Ele surgiu no mesmo ano do Facebook, atingiu um sucesso estrondoso no Brasil, mas agora, dez anos depois, está com data marcada para sair de cena. Esse é o Orkut, a ferramenta do Google que serviu para apresentar a mais de 40 milhões de brasileiros o conceito de rede social. O site – então classificado como “rede de relacionamento” – conseguiu atrair os cliques de 70% das pessoas que acessavam a internet em 2008. Em 2011, chegou a contar com 43 milhões de perfis ativos no país. Com o tempo, esse contingente migrou para o Facebook, que superou o Orkut em dezembro de 2011, com 36,1 milhões de visitantes únicos, segundo a ComScore.
O Orkut iniciou 2014 com 6 milhões de perfis ativos. Agora, o Google alega falta de audiência como motivo para desativá-lo em 30 de setembro – contra a vontade de muitos usuários que estão se mobilizando para evitar o seu ocaso. A ideia da empresa é concentrar os esforços no Google +, serviço criado em 2011 mas que não decolou na preferência dos usuários.
Saudosismo
Enquanto boa parte dos usuários se mantém ativa no Facebook, muitos simplesmente deixaram de acessar o Orkut e abandonaram por lá seus perfis. Mas, como ele foi a primeira “rede de relacionamento”, como não lembrar das amizades e romances ali iniciados, dos usuais depoimentos que os amigos escreviam? Por isso, o site gera tanta recordação e tem um lugar tão especial na memória dos usuários – em um nível que nenhuma outra rede social atingiu.
“Foi através do Orkut que muitos reencontraram amigos de infância”, diz Alexandre Inagaki, consultor de comunicação em mídias digitais. “O Orkut foi o site que alfabetizou digitalmente os brasileiros. Foi a primeira vez em que muitos criaram sua própria página pessoal, postando fotos e textos”, afirma.
O ponto forte do Orkut acabou sendo as comunidades. As pessoas se empolgavam em fazer parte de determinadas comunidades, como uma forma de revelar traços de sua personalidade. “Houve época em que parecia existir uma comunidade no Orkut para praticamente todos os assuntos”, recorda Inagaki.
Ainda mantendo uma vasta gama de comunidades que reúnem os usuários sobre assuntos dos mais diversos, o Orkut é hoje uma “cidade fantasma” que não quer aceitar a morte. E se depender de alguns usuários, o Orkut não vai “morrer”. Na última segunda-feira, dia 30, três horas depois de o Google anunciar que o site sairá do ar em setembro, já havia uma petição online contra o fim do serviço.
Ciclo de vida
A verdade é que o Orkut se tornou aquele amigo querido do qual todos guardam boas recordações mas que poucos vão visitá-lo. Segundo dados do serviço Alexa, da Amazon, a rede social criada pelo engenheiro turco Orkut Büyükkokten é hoje o 454º na lista de sites mais acessados no Brasil. No topo da lista está o Facebook, que também um dia pode perder a preferência dos internautas, como já aconteceu com outras redes sociais que eram moda há alguns anos – MySpace, Friendster são exemplos – e parecem ter vivido um ciclo natural de ascensão e decadência. Um estudo feito por dois doutorandos da Universidade de Princeton já apontou que até o ano de 2017 o Facebook terá perdido 80% de usuários.
Para o consultor Alexandre Inagaki, o que fez o Orkut ficar para trás foi a falta de constância na implementação de novos recursos e inovações. “Internet é um meio que exige constantes reinvenções e inovações. Se um site não é atualizado constantemente, tanto em termos de conteúdos como tecnologicamente, fica estancado no tempo e torna-se rapidamente defasado, sendo superado por novidades que surgem a toda hora”, comenta Inagaki. “O Google, ao deixar de investir em novas features para o Orkut, como um aplicativo para mobile, implementação de feeds para acompanhar atualizações de comunidades ou de filtros eficientes que pudessem evitar o acúmulo de spams nos scrapbooks, praticamente relegou seu produto ao esquecimento”.
Na opinião do consultor, o Facebook tem fugido do destino ao qual se dirige o Orkut ao trazer novos recursos com frequência, recorrendo até mesmo à compra de novos aplicativos que têm atraído usuários. “Por enquanto, o Facebook tem conseguido evitar essa armadilha, implementando novas features e algoritmos, além de adquirir produtos complementares como Instagram e WhatsApp. O Facebook terá prazo de validade limitado se não for mais capaz de se inovar constantemente”, declara.
A universitária cearense Daniela Fernandes está entre os usuários que chegaram a criar uma conta no Orkut mas que hoje preferem o Facebook. E, para ela, a rede social de Mark Zuckerberg já está caminhando para se tornar um “Orkut”. “Eu acho que o Face hoje já está quase um Orkut. Só falta a gente saber quem nos visita e receber aqueles depoimentos”, diz a usuária. “Estou torcendo para que inventem algo melhor que o Facebook. Sou usuária não é nem tanto por gostar, e sim porque hoje acaba sendo uma necessidade de comunicação”, afirma Daniela.
Fatos Sobre orkut
A rede social tem o nome Orkut porque foi desenvolvida por um engenheiro turco do Google chamado Orkut Büyükkokten. O profissional criou o site no tempo livre que o Google oferece aos funcionários para que eles pensem em novos projetos.
Quando estreou em 2004, o Orkut só aceitava como usuário quem tinha um convite de alguém que já fizesse parte da rede social.
Hoje, Orkut Büyükkokten abandonou seu perfil no Orkut, mas tem contas no Google+, Twitter e no Facebook.
As comunidades mais populares eram “Eu amo minha mãe”, com 4,5 milhões de membros, e “Eu Odeio Acordar Cedo ” , com 6,1 milhões.
O Orkut jamais conseguiu repetir no resto do mundo o sucesso que teve no Brasil. Somente na Índia chegou a ter popularidade semelhante.
Até hoje, o Orkut apresenta na página principal de cada perfil a “Sorte do dia”, com frases como “Paciência é uma virtude” e “Espere para breve grandes emoções”.
Uma das características mais marcantes era a que o usuário podia ver quem tinha acessado seu perfil (se também permitisse ser visto).
Fonte: Diário do Nordeste
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