Enquanto o Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP), localizado em São Gonçalo do Amarante, tem o abastecimento de água garantido pelo canal do açude Sítios Novos, em Caucaia, 100 comunidades do próprio município dependem de apenas três carros-pipa para não ficar sem água. A cidade está entre aquelas com maior número de pessoas dependentes dos carros-pipa no Ceará. Em algumas localidades, o carro-pipa nem chegou ainda.
A dona de casa Maria Célia de Santos Batista, 47, moradora da comunidade Salgado dos Moreiras, na divisa de São Gonçalo com Paraipaba, ainda não viu um carro-pipa passar por ali ou pelas comunidades vizinhas. A pouca água que tem é a que se acumula na cacimba.
Desde janeiro, Célia e o esposo, Raimundo Ferreira Batista, 54, pagam R$ 20 para lavar as roupas em outra localidade. “Tá secando a nossa cacimba. Se eu lavar toda a louça que tem, acaba a água”, diz Célia, com a pia acumulada de louça suja.
Quando o reservatório seca, o casal precisa esperar até o dia seguinte para que a água suba um pouquinho e eles tenham o que beber. O banho é um por dia, com apenas um balde d’água cada. “Está assim desde outubro. A cacimba com bem pouquinha água. Ainda não veio ninguém da Prefeitura aqui”, diz Célia. Salgado dos Moreiras é uma das comunidades do município que ainda não possui água encanada. Toda a água consumida vem das cacimbas que cada um possui.
Com a chegada de novos empreendimentos ao município, essa situação deve se agravar. A tendência é que a quantidade de moradores da região cresça. De 1991 a 2010, o número de habitantes na cidade passou de 29 mil para 43 mil. Por outro lado, entre 2007 e 2012, a taxa de cobertura urbana do abastecimento de água avançou apenas 0,6 ponto percentual, saindo de 75,16% para 75,76%.
“São Gonçalo vai ter um aumento populacional muito significativo. Uma grande diretriz é que a infraestrutura urbana para o município, e não só para a área do CIPP, deve ser observad”, explica Rosana Sales, coordenadora do estudo realizado pelo Pacto pelo Pecém.
O problema da falta de água nas comunidades é histórico. Apesar dos investimentos como Eixão das Águas ou o Canal do Trabalhador, há falta de planejamento na distribuição de água. Resolução da Organização das Nações Unidas, de 2010, orienta que o acesso à água um direito universal.
Por quê
ENTENDA A NOTÍCIA
Embora São Gonçalo do Amarante conte com infraestrutura hídrica para atender o Complexo Industrial e Portuário do Pecém, moradores do município dependem do abastecimento de água de carro-pipa
LAGOA NOVA
A dura espera pela água
1) Crianças do distrito de Lagoa Nova, em São Gonçalo do Amarante, olham para a cacimba da propriedade, praticamente seca devido à estiagem 2) Moradores conversam na central de abastecimento de água do mesmo distrito. Caixas estão vazias
Do O Povo
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