Profissionais relatam que ficam sem almoço e, às vezes, sem o jantar, que deve ser ofertado onde estão hospedados
Médicos cubanos, participantes do programa Mais Médicos, em Fortaleza, estão enfrentando problemas diariamente para se alimentar. Os profissionais denunciam que chegam a ficar sem almoço e, dependendo do horário que saem do Centro de Saúde em que trabalham, até sem o jantar. Embora hospedados em um das áreas nobres da cidade, a Av. Beira-Mar, o local é longe de onde boa parte trabalha, e o serviço de alimentação se encerra antes que todos os cubanos cheguem das unidades.
O problema ocorre devido à logística do transporte e a moradia dos profissionais. Trabalhando em locais distantes, os médicos acabam perdendo a hora das refeições e não são compensados pelo programa FOTO: ÉRIKA FONSECA
Para ajudar os colegas, funcionários de um posto chegam a fazer “vaquinha” e comprar comida para os médicos não passarem fome. A Regional V, uma das regiões da Capital mais críticas em relação à necessidade de médicos, segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), é um exemplo desse cenário.
A reportagem acompanhou o trabalho de profissionais naquela região. Durante uma consulta, a equipe presenciou um profissional de Cuba recebendo uma sacola com pacotes de biscoitos das mãos de um agente de saúde. O médico confirmou que o alimento seria seu almoço naquele dia e que não fosse a ajuda dos colegas, estaria passando fome. “Quando a gente chega à tarde (à hospedagem), não tem mais almoço, pois é muita gente, e a comida acaba”, garantiu médico o cubano.
O problema está concentrado na logística que envolve o transporte e a moradia dos profissionais. Trabalhando em locais distantes da hospedagem, os médicos chegam a levar até cerca de 1h30min para se deslocarem do trabalho à pousada. O médico encerra o expediente, no turno da manhã, às 13h. O carro que o leva para a hospedagem passa minutos depois. No dia em que a reportagem acompanhou o trabalho do profissional, o motorista chegou às 13h14. Do posto, o carro seguiu para a pousada, onde chegou às 14h43.
Horário
A reportagem telefonou para a hospedagem e confirmou o final do horário do serviço de almoço às 14h30min. Com as atividades encerradas, o médico não tem como se alimentar. No local, os hóspedes têm disponibilizados café da manhã, almoço e jantar. A opção para os cubanos que ficam sem a segunda refeição é aguardar a última.
Os profissionais relatam que uma tentativa de minimizar a dificuldade foi realizada, sem sucesso. Uma pousada foi alugada próximo ao posto visitado mas o local, segundo os médicos, não possuía nem água encanada nem luz elétrica. Os profissionais foram obrigados a retornar ao hotel na Beira-Mar.
As dificuldades enfrentadas pelos cubanos já são de conhecimento da coordenação do programa Mais Médicos. O coordenador do programa em Fortaleza, José Carlos Souza Filho, admite ciência dos problemas com a logística envolvendo os cubanos. “A dificuldade que temos é de conseguir a moradia dos profissionais em locais mais perto das Regionais onde estão inicialmente locados. Não temos conseguido alugar moradias perto das Regionais. Por conta disso, estamos locando casas ou apartamentos mobiliados, e nem sempre é tão fácil conseguir”, justifica o gestor.
O coordenador ressalta que o programa ainda busca se adaptar às condições da própria cidade para melhorar a situação. “Nesse momento inicial, nossa logística de transportes ainda está se adequando ao horário de atendimento dos postos e à logística do trânsito da cidade. À medida que o tempo vai passando, nós vamos melhorando essa condição e acredito que eles vão melhorar a pontualidade (da chegada ao hotel)”, garantiu.
O coro é endossado pelo secretário de Gestão Estratégica e Participativa do Ministério da Saúde, Odorico Monteiro. “Uma das dificuldades que estamos tendo nas capitais do Brasil é de moradia e alimentação, e a logística de transporte”, disse, acrescentam do que a dificuldade não é um problema exclusivo de Fortaleza, mas ocorre em outras capitais devido à quantidade de profissionais.
O prazo para solução do problema, de acordo com José Carlos, é o mês de janeiro. “Nesta época de fim de ano, o mercado imobiliário aquece mais e fica mais complicado para alugar e disponibilizar apartamentos. Hoje, uma parte dos médicos está no hotel (na Beira-Mar) e outra em apartamentos. Mas em janeiro a tendência é que devemos colocá-los nos apartamentos”, prometeu.
Avaliação
Apesar das denúncias, o coordenador do programa avalia como “positiva” a atuação dos cubanos. “A população tem elogiado bastante o trabalho deles. É o atendimento humanizado. Esses problemas acontecem por estarmos em momento de ajustes”, justificou José Carlos.
Odorico também reforça a boa aceitação que os médicos tiveram pela população, especialmente, no Nordeste. “Os relatos são muito positivos. A aceitação no Nordeste é de mais de 90%. É quase unanimidade. Aqui no Ceará são 556 médicos para 1,1 milhão de cearenses tendo atendimento. Isso não tem preço”, comemorou.
LEVI DE FREITAS
REPÓRTER
Diário do Nordeste
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