Fortaleza ainda cresce de forma desordenada

Entre as regiões consideradas prioritárias para receber novos moradores estão bairros próximos ao Centro, como Jacarecanga FOTO: NATINHO RODRIGUES
Entre as regiões consideradas prioritárias para receber novos moradores estão bairros próximos ao Centro, como Jacarecanga
FOTO: NATINHO RODRIGUES

Acessar sites de imobiliárias, contactar corretores e visitar condomínios em construção já são atividades rotineiras para milhares de fortalezenses que, diante de ofertas pouco atraentes, são obrigados a adiar planos ou se deslocar para áreas distantes daquelas que desejavam. Associada à falta de planejamento por parte do poder público, essa dificuldade de uma parcela expressiva da população para comprar ou mesmo alugar um imóvel resulta na expansão contínua e desordenada da cidade, agravada diante da carência de infraestrutura e serviços básicos.

Conforme estudo divulgado neste mês pelo FipeZap, o preço médio do metro quadrado de Fortaleza é R$ 5.451 – abaixo da média nacional, de R$ 7.369. Todavia, segundo o levantamento, entre as 25 cidades pesquisadas, a capital cearense tem a terceira maior razão entre o preço de um apartamento de 100 metros quadrados e o Produto Interno Bruto (PIB) per capita.

Subutilização

De acordo com a professora do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Ceará (UFC) Clarissa Freitas, ao mesmo tempo em que bairros periféricos com infraestrutura deficiente continuam recebendo novos habitantes, por outro lado, regiões consideras prioritárias para a ocupação, segundo o Plano Diretor de Fortaleza, são hoje subaproveitadas.

“Essas são áreas que têm estrutura para receber pessoas e ainda não têm um adensamento tão elevado. Mas, em vez de estarem recebendo moradores, elas estão perdendo população (por conta da valorização dos imóveis)”, destaca.

Entre as regiões consideradas prioritárias para receber novos moradores, ilustra o pesquisador em planejamento urbano Marcelo Capasso, estão bairros próximos ao Centro, como o Jacarecanga.

É também nesses bairros onde está localizada grande parte dos imóveis subutilizados da Capital. Um levantamento realizado em junho deste ano pelo Diário do Nordeste, junto às secretarias regionais de Fortaleza, apontou que a cidade possui em torno de 23 mil propriedades sem utilidade, entre as quais estão imóveis abandonados e também terrenos baldios.

O Município de Maranguape, que integra a RMF, foi a opção da administradora Yuza Carneiro para adquirir um imóvel. Ela tinha como intenção morar na Maraponga, mas não encontrou nenhuma alternativa viável à época FOTO: JULIANA VASQUEZ
O Município de Maranguape, que integra a RMF, foi a opção da administradora Yuza Carneiro para adquirir um imóvel. Ela tinha como intenção morar na Maraponga, mas não encontrou nenhuma alternativa viável à época
FOTO: JULIANA VASQUEZ

Para Capasso, em vez de arcar “com o ônus social” de permitir ou incentivar a ocupação de áreas que não conseguem comportar os moradores atuais, a Prefeitura deveria utilizar os mecanismos de controle de que dispõe para aproveitar de forma eficiente os espaços subutilizados. Entre as medidas que poderiam ser adotadas, indica, está o IPTU progressivo.

“O ideal seria fazer isso, e não ficar fabricando novos bairros nas franjas da cidade, nas últimas áreas verdes que nós temos. Vai levar anos para dotar esses bairros daquilo que ele precisa, e com isso vai vir todo um novo ônus social”, ressalta.

Além de estruturas básicas como iluminação e rede de água e esgoto, complementa Clarissa Freitas, os espaços que têm recebido um número expressivo de novos habitantes precisam ser dotados de serviços como vias de acesso e transporte público. “O impacto sobre os serviços urbanos é enorme, e muitas vezes isso não é medido”.

Região Metropolitana tem sido a opção fora da Capital

Diante das dificuldades de grande parte dos fortalezenses para encontrar imóveis a um preço acessível, a Região Metropolitana de Fortaleza tem sido uma das principais opções para quem não encontra opções viáveis dentro da Capital. Segundo a professora de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Ceará Clarissa Freitas, embora seja comum dizer que Fortaleza está “crescendo para o lado de Eusébio e Aquiraz”, é elevado o número de pessoas que a cada ano se mudam para cidades como Caucaia e Maracanaú.

Embora muitos encontrem preços melhores e, em alguns casos, bairros com infraestrutura melhor do que grande parte da Capital, esse tipo de mudança pode trazer uma série de consequências para os moradores, que mantêm vínculos com a cidade natal.

Quando começou a se planejar para se casar e deixar a casa dos pais, no bairro Joaquim Távora, em 2011, a administradora Yuza Carneiro, de 27 anos, tinha como intenção adquirir um imóvel na Maraponga – bairro distante dez quilômetros da casa onde vivia na época. A ideia, relata, era morar em um “meio termo” entre o Centro de Fortaleza e a casa dos pais do noivo, que moravam em Maracanaú, na Região Metropolitana.

“Mas a gente não achou nenhum lugar que desse realmente (para comprar naquele ano)”, relata. A solução encontrada foi passar a viver no município de Maranguape, que integra a RMF. O principal incômodo com a mudança, destaca, foi ter de passar a se deslocar durante uma hora e meia, todos os dias, de casa ao trabalho. Quando morava na casa dos pais – na mesma rua do local de trabalho -, diz, fazia o trajeto em apenas cinco minutos. Apesar disso, Yuza se diz contente com a mudança. “É uma cidade muito mais tranquila, e eu não preciso ficar indo a Fortaleza se precisar comprar ou resolver algo”, afirma.

Fonte: Diário do Nordeste

Zeudir Queiroz

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