Iguatu. A linha de produção de cisterna de polietileno de uma fábrica instalada na cidade de Tauá, na região dos Inhamuns, está paralisada há cerca de dois meses. A unidade fabril deveria produzir inicialmente 5.960 unidades para atender ao convênio firmado entre o Governo do Ceará e o Ministério da Integração Nacional, no valor de R$ 28,5 milhões. Entretanto, o atraso na liberação da verba impede a continuidade do projeto.
A produção de cisternas no Interior seria uma ação pioneira. Além da logística favorável, deveria atender as ações emergenciais de convivência com a seca do Programa Água para Todos de forma mais rápida. A secretária de Desenvolvimento Econômico de Tauá, Márcia Noronha, observou que a indústria Bakof, que tem matriz no Rio Grande do Sul, já sinalizou com a vinda de novos equipamentos para fabricar caixas d’água de linha comercial convencional em substituição às cisternas.
“Pelo que sabemos, a indústria aguarda a publicação de convênio pelo Ministério da Integração Nacional e a liberação de verba para a produção das cisternas”, disse Márcia Noronha. “Não temos informações sobre fechamento da fábrica, até porque há um protocolo assinado com o município para construção da unidade fabril própria, que funciona em galpão provisório e alugado”.
A paralisação da linha de produção de cisternas de polietileno revela que o ritmo das ações de governo para a convivência com a seca que se prolonga no Ceará desde 2012 está em descompasso com a realidade que se agrava no sertão: perda do plantio de grãos, queda drástica do nível dos açudes e falta de pastagem para o gado. A preocupação maior é com a escassez de recursos hídricos para atender às famílias dos centros urbanos e também da zona rural.
Em fevereiro passado, com previsão da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) em mãos, o governador Camilo Santana apresentou o Plano Estadual de Convivência com a Seca. Dividido em cinco eixos, o plano previa medidas emergenciais, estruturantes e complementares para a convivência com a crise hídrica no Ceará.
Ações emergenciais e de longo prazo foram apresentadas. De lá para cá, em meio à crise política e econômica que se abateu sobre o País, houve dificuldades de liberação de recursos já previstos no orçamento e de novas verbas a serem alocadas. No campo, famílias aguardam a instalação de cisternas, de projetos de abastecimento do programa Água para Todos, perfuração de poços, de transferência de água por adutoras e de distribuição por meio de carros-pipa.
O governo insiste em reafirmar que aguarda a conclusão da quadra invernosa, no fim deste mês, para elaborar um diagnóstico atual sobre o nível dos açudes, de novas previsões de colapso de abastecimento de água e de um levantamento final da perda da safra agrícola de grãos de sequeiro, que é aquela que depende das chuvas.
Nível mais baixo em 17 anos
O quadro atual é preocupante. O nível atual dos 151 açudes monitorados pela Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh) é o mais baixo em 17 anos. O volume está em 19,9%, inferior ao registrado no início deste ano, 21%. Há 27 açudes no volume morto e 14 estão secos.
Atualmente, 33 cidades do Interior enfrentam dificuldades de abastecimento, rodízio ou racionamento na distribuição de água para a população. Dentre elas, segundo a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece), Campos Sales, Capistrano, Caridade, Catunda, Coreaú, Crateús, Farias Brito, Graça, Hidrolândia, Ibicuitinga, Ipaumirim, Iracema, Itatira, Jaguaretama e Martinópole. Os municípios que enfrentam situação mais grave são: Ibicuitinga, Itatira, Pereiro, Palmácia, Parambu, Quiterianópolis, Baixio, Umari, Ipaumirim e Iracema.
Na semana passada, o assistente técnico da presidência da Cogerh, Gianni Lima, disse que, após o fim da quadra chuvosa, será feito um balanço da situação em cada bacia hidrográfica e definições sobre a liberação de água para consumo humano e irrigação nos reservatórios monitorados pelo órgão.
Esforço
Nos últimos meses, o governo investiu com maior intensidade na perfuração de poços profundos para evitar colapso no abastecimento de água de centros urbanos. O esforço atual é para atender à demanda dos municípios. A tarefa não tem sido fácil, em decorrência do número reduzido de máquinas perfuratrizes.
As previsões da Funceme vêm se confirmando, com chuvas abaixo da média. Para os meses de maio, junho e julho, há expectativa de boas precipitações. Porém, neste período, a pluviometria é baixa, insuficiente para qualquer recarga dos açudes.
A reportagem entrou em contato com a assessoria de comunicação da Secretaria de Desenvolvimento Agrário (SDA) e do Ministério da Integração Nacional, mas, até o fechamento desta edição, não obteve retorno sobre as ações governamentais de convivência com a seca e a possibilidade de fechamento da fábrica de cisternas em Tauá.
Mais informações:
Agência de Des. Econômico de Tauá: (88) 3437-4246
Bakof em Tauá: (88) 9741-0006
Funceme: (85) 3101-1117
Cogerh: (85) 3218-7024
Honório Barbosa
Colaborador
Fonte: Diário do Nordeste
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