita em Brasília para liberar jogos de azar no Brasil, o país nunca terá uma Las Vegas.
A opinião é de Jan Jones Blackhurst, ex-prefeita da capital do jogo, que depois de seus dois mandatos, na década de 1990, empregou-se no Caesars Entertainment, gigante dos cassino-resorts do qual é vice-presidente responsável pela área de relações com governos.
Ela diz que a cidade é irreplicável porque foi construída em um deserto, como se fosse uma tela em branco.
Blackhurst defende que o jogo não é viciante como o cigarro e que é possível criar meios de barrar dependentes.
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Folha – Como avalia os projetos de lei em andamento?
Jan Jones Blackhurst – Ainda estão em desenvolvimento. Mas, para atrair grandes operadores americanos, o regime regulatório é importante. Temos licenças no mundo todo e não vamos colocá-las em risco
para operar numa jurisdição que não tenha definições transparentes. É preciso ter certeza de que as regulações federal, estadual e municipal estejam de acordo entre si.
Para onde o governo deveria direcionar a receita?
Tem de garantir que os centros de entretenimento sejam acessíveis. Isso se faz com infraestrutura. Mas, ao mesmo tempo, é possível melhorar a infraestrutura para a comunidade. Quando fui prefeita, foram colocados milhares de novos quartos de hotel na cidade. Mas foram também bilhões em infraestrutura, rodovias, expansão de aeroportos, distribuição de água, habitação, escolas.
O que diz sobre o receio de que facilita lavagem de dinheiro?
Precisa ter estrutura regulatória correta. Há modelos nos EUA, na Austrália, que são bem construídos para combater lavagem de dinheiro. O Brasil tem que garantir isso.
O projeto limita poucos cassinos por Estado. Não deveria ser como Las Vegas, com muitos deles juntos?
Las Vegas era uma tela em branco, um deserto. O Brasil já tem cidades densas. Nunca vão conseguir replicar. É melhor olhar o que já existe e depois construir resorts que complementem.
Las Vegas era uma cidade completamente nova. Poderia ser construída do nada. E o Brasil não precisa disso, tem boas razões para atrair turistas. Pode incorporar a experiência com shoppings e restaurantes, casas noturnas. Só precisa construir mais instalações. Em Las Vegas, ao mesmo tempo em que foram construindo os hotéis, também construíram centros de convenções. Temos 92% de ocupação nos hotéis porque ocupamos durante a semana com outros eventos.
Os grandes jogadores são fiéis às marcas de hotel?
São. Há cassino-hosts, um anfitrião que ajeita tudo. É uma relação em que importa o modo como você é tratado, a hospitalidade, se sabemos seu nome. Por isso temos um programa de fidelidade.
E o vício?
Cerca de 2% das pessoas que jogam se viciam. Mas o cassino não causa o vício. Elas provavelmente seriam viciadas de qualquer maneira. No Brasil, já há pessoas com problemas, mas elas não têm serviços de apoio.
Como proteger o viciado?
Com conscientização e campanhas que mostrem às pessoas que, se elas têm o problema, há um número em que podem ligar. O governo deve usar parte da receita para levantar fundos para isso. Todos os nossos funcionários são treinados para identificar isso. Se o consumidor demonstrar que está tendo problemas, podemos nos aproximar e dizer onde buscar ajuda. O cliente pode se excluir ou se restringir.
Como?
Há uma base de dados. Se você for um cliente com restrições e tentar fazer check-in em um hotel ou usar o seu cartão de jogo, nós o reconhecemos. Se você ganhar um jackpot [prêmio acumulado] estando com restrição declarada, podemos doar para caridade.
Algumas pessoas dizem que jogar causa problemas. Não é isso. Pessoas que têm a patologia têm problemas. Cigarro é viciante. Jogo, não.
RAIO-X
Trajetória: Prefeita de Las Vegas entre 1991 e 1999.
Formação: Graduada em Inglês pela Universidade Stanford.
(Folha de São Paulo – Joana Cunha – De São Paulo)
Fonte: http://www.bnldata.com.br/
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