Ceará vai proibir plantio de 12 espécies

A carnaúba, símbolo do Ceará, corre riscos devido à unha-do-diabo, trepadeira nativa de Madagascar. A planta, que é rasteira e resistente à seca, cresce e floresce rapidamente, escala a copa da árvore, sufocando-a e matando-a
A carnaúba, símbolo do Ceará, corre riscos devido à unha-do-diabo, trepadeira nativa de Madagascar. A planta, que é rasteira e resistente à seca, cresce e floresce rapidamente, escala a copa da árvore, sufocando-a e matando-a
A destruição ambiental não é provocada apenas pelo ser humano. Importantes espécies vegetais correm perigo devido às chamadas plantas invasoras. Um exemplo disso ocorre com a nossa árvore símbolo, a carnaúba, ameaçada de extinção pela Cryptosgia madagascariensis, mais conhecida como “unha-do-diabo”. Essa predadora está na lista negra divulgada pela Secretaria de Meio Ambiente (Sema) e deverá ser proibida no Estado. Para isso, um decreto governamental, ainda em estudo, prevê o combate ao plantio, produção, transporte e distribuição dessa e de mais 11, como a nim, castanhola, dendê, leucena, mata-fome e algaroba. Segundo o documento, discutido em evento no Centro de Referência do Parque do Cocó, na manhã de ontem (30), a relação, enumerando as principais espécies vegetais exóticas invasoras no Ceará, não está fechada e ainda poderá sofrer mudanças. A jaca e a ata também podem ser incluídas. “A ideia é encaminharmos o decreto o quanto antes, mas ainda estamos avaliando se é melhor seguir como projeto de lei. O objetivo é que o governador assine o documento ainda neste ano. A partir daí, vamos desenvolver o Programa Estadual de Inibição de Espécies Vegetais Exóticas Invasoras em áreas públicas, que será regulamentada em lei”, adianta o titular da Sema, Arthur Bruno. Controle biológico O especialista Leonardo Jales, do Movimento Pró-Árvore, parceiro na elaboração do texto, apresentou um estudo, destacando a importância e a urgência do controle biológico e citou o caso de Fernando de Noronha, onde essas plantas causam alerta ambiental no ilha. “No Ceará, o Nim virou uma febre e não somente ela, mas todas, quando competem com as nativas, ganham e, como acontece com a carnaúba, alvo da unha-do-diabo, são uma ameaça à sobrevivência do ecossistema”, explica. Jales defende a instalação de um rede de hortos para o criadouro de mudas nativas, como a peroba, o ipê-roxo e amarelo, o oiti, a carnaúba, macaúba, pitomba, juazeiro, xixá e cajueiro, entre outras. Ele alertou que, em toda a área do Parque do Cocó, é possível se deparar com indivíduos da “lista negra ambiental”. “A leucena aparece nas bordas do espaço e quem costuma fazer as trilhas pode observar a sua proliferação”, aponta ele. Erva O especialista explicou que a unha-do-diabo é uma trepadeira nativa de Madagascar e foi, provavelmente, importada para o Brasil há 40 anos como uma planta ornamental ou curiosidade botânica. Por ser muito cultivada em jardins devido às belas flores, escapou, naturalizou-se e tornou-se uma erva invasora agressiva em situações naturais do semiárido. Exótica e invasora, a unha-do-diabo floresce e cresce rapidamente, sufocando a carnaúba. É resistente à seca, tanto que nem perde as folhas, como é comum nas espécies da caatinga. Ela não é só rasteira, mas também trepadeira e chega a cobrir toda a copa das carnaubeiras, impedindo que se retire suas palhas, usadas tradicionalmente em vários municípios do Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte como fonte de renda das comunidades. Um estudo da Universidade Estadual do Ceará (Uece) já alerta para o fato. Além de outras coisas, a carnaúba é a única fonte de uma cera natural que tem sido produzida de forma sustentável por mais de um século por comunidades no Nordeste. “De tal forma que áreas extensas de colheita tradicional já foram abandonadas ao longo de bacias como a do Rio Jaguaribe. O crescimento da trepadeira é rápido e, ao escalar a copa da carnaúba, embaraça e sufoca, matando-a”. Espécies invasoras 1. Ciúme ou Hortência Calotropis procera Dryand 2. Unha-do-diabo ou Viúva-alegre Cryptostegia madagascariensis 3. Dendê Elaeis guineensis Jacq 4. Castanhola Teminalia catappa L. 5. Esponjinha Albizia lebbeck Benth 6. Leucena Leucena leucocephala 7. Mata-fome Pithecellobium dulce Benth 8. Algaroba Prosopis juliflora DC 9. Algodão-da-praia Talipariti tiliaceum Fryxell 10. Algodão-da-praia Thespesia populnea ex Corrêa (outra espécie) 11. Nim Azadirachta indica A. Jus 12. Azeitona Syzygium cumin Skeels Lêda Gonçalves Repórter Fonte: Diário do Nordeste
Zeudir Queiroz

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