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Prefeitura da Capital promete a criação de 490 lugares; mensagem segue, nesta semana, para a Câmara Municipal
A permissão de táxi é cedida gratuitamente pelo poder público. Mas, parece fácil fazê-la render, valores de “venda” chegam a R$ 120 mil no mercado. E nesta rede de ilegalidade, o repasse vira um negócio, tal como a ação lucrativa de um imóvel, de um carro ou de qualquer outro bem. Às vésperas de lançar novo edital anunciando novas 490 vagas, a Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza (Etufor) reconhece a dificuldade na fiscalização, crescimento e descontrole dos arrendamentos na Capital.
Cedida gratuitamente pelo poder público, uma vaga de táxi chega a valer R$ 120 mil no mercado. De acordo com informações de taxistas, os “rendeiros” já são mais de 80% do total dos profissionais na Capital Foto: José Leomar
A reportagem do Diário do Nordeste acompanhou a rotina de taxistas que fazem “bicos” nas vagas de terceiros, se submetem a um regime precário de trabalho: “rodam” por mais de 12 horas diárias no veículo dos permissionários oficiais, não possuem nenhum vínculo empregatício e ainda são obrigados a pagar R$ 500 por semana (R$ 2 mil por mês), além de gastos com manutenção, combustível. Tudo “embaixo dos panos”, escondido.
André (nome fictício) está na “praça” há dois anos, sempre trabalhando para outros. Vive com medo de perder a função, de descobrirem a sua situação. “Queria mesmo era ter minha vaga, conseguir trabalhar sem atravessadores. Essa distribuição de pontos é uma ladroagem grande”.
Ofertas
A “máfia dos táxis” nem é tão escondida assim, afirma André. Quem quer comprar uma vaga ou fazer “bico” basta ir em um ponto: ofertas podem ser encontradas em classificados de jornais, na Internet ou acordadas com despachantes profissionais.
Apesar do conhecimento público, esses processos irregulares seguem crescentes na Capital, denunciam taxistas. Fábio (nome fictício), permissionário de um táxi, diz que o “comércio” prejudica principalmente os arrendatários que estão nas ruas. “Quem tem um carro próprio até que fica em uma situação melhor. Em vez de dar os R$ 500 reais por semana ao dono, paga um salário mínimo por mês. Um absurdo, mesmo assim”, diz. Conforme as tais denúncias, os “rendeiros” já são mais de 80% do total de taxistas de Fortaleza.
Ainda segundo a categoria, há permissionários que acumulam dezenas de lugares: donos seriam autoridades, funcionários públicos que chegariam a ter vaga em nome da mulher, filho, cunhado, tudo por procuração. Para se ter autorização, é preciso passar por processo licitatório.
Além da venda da permissão, conforme Fábio, existe a comercialização do ponto. Existem taxistas que possuem até dois lugares para atuar em dias alternados. A permissão também pode ser partilhada, já que, além do permissionário, o táxi pode ter um condutor auxiliar. “Sempre alguém vai sair lucrando. Há quem ganhe alugando vaga, vendendo, comprando outra ou transferindo permissão” relata.
Edital
Todas essas denúncias chegam em um momento complicado: ainda nesta semana deve chegar, segundo a Prefeitura de Fortaleza, mensagem na Câmara Municipal com o novo edital. A gestão irá liberar outras 490 novas vagas de táxis, somando-se aos atuais 4.392 veículos. Assim, Fortaleza terá um total de 4.882 veículos circulando na Capital.
Mas, ainda assim, para a contadora Fátima de Mesquita, 47, a oferta de táxis é bem baixa. Usuária deste serviço, ela reclama da grande demora, da má distribuição de pontos, da escassez da frota em horários de pico e nas madrugadas, por exemplo.
A expectativa do presidente do Sindicato dos Taxistas do Ceará, Vicente de Paulo Oliveira, é que a qualidade aumente e a rotativa de veículos nas ruas venha beneficiar a todos, aponta.
“Há uma expectativa muito em grande em torno desse novo edital da Prefeitura. Queremos que o processo seja transparente, que os arrendatários e aqueles que já estão nas ruas circulando sejam escolhidos para ganhar os pontos. Vamos garantir que o processo seja bem justo”, afirma.
Vistorias
A Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza (Etufor) reconhece a importância de abrir edital e dar prioridade aos que não são permissionários ainda. “Temos urgência que esse processo licitatório saia logo. Será importante para valorizar motoristas de rua que são arrendatários e fazem bico”, diz Antônio Ferreira, diretor técnico do órgão.
Sobre as denúncias, Ferreira afirma que a gestão está atenta. Somente em julho deste ano, 870 vistorias de táxis foram realizadas, mais de 1.065 abordagens e 571 autuações. “Contamos também com a ajuda da população para denunciar casos”, explica. O órgão está realizando hoje recadastramento.
IVNA GIRÃO
REPÓRTER
Redação e imagem: Diário do Nordeste