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Em Fortaleza Árvores precisam de cuidados

Robson Cavalcante

O plantio não é o fim, mas o início do processo de arborização e requer planejamento e conhecimentos 

  Os riscos decorrentes da falta de cuidados básicos com as árvores são constantes em Fortaleza, principalmente durante o período chuvoso. A proliferação de cupins, a presença de parasitas e podas realizadas sem os devidos cuidados técnicos têm contribuído para a supressão das já escassas árvores da Cidade e esse alerta se soma à Campanha “Plante uma árvore. Semeie esta ideia”, do Grupo Edson Queiroz.

“Nós não conseguimos dormir sossegados. Tememos que a árvore caia sobre nossas cabeças durante a madrugada”, alerta a aposentada Francisca Batista da Silva, 86 anos, que mora na casa de número 1664 da Avenida José Bastos, no Bairro José Jataí (antes parte do Otávio Bonfim). A apreensão de dona Francisca, mais conhecida como Nena, se dá em consequência da grande quantidade de cupins que tomou conta de duas oliveiras (pés de azeitona) próximo à sua casa.

A aposentada conta que buscou a ajuda da Prefeitura, mas foi informada de que, como está localizada numa área particular – um terreno entre duas residências- , ela tem que procurar resolver o problema com o proprietário. “Já tentei de tudo e ninguém ajuda. Os homens que passam por aqui podando as árvores querem R$ 200,00 para derrubar tudo. Não tenho condição de arcar com esse tipo de despesa”, garante dona Nena.


Pés de azeitona tomados por cupins ameaçam desabar na Avenida José Bastos
FOTOS: RODRIGO CARVALHO


Há 20 anos, o eletricista Edmundo Daivison plantou duas castanholeiras em frente à sua residência, na Rua  Djalma Petit, 80, Aerolândia. Orgulhoso da iniciativa, relata que a sombra proporcionada pelas árvores é disputada por motoristas em busca de estacionamento.  

Apesar disso, Edmundo lamenta a presença de parasitas que já tomaram parte das castanholeiras. “São trazidas pelos passarinhos. O nome já diz tudo. É uma verdadeira praga. Pensei em arrancar as plantas mas desisti, pois elas ainda não estão tão comprometidas. Temo que tenha que fazer isso no futuro, caso elas ameacem cair. Hoje sei que, além da necessidade de plantar, é preciso ter cuidado para evitar que os parasitas se instalem”, afirma Edmundo.

Outro tipo de prejuízo causado às árvores é a poda feita de forma indiscriminada, muitas vezes por quem não tem qualquer noção dos problemas que essa prática pode acarretar. Por toda a cidade é possível observar exemplos como esse. Uma castanholeira da Rua Osvaldo Cruz, próximo ao imóvel de número 2302, na Aldeota, apresenta uma clareira no seu centro, fruto de inúmeras podas para defender a fiação.

Ser vivo
“A árvore é um ser vivo que necessita ser tratado com cuidado e sensibilidade, com tempo para crescimento e desenvolvimento, a formação de uma bela copa, sua função para a manutenção saudável e equilibrada daquela vida, além dos benefícios como sombra, beleza e os passarinhos com seus ninhos”, afirma a arquiteta Martha Ary, do Movimento Pró-Árvore. E continua: “Isso tudo em razão da insensibilidade, do descaso, de uma certa má vontade que predomina no nosso contexto, em que os inconvenientes das árvores tendem a ser sempre maximizados (as folhas caídas vistas apenas como sujeira, dando trabalho para limpar), sem querer negar que é necessário cuidar de uma manutenção para o bom convívio das árvores com o contexto urbano, que é importante podar quando há risco de queda de galhos ou das próprias árvores, danos às edificações, rede elétrica etc”.

O engenheiro agrônomo Antonio Sérgio Farias Castro, especialista em Botânica e criador do Movimento Pró-Árvore, afirma que o cuidado se inicia com planejamento, que inclui conhecimento. “Se há necessidade de muitas podas, muito provavelmente a árvore foi plantada no local errado ou foi a espécie errada ou sua manutenção, que inclui podas iniciais de formação e condução, não foi feita ou foi de modo inadequado”, explica.

“É preciso conhecimento e sensibilidade. Poda significa uma agressão, uma cirurgia, portanto deve ser feita com critério e se extremamente necessária. Um ponto importante é priorizar a árvore como ser vivo, fundamental ao nosso bem-estar. Evitar o corte de galhos grossos, podar apenas os galhos finos que estejam próximo de fios, mas mesmo estes fios poderiam receber, em alguns casos, um cabeamento, que é uma proteção. Outra dica importante é utilizar motosserras e nunca facões ou foices para não ´lascar´ o galho”.

Parasitas
Quanto às ervas parasitas, o especialista indica que, quando em excesso, deve-se removê-las por poda, nos galhos afetados, “o que praticamente não é feito em Fortaleza pois só se poda para proteger os fios ou construções, nunca para o benefício da árvore, que não é uma prioridade”.

Antonio Sérgio explica que os cupins têm de ser removidos logo no início, antes que se alastrem, e que pode ser usado inseticida, desde que com critério e proteção para o aplicador. “Se a espécie for bem escolhida e bem plantada, serão reduzidas a necessidades de maiores tratos, devendo ser priorizadas as espécies nativas, mas ainda falta muito conhecimento sobre elas. A disponibilidade de mudas é pequena”, comenta.

Em resumo, ele ressalta que é necessária a ação de equipes bem treinadas, bem remuneradas e motivadas para o trato com as árvores: “Fortaleza, no Século 21, ainda não conta com estas equipes, inexistindo um Departamento de Parques e Jardins”.

Manutenção
Conforme a Empresa Municipal de Limpeza e Urbanização (Emlurb), só é feito qualquer poda ou corte de árvore mediante laudo expedido por engenheiro agrônomo do Distrito de Meio Ambiente de uma das Secretarias Executivas Regionais. Após o encaminhamento do pedido por parte da comunidade à Regional de sua área, o engenheiro se desloca até o local para analisar a situação e emitir o laudo. Em caso positivo (necessidade de poda ou corte da árvore), é feita solicitação do serviço à Emlurb, que tem a responsabilidade de executá-lo.

Já a Companhia Energética do Ceará (Coelce) argumenta que “realiza o trabalho de poda para manter, com qualidade, a continuidade do fornecimento de energia elétrica”.

A poda das árvores localizadas entre o medidor de energia elétrica e o interior da unidade consumidora é de responsabilidade do cliente, exceto nos casos em que os galhos das árvores ultrapassam a medição e estão muito próximos da rede de distribuição.

Rede elétrica
8 mil árvores são podadas por mês, em média, pela Coelce, que só realiza o serviço em árvores que estejam prestes a comprometer a rede elétrica.

FIQUE POR DENTRO

Medidas para manter a saúde das plantas

Entre as medidas importantes para o desenvolvimento saudável das árvores, o especialista em Botânica Antônio Sérgio Castro destaca o tutoramento, que é a afixação de varas para que a muda não tombe e cresça de forma ereta; a irrigação periódica na época seca, “que absurdamente não é feita, resultando na morte de dezenas de árvores plantadas”, investimento público no lixo e perda de árvores, como ocorreu na Ponte sobre o Rio Cocó, na Sabiaguaba; a adubação orgânica e mineral; e o estabelecimento de áreas permeáveis junto à planta, “pois muitas vezes a argamassa é posta junto ao tronco, ´sufocando´ a árvore”.

Mais informações
Solicitações de corte e de poda à Coelce devem ser feitas através do 0800.2850196. Se o problema não for próximo à rede elétrica, se dirigir às Secretarias Regionais.

FERNANDO MAIA / MARISTELA CRISPIMREPÓRTER / EDITORA

 
Fonte: Diário do Nordeste