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Expatriados do bingo aguardam volta do jogo para retornar ao país

Dois projetos de lei que tramitam no Congresso podem liberar os jogos de azar no Brasil. A possibilidade reacendeu o interesse de empresários que, após a proibição dos bingos na década passada, deixaram o país e fundaram empresas que se tornaram referência no mercado mundial de equipamentos para salas de bingos e cassinos

Imagem da Web
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A possibilidade de liberação dos jogos de azar no Brasil, que tramita no Congresso, reacendeu o desejo de retorno dos bingueiros expatriados pela proibição da atividade na década passada.

Alguns dos que agora fazem coro em defesa dos dois projetos de lei em andamento na Câmara e no Senado são brasileiros que, após deixarem o país, fundaram empresas que se tornaram referência no mercado mundial de equipamentos para salas de bingo e cassinos.

Forte defensora da liberação, a família Ortiz saiu do Brasil na esteira da decisão do STF que tornou ilegais todos os bingos em 2007.

Alejandro Ortiz e seu irmão Johnny fundaram duas companhias separadas no exterior: a Ortiz e a Zitro, que estão hoje entre as líderes do setor.

Com sede em Luxemburgo, a Zitro tem 25 mil máquinas em 19 países, como México, Argentina, EUA e Espanha.

“Hoje, todos os empresários do setor, brasileiros ou estrangeiros, acompanham a evolução da legislação”, diz Johnny Ortiz, a despeito do trauma que relata ter sofrido.

“Foi um choque, eu dormi empresário e acordei bandido. É difícil imaginar a quantidade de problemas. Tínhamos feito investimentos em um mercado que foi proibido. Passamos a ter de lidar com polícia, Receita, fiscalização.”

Johnny Ortiz e seu irmão Alejandro Ortiz foram convocados pela CPI dos Bingos em 2005, com suspeita de ligações com a máfia italiana, o que a família sempre negou.

DNA brasileiro

Outras famílias levaram os negócios para fora, em uma espécie de diáspora do jogo de azar, que dispersou empresários do ramo no mundo.

No período em que atuaram no Brasil, eles adaptaram as máquinas de bingo com o toque de músicas para jogadas especiais e a bola extra, que permite ao apostador comprar mais bolas com seus créditos, segundo Magno José de Sousa, presidente do Instituto Jogo Legal, que defende a causa.

“Eles perceberam que a máquina importada da época não era tão atrativa. Então adicionaram características e criaram um novo conceito. Esse modelo foi levado e hoje é sucesso no mundo”, diz.

A lei que está em elaboração deverá impedir de atuar no país aqueles que tiverem condenação por crimes.

“Serão exigidos atestados de ausência de antecedentes criminais, certidões negativas de débitos tributários e outros requisitos de idoneidade”, diz o especialista no tema Luiz Felipe Maia, sócio do FYMSA Advogados.

No entanto, mesmo que alguns dos antigos empresários do bingo que pretendem regressar sejam impedidos pelas condenações previstas nos projetos de lei, nada impede que suas operações brasileiras sejam tocadas em nome de outros representantes.

Fabio Kujawski, sócio do escritório Mattos Filho que está acompanhando o assunto, considera que é importante ter critérios para atrair pessoas de reputação ilibada, eliminando a percepção de que a exploração de jogos de azar tem associação criminosa.

“Em países como os EUA, onde as maiores empresas do setor têm capital aberto, não há essa percepção”, diz.

O regresso

Arlindo Figueiredo, que dirige a Ajes, rede que reúne 200 interessados em abrir estabelecimentos para o jogo, diz ser comum o perfil dos que foram empreender no exterior.

Um dos membros, a 7Games, que faz software para bingos e slot machines, tem sede na Flórida. Moacir Filho, presidente da 7Games, diz que está preparando a tradução do software para o português, à espera da legalização.

“Vou fazer o caminho inverso do que fiz em 2001, quando vim para os EUA.”

“Sempre acreditei em voltar”

Em 1994, logo depois que a Lei Zico liberou os bingos no Brasil, os parentes de José Carlos Baungartner resolveram fabricar máquinas de jogos para competir com os modelos chegados da Espanha na época.

Com a ajuda de um tio que era programador e outro que era estatístico, a família montou seu software e, em pouco tempo, as máquinas estavam instaladas no salão de um bingo.

A Vegas Way, que depois se transformou em RCT, chegou a ter 12 mil máquinas no mercado brasileiro.

Mas, quando os bingos foram banidos, em 2007, os Baungartner investiram em uma operação no Peru.

De lá se expandiram para mais de dez países, como México, Guatemala, El Salvador e Costa Rica, e estão em fase de homologação para comercializar nos Estados Unidos.

A RCT tem hoje cerca de 8.000 máquinas instaladas. O patamar é bastante inferior ao que alcançara no Brasil, um mercado de maior potencial.

“O desejo de voltar a trabalhar no Brasil é profissional, por ser um mercado muito grande, mas também temos familiares que ficaram aí e sempre acreditamos que um dia poderemos voltar”, diz Hugo Baungartner, diretor da empresa e filho de José Carlos.

Outra família que abriu empresa na Espanha, ao ver as portas se fecharem para os bingos no Brasil, foi a Escorza, cujo patriarca, Antonio Escorza Antoñanzas, foi alvo da Operação Cartada Final da PF, em 2008. Ele foi investigado por contrabando de itens usados em caça-níqueis.

No mês passado, o filho, Diego Escorza, visitou um congresso do setor em São Paulo. Ele não escondia o interesse em começar a atuar no mercado brasileiro, distribuindo cartões de visita com a marca de uma empresa chamada Brasbingo em um endereço de Joinville (SC). Questionado, Escorza não quis entrar em detalhes sobre seu plano. (Folha de São Paulo – Joana Cunha – De São Paulo)

Fonte: http://www.bnldata.com.br/

Zeudir Queiroz