Em trechos de gravações com o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, o ex-presidente da República José Sarney se queixa das decisões tomadas pelo juiz Sérgio Moro em investigações contra corrupção – que chamou de “ditadura da Justiça” – e comenta sobre o afastamento de Dilma Rousseff, que, segundo Sarney, vai resistir “até a última bala” no processo de impeachment. Os trechos foram divulgados nesta quinta-feira, 26, pelo Jornal Nacional, da TV Globo. Segundo o telejornal, as conversas foram gravadas em março. Machado fez acordo de delação premiada e se tornou colaborador da Justiça.
Na conversa gravada, Sarney e Machado criticam os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), a mídia e a comunidade jurídica por não se manifestarem contra as ações de Sérgio Moro, que é responsável por autorizar as ações da Operação Lava Jato.
De acordo com o telejornal, Sarney diz que “Moro está perseguindo por besteira”. Machado responde que “esse homem tomou conta do Brasil. Inclusive, o Supremo fez porque é pedido dele. Como é que o Toffoli e o Gilmar fazem uma p*** dessa? Se os dois tivessem votado contra não dava. Nomeou uns ministros de m*** com aquele modelo”. “Não teve um jurista que se manifestasse. E a mídia tá parcial assim. Eu nunca vi uma coisa tão parcial. Gente, eu vivi a revolução. Não tinha esse terror que tem hoje, não. A ditatura da toga tá f***”, acrescentou o ex-presidente da Transpetro.
José Sarney disse que “a ditadura da Justiça tá implantada, é a pior de todas”. Em seguida, Machado respondeu: “E eles vão querer tomar o poder. Pra poder acabar o trabalho”
Eduardo Cunha e eleições
Na conversa, Sarney afirma que quem deveria assumir a presidência é Eduardo Cunha, antes da realização de eleições. O deputado, que era o terceiro na linha sucessória, acabou afastado da presidência da Câmara pelo Supremo Tribunal Federal (STF) algumas semanas depois da gravação da conversa. No caso de um novo pleito presidencial, ambos avaliam que o senador Aécio Neves (PSDB-MG) não sairia “de jeito nenhum” vitorioso, e dizem acreditar na força de um juiz como candidato. Dois meses antes de Dilma ser afastada pelo Senado, quando a conversa foi gravada, Machado e Sarney dizem que a presidente deve “sair de qualquer jeito”, e especulam que o vice-presidente Michel Temer, hoje presidente interino, deve cair em seguida.
No áudio, Machado pergunta a Sarney se Michel Temer não assumisse a presidência do país quem seria o nome. Sarney responde que deverá ser eleição e assumirá um “Joaquim Barbosa desses da vida”. Machado responde que será “um Moro. O Aécio pensa que vai ser ele, não vai ser não”. Sobre a possibilidade de Aécio Neves assumir, Sarney diz “que não vai ser ele, de jeito nenhum”.
Então, Machado questiona quem assumiria a presidência. Sarney diz que será Eduardo Cunha. Machado reforça: “Ele não vai abrir mão de assumir, não”.
“No Supremo não tem. Não tem ninguém que tenha competência pra tirá-lo. Só se cassarem o mandato dele. Fora daí, não tem. Como é que o Supremo vai tirar o presidente da Casa?”, acrescenta Sarney, conforme a reportagem.
Dilma Rousseff
Na conversa gravada, tanto Machado quanto Sarney reclamam da insistência de Dilma em permanecer no cargo. Segundo o ex-presidente, ela irá resistir “até a última bala”. Para ele, Lula estaria em depressão. “Ela não sai. Resiste. Diz que até a última bala”, diz Sarney.
Em outro trecho, Machado pergunta se “acabou o Lula”. Sarney responde que sim e diz que “Lula, coitado, ele está numa depressão tão grande.” Machado afirma que “não houve nenhuma solidariedade da parte dela”
O ex-presidente Sarney diz ainda que os empresários e políticos não devem arcar sozinhos com os problemas envolvendo a Petrobras. “Tudo isso foi… É o governo, meu Deus! Esse negócio da Petrobras são os empresários que vão pagar, os políticos! E o governo que fez isso tudo?”
Respostas
Ao Jornal da Globo, Sarney deu resposta semelhante a da nota divulgada na quarta-feira, 25, quando se queixou do vazamento de conversas particulares suas com Machado, afirmando que sua relação com o ex-presidente da Transpetro é de amizade. “As conversas que tive com ele nos últimos tempos foram sempre marcadas, de minha parte, pelo sentimento de solidariedade, característica de minha personalidade. Nesse sentido, muitas vezes procurei dizer palavras que, em seu momento de aflição e nervosismo, levantassem sua confiança e a esperança de superar as acusações que enfrentava”, disse Sarney.
As conversas entre Machado e membros da cúpula do PMDB começaram a vir à tona na última segunda-feira, 23, quando o jornalFolha de S. Paulo publicou trechos de áudios em poder da Procuradoria-Geral da República (PGR) em que, segundo a reportagem, o ministro do Planejamento Romero Jucá teria sugerido a formação de um “pacto” para conter a Lava Jato. Jucá anunciou que iria se licenciar do cargo e foi exonerado no dia seguinte.
Na sequência, a divulgação pela imprensa de trechos inéditos de conversas gravadas por Machado com o presidente do Senado, Renan Calheiros, e o ex-presidente José Sarney indicam a preocupação com os desdobramentos da Lava Jato por parte dos políticos, que estariam articulando para restringir as consequências da operação.
Nesta quinta-feira, 26, em nota divulgada pela presidência do Senado, Renan disse que “não tomou nenhuma iniciativa” ou fez gestões para “dificultar ou obstruir” as investigações da Operação Lava Jato. Segundo o texto, as investigações da Lava Jato são “intocáveis”.
Agência Brasil e O Povo
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