Ganhou fôlego, neste domingo, o questionamento quanto à suposta intervenção do ministro JoaquimBarbosa, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) na prisão da jornalista brasileira nos EUA Cláudia Trevisan, do diário conservador paulistano Estado de S. Paulo. A repórter foi levada para a prisão, algemada com as mãos nas costas, em um camburão, por tentar entrevistar o magistrado após uma palestra na Universidade de Yale em New Haven, no Estado norte-americano de Connecticut.
Em um artigo publicado no site Diário do Centro do Mundo, o renomado jornalista Paulo Nogueira vai direto ao assunto: “E a pergunta que está todo mundo se fazendo é: qual foi o papel de JoaquimBarbosa no episódio do qual resultou a prisão, por cinco horas, da jornalista brasileira Cláudia Trevisan, do Estadão?”, e responde:
“Pode ser nenhum, é certo. Mas as especulações se multiplicam. Cláudia tentava entrevistar JB depois de um seminário do qual ele participou na Universidade de Yale, nos Estados Unidos. Ele a avisara de que não iria falar com a mídia, e então Cláudia planejou abordá-lo na saída. A polícia apareceu e a deteve. Algemada, passou por um constrangimento que incluiu uma cela na delegacia na qual, para fazer xixi, tinha uma privada em que podia ser observada por policiais”.
Nogueira lembra que “Cláudia foi acusada de ‘invasão de propriedade’, e ainda terá uma dor de cabeça jurídica para resolver nas próximas semanas. Mas ela simplesmente entrou em Yale, como tanta gente. Não ‘invadiu’. Segundo seu relato, Joaquim Barbosa sabia que ela tentaria entrevistá-lo. Teria ele pedido providências à direção da universidade para se livrar da indesejada repórter? É uma hipótese que faz sentido”.
“Joaquim Barbosa já tinha uma pendência com o Estadão. Destratou um jornalista do Estadão que lhe perguntou sobre os R$ 90 mil em dinheiro público que ele gastou na reforma dos banheiros de seu apartamento funcional em Brasília. O caso de Yale pega Joaquim Barbosa num momento particularmente ruim. Ele saiu desmoralizado das sessões das quais resultou a aprovação dos embargos para réus do ‘mensalão’. Agiu como acusador, não como juiz, fez chicanas, facilitou a pressão da mídia sobre magistrados, sobretudo Celso de Mello – e com tudo isso acabou miseravelmente derrotado”, afirma o jornalista.
Em seu artigo, Paulo Nogueira, que está baseado em Londres, frisa que “já entrou para o anedotário jornalístico brasileiro a capa da Veja que o classificou como ‘o menino pobre que mudou o país’. Aliás, até hoje pela manhã, os leitores da Veja ignoravam a prisão da jornalista do Estadão, noticiada até pela rival Folha e pelo Globo, tão amigo de JB. Modestamente, o DCM nota que parece ter surtido efeito uma informação que demos sozinhos, relativa a uma outra viagem de JB, para a Costa Rica. Ele patrocinou, então, uma boca livre para jornalistas com o dinheiro público, e a bordo de um avião da FAB. Desta vez, JB não levou, pelo visto, jornalistas para escreverem coisas laudatórias sobre sua viagem”.
“É um progresso”, disse, “mas melhor ainda seria se ele dedicasse seu tempo não a visitar Yale e sim a resolver processos que se arrastam sob sua órbita, como o que diz respeito aos velhos e esquecidos pensionistas da Varig. JB não mudou e nem vai mudar o Brasil, mas pode melhorar a vida dura da turma da Varig”, opina.
Yale recua
Segundo notícia veiculada na manhã deste domingo, naquele diário paulistano, “a Universidade Yale, nos EUA, divulgou nota neste sábado, 28, sobre a detenção da correspondente do Estado em Washington, Claudia Trevisan, na quinta-feira. A instituição alegou que a prisão da jornalista foi ‘justificada’, mas afirmou que não ‘planeja acionar a promotoria local’ para pedir a abertura de uma ação penal contra Claudia Trevisan”.
No comunicado – assinado pelo secretário de imprensa Tom Conroy –, Yale reafirma o motivo da prisão e diz que “a polícia seguiu os procedimentos normais, sem que a sra. Trevisan fosse maltratada”. A jornalista se disse surpresa com a afirmação. “Algemas são coisas dolorosas para usar. Ser impedida de fazer um telefonema durante cinco horas é uma violência terrível. Ser tratada como criminosa e colocada em uma cela, onde você precisa fazer xixi na frente de policiais, é uma humilhação extrema”, afirmou. “Em todo esse processo, ninguém de Yale tentou ouvir a minha versão dos fatos. Surpreende-me, pois é uma faculdade de direito.
Leia a íntegra da nota:
Antes de chegar ao Campus da Universidade Yale no dia 26 de setembro para tentar entrevistar o ministro Barbosa, a sra. Trevisan já sabia que o Seminário Constitucionalismo Global ministrado por ele seria um evento privado, fechado para o público e para a imprensa. Ela invadiu a propriedade de Yale, entrou na Faculdade de Direito sem permissão e quis entrar em outro prédio onde os participantes do seminário estavam.
Quando ela foi questionada sobre o motivo pelo qual estava no prédio, ela afirmou que estava procurando um amigo com quem pretendia se encontrar. Ela foi presa por invasão de propriedade. A polícia seguiu os procedimentos normais, sem que a sra. Trevisan fosse maltratada. Apesar de justificada a prisão por invasão, a universidade não planeja acionar a promotoria local para levar adiante a acusação.
A Faculdade de Direito e a Universidade Yale acomodam milhares de jornalistas ao longo do ano para eventos públicos no campus e entrevistas com membros da comunidade de Yale e visitantes.
Assim como todos os jornalistas, a sra. Trevisan é bem-vinda para participar de qualquer evento público em Yale e falar com qualquer pessoa que desejar lhe conceder entrevista.
TOM CONROY, SECRETÁRIO DE
IMPRENSA DA UNIVERSIDADE YALE
Fonte: Correio do Brasil
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