Estiagem castiga pescadores pescadores do interior cearense

O açude Arrojado Lisboa tem atualmente menos de 1% de água ( Fotos: Alex Pimentel )
O açude Arrojado Lisboa tem atualmente menos de 1% de água ( Fotos: Alex Pimentel )
Banabuiú. O fantasma do flagelo da seca está voltando a assombrar os sertanejos, principalmente quem vive no Interior do Ceará e depende da pesca nos açudes para sobreviver. A maioria dos reservatórios estão secos, ou pertinho da água acabar. Esse drama está sendo vivido por aproximadamente mil famílias ribeirinhas do terceiro maior açude do Estado, o Arrojado Lisboa, em Banabuiú. Da pesca não da mais para sobreviver diante do castigo da estiagem. > Reivindicação é por amparo emergencial da seca Os pescadores artesanais reclamam que, além da escassez de peixes, suas residências também estão sendo roubadas. A surpresa está por conta dos itens preferidos pelos ladrões. Ao invés dos eletrodomésticos e objetos de maior valor eles estão levando arroz, feijão e outros alimentos. “Até xerém para a alimentação dos pintos eles estão carregando, pensando que é farinha”, afirma a agricultora Carla Negreiros de Sousa. Ela é esposa do pescador Francisco Emídio Caetano. Ele não tem mais condição de viajar para o Castanhão, onde ainda tem peixe. O Casal e outros três filhos dependem dos R$ 237 do Bolsa Família. Juntamente com outros moradores da localidade de Pedras, distante cerca de 60Km do Centro de Banabuiú, ela procurou a Secretaria de Pesca e Aquicultura do Município em busca de auxílio para o marido. A agricultora explicou que ele preferiu ficar em casa. Está triste a abatido. Coisa assim tinha passado somente na infância, quando houve uma seca medonha. Para não passar mais por tanto sofrimento resolveu se aproximar da água, se tornou pescador. Só não imaginava que o gigante do Vale das Borboletas ia secar. Hoje, a água está começando a cheirar mal. A pesca está cada vez mais escassa e quem ainda insiste em entrar no açude consegue pegar apensas algumas piabas. Quando é dia de sorte alguns quilos de camarão vêm na rede. Dá para vender o quilo a R$ 15 com casca e R$ 20 sem. Quando mais próximo do Arrojado Lisboa, a desolação é maior. As canoas estão afundando. Algumas ainda resistem sobre a água, ou porque acabaram encalhando sobre o solo ou alguém faz os reparos, para evitar um prejuízo ainda maior. Com o açude quase seco, atualmente com menos de 1% de água, a abundância e a alegria acabaram. Das seis a sete toneladas pescadas todos os meses, hoje, são no máximo 600 quilos. A pesca se torna ainda menor quando encostam na margem. São obrigados a dividir a metade com o companheiro de trabalho ou com o dono da embarcação. Economia O sofrimento dos pescadores também acaba atingindo a economia da cidade. Quando havia pesca, cada um deles faturava em média R$ 2 mil por mês. Havia fartura e alegria. Como mais de mil se dedicam ao ofício no Município o Arrojado Lisboa é comparado a Carajás, mas agora, o “ouro” que vinha da água não existe mais. E assim como tem ocorrido no garimpo, onde algumas cidades se tornaram fantasma, Banabuiú também corre esse risco. Pelo menos R$ 1,5 milhão está deixando de circular mensalmente no Município. O pescador Anazion Pereira da Silva, tem 40 anos, não sabe ler nem escrever. A esposa, Antônia Marcia da Silva, 36, tem a mesma dificuldade. O casal tem sete filhos, com 16, 15, 14, 10, 7, 6, e o caçula com apenas dois anos. Abrigo, a família tem. Eles ganharam uma casa de presente, dos avós dela. E aproveitam muito bem a morada. Nela, todos podem dormir com segurança. É o único conforto nesses tempos, difíceis. Dormir cedo Dividir o pouco que pescam, na maioria das vezes trocando os peixes por arroz, feijão e farinha, não dá para garantir as três alimentações do dia. “O jeito é botar as crianças, os mais novos, para dormir até mais tarde. Dizem que o sono espanta a fome”, justifica a mãe, envergonhada e triste. Os R$ 380 do Bolsa Família que ela recebe não são suficientes para garantir a comida do mês, muito menos pagar as contas da luz e da água, único “luxo” deles. Por conta das dívidas o marido já vendeu a sua canoa. Havia comprado por R$ 700, mas não conseguiu mais de R$ 200. Ele prefere passar fome a ser chamado de caloteiro. Fonte: Diário do Nordeste
Zeudir Queiroz

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