Meteorologistas do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) apontam a consolidação do fenômeno La Niña, entre o centro e o leste do Oceano Pacífico. Isso significa que poderá haver um resfriamento das águas do Pacífico Equatorial (0,5°C ou menos) e, consequentemente, grandes chances de boas pluviometrias no Nordeste.
“É um bom indicativo para o início da quadra chuvosa”, ilustrou o meteorologista do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos do Inpe, Diego Jatobá. Ele aponta, ainda, que a La Niña vai influenciar também “as chuvas na pré-estação, no Ceará”. Apesar do tom de otimismo, ele ressalta, entretanto, ser “necessário frisar que é um fenômeno de rápida duração e de baixa intensidade”, e que pode se modificar até o fim do ano.
Já a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA), do governo norte-americano, segue a mesma análise do Inpe, mas pondera que o fenômeno ainda está “com fraca intensidade”. Estudos do Inpe mostram que, até o momento, a La Ninã deve permanecer durante o verão no Hemisfério Sul (início do ano, no Ceará), e perder força a partir da segunda quinzena de março.
Para o meteorologista da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Humberto Barbosa, esse grau de intensidade pode sofrer mudança até o fim do ano. “Até o momento, temos um cenário favorável, uma La Niña moderada, mas ganhando força. Só o fato de não termos El Niño (aquecimento das águas superficiais do Oceano Pacífico Equatorial) é um bom indicador”, explica.
O meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), Flaviano Fernandes, também considera que as chances de atuação da La Niña são boas. “Olhando para o quadro, agora, está muito favorável, mas vamos depender mais uma vez do Atlântico”, afirma. “Se o Atlântico Sul ficar mais quente do que o Norte, então teremos chuvas intensas, mas essa resposta só teremos em janeiro do próximo ano”, pondera.
O cenário se torna ainda mais favorável quando analisado outros fenômenos. Humberto Barbosa destaca o aspecto da Oscilação Decadal do Pacífico (ODP), que é um fenômeno climático de caráter cíclico que influencia diretamente as transformações climáticas da Terra, de longa duração, e que está negativa, ou seja, diminuição da temperatura das águas superficiais do Pacífico Equatorial, o que é bom para o Nordeste. “É um outro dado favorável à ocorrência de chuva dentro ou acima da média no semiárido nordestino, pois favorece a La Niña”.
Apesar do bom prognóstico, os institutos são uníssonos ao afirmarem ser preciso seguir o monitoramento para identificar a definição da temperatura das águas superficiais do Oceano Atlântico Tropical Sul. A Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), por sua vez, diz que divulgará as análises e previsões “próximo ao fim do ano”.
Agricultura beneficiada
Após seis anos de chuvas abaixo da média, o Ceará registrou em 2020, 2019 e 2018, pluviometria dentro ou acima da média histórica. Além de melhorar o cenário hídrico nos açudes cearenses e, consequentemente, reduzir o drama no abastecimento em centenas de localidades do interior, as boas chuvas convergem à uma melhora da safra. Os números corroboram.
Neste ano, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a safra de grãos foi a segunda melhor dos últimos dez anos, ficando atrás apenas de 2011. Se confirmado o prognóstico de, mais uma vez, pluviometria acima da média histórica em 2021, o cenário tende a ser ainda mais animador.
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