Presidente sobe nível da tensão com o Legislativo e o Judiciário e aumenta aposta em uma narrativa antissistema no momento em que vem perdendo popularidade devido à condução no combate ao novo coronavírus
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido), participou ontem, ontem em frente ao Quartel-General do Exército, em Brasília, de manifestação que pedia o fim do isolamento social, a intervenção militar, o fechamento do Congresso Nacional e do STF, além da volta do Ato Institucional 5 (AI-5), o mais brutal do período ditatorial brasileiro.
Em meio a episódios de tosse, sem uso de máscara e novamente contrariando recomendações de órgãos de saúde, o chefe do Executivo nacional discursou para manifestantes aglomerados. “Eu estou aqui porque acredito em vocês, vocês estão aqui porque acreditam no Brasil. Nós não iremos negociar nada”, disse Bolsonaro em discurso direcionado ao Congresso
Durante sua fala, Bolsonaro colocou-se mais uma vez como personagem antissistema e pregou o fim do que chamou de “patifaria”. “É o povo no poder. Esses políticos têm que entender que estão submissos à vontade do povo brasileiro”, afirmou.
Cartazes que atacavam as instituições e gritos de “Fora Maia” deram o tom dos protestos, que em momento algum foram contestados pelo presidente por seu teor antidemocrático.
As manifestações geraram reações negativas de autoridades que apontam para uma escalada autoritária, justamente no momento em que Bolsonaro perde apoio popular pela forma como tem lidado com a pandemia do novo coronavírus. Até mesmo a ala militar do governo, internamente, desaprovou o ato do presidente.
Apesar de Bolsonaro tentar vender a percepção de que o ato ocorreu de maneira improvisada, seus apoiadores, também favoráveis à reabertura do comércio, já vinham convocando as manifestações há algum tempo por meio das redes sociais. “Dia 19 de abril o Brasil vai parar. Na frente dos quartéis”, dizia uma delas.
O governador do Ceará, Camilo Santana (PT), classificou como “inaceitáveis e repugnantes” os atos que fizeram apologia à ditadura e que promoveram o desrespeito às instituições democráticas. Ele foi um dos 20 governadores que assinaram uma carta conjunta, divulgada ontem, em apoio aos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), que vêm sofrendo ataques de Bolsonaro pelo modo como o Congresso tem lidado com a crise socioeconômica provocada pela Covid-19.
Nas últimas semanas, tem aumentado a pressão para a reabertura dos serviços não essenciais paralisados em quase todo o país por meio de decretos estaduais.
Para o professor Cleyton Monte, vinculado ao Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia da Universidade Federal do Ceará (Lepem-UFC), a ida de Bolsonaro aos atos reflete seu isolamento político e aprofunda o regime de paralisia no qual o País se encontra.
“Nosso modelo presidencialista de coalizão necessita de política colaborativa e articulação. Sempre que o Executivo e o Legislativo não conversam, o Executivo não governa”, afirma, chamando a atenção para a representatividade do momento.
“Quando Bolsonaro subiu naquele veículo para discursar, ele viu as pessoas pedindo o retorno do AI-5 e o fechamento de Congresso e STF. Foi uma atitude antidemocrática e explícita. Não há espaço para dubiedades”, complementa.
Monte também critica a fragilidade das resposta dadas por atores políticos que tentam fazer frente às ofensivas presidenciais e diz que elas servem até para corroborar a narrativa antissistema do presidente.
“A resposta que está sendo dada por políticos e instituições ainda é muito retórica. Mandar uma carta ou fazer uma declaração nas redes sociais não vai pará-lo. Eu ainda não percebi uma ação real, coordenada e prática dessas figuras. Falta um enfrentamento mais direto”, pontua, chamando à necessidade de uma articulação suprapartidária e multi-institucional para apresentar uma reação mais consistente. (com agências)
Fonte: https://mais.opovo.com.br/
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