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Bispo de Iguatu proíbe missas de cura nas Igrejas

Documento é divulgado com orientações normativas sobre celebrações dentro e fora das igrejas

Iguatu O bispo da Diocese de Iguatu, dom João Costa, proibiu a celebração de missa de cura e libertação, orações em língua e “repouso” no Espírito Santo, ritos ligados à Renovação Carismática Católica (RCC). A decisão foi anunciada em carta circular enviada aos padres e religiosos. O documento foi lido durante a celebração de missas em 26 paróquias em 19 municípios para conhecimento da comunidade católica.

Rituais de cura, libertação e “repouso” no Espírito Santo são considerados pela Igreja como experiências individuais, sem promoção social e comunitária. Portanto, fogem à tradição das celebrações do catolicismo fotos: Honório Barbosa

A decisão ocorreu em recente reunião do Colégio de Consultores da Diocese de Iguatu e provocou insatisfação entre os católicos que participavam das missas de cura e libertação. O documento apresenta orientações normativas sobre celebrações dentro e fora da igreja, segundo o que propõe a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

Em Iguatu, na região Centro-Sul do Ceará, foram celebradas três missas de cura e libertação, reunindo centenas de católicos na Igreja Matriz de Senhora Sant´Ana. A liturgia era presidida pelo padre Samuel Cavalcante, pároco da Igreja Matriz de Nossa Senhora do Carmo, na vizinha cidade de Jucás.

Havia expectativa de celebração na última terça-feira, dia 19, na Igreja Catedral de São José. A mudança para um templo maior era decorrente do crescimento do número de participantes. Entretanto, foi suspensa em decorrência da proibição.

Assim como em diversas cidades, em Iguatu, a Renovação Carismática reúne um número crescente de adeptos, atraídos pela nova forma de celebração

Prudência

“Sempre tratei com respeito a Renovação Carismática e reconheço o bem que faz à Igreja Católica mas, como bispo, tenho que disciplinar e orientar a linha que convém à Diocese”, explicou dom João Costa. “É preciso prudência”, defendeu.

O bispo de Iguatu disse que segue orientações da CNBB e do Vaticano que têm documentos com orientações e limites às práticas da RCC. “Quis evitar exageros em celebrações nas igrejas”, explicou dom João Costa. “Nos seus encontros, a Renovação Carismática pode fazer suas adorações e práticas”.

Segundo a análise do vigário geral da Diocese de Iguatu, padre Afonso Queiroga, o documento assinado pelo bispo dom João Costa, acolhe a Renovação Carismática Católica, mas não aceita exageros e quer preservar a identidade da igreja diocesana de Iguatu. “A nossa caminhada é baseada nas orientações da CNBB, no cristianismo que não pode se distanciar da realidade social”, observou.

O padre João Batista Moreira concorda com a decisão de suspender as missas de cura e libertação. “É preciso evitar que se caminhe para o misticismo e fanatismo”, disse. “Milagres existem, mas o próprio Jesus fez curas e pediu que não se propagasse”, afirmou.

Outro ponto abordado no documento trata do movimento pentecostal na Igreja Católica com o surgimento da Renovação Carismática. O texto expressa que são movimentos que dão ênfase ao subjetivismo e distanciam-se da realidade.

Repercussão

A decisão da Diocese de Iguatu obteve ampla repercussão nas redes sociais e chegou até o Vaticano. Em Iguatu, as opiniões são divididas entre aqueles que são favoráveis e contrários à suspensão das missas de cura e libertação. “Fiquei triste e lamento ao saber da decisão e confesso que não entendi, pois a missa é uma forma de expressar a fé em Deus, no Espírito Santo”, disse a atendente de laboratório em Iguatu, Antonia Alves.

O empresário Gilson Alves participava das celebrações do padre Samuel Cavalcante e questionou: “Era algo irregular? Os padres sabiam que essas celebrações não podiam ser feitas?”.

Para Alves, a Igreja deveria esclarecer melhor os católicos, conversando com os fiéis durante a liturgia.

A coordenadora da Pastoral da Criança, na Diocese de Iguatu, Alcileide Bezerra, concorda com a decisão da Diocese.

“A missa é para se viver o mistério pascoal de Cristo, numa dimensão social e missionária”, defendeu ela.

O padre Samuel Cavalcante disse que celebrou apenas três missas e ficou surpreso com a decisão do bispo.

“Achei que foi precipitada, pois não usava mais o nome de cura e libertação, fiz correções sugeridas pelo bispo, evitando o passeio com o Santíssimo Sacramento e orações em língua”, explicou. “Eu acato e respeito a decisão do bispo, procuro entender a sua decisão e estou pronto para servir à Diocese”, afirmou o padre Samuel Cavalcante.

De acordo com o sacerdote, nas Dioceses de Crato, Quixadá e na própria Arquidiocese de Fortaleza há missas com orações espontâneas da RCC. “A minha preocupação é com a cura do coração, e não com a cura física”, frisou o religioso.

A coordenação da Renovação Carismática Católica preferiu evitar comentários sobre a decisão da Diocese de Iguatu.

A CNBB oferece recomendações disciplinando práticas místicas no contexto da RCC: evitar a prática do “repouso no Espírito” na qual as pessoas parecem desmaiar durante os momentos de oração, mas permanecem conscientes do que ocorre em sua volta; preocupações exageradas com o demônio; orar e falar em línguas.

FIQUE POR DENTRO

Experiência pessoal com Deus é objetivo

A Renovação Carismática Católica (RCC) é um movimento da Igreja Católica Apostólica Romana surgido nos Estados Unidos em meados da década de 1960. A prática da RCC baseia-se na experiência pessoal com Deus, pela força do Espírito Santo e de seus dons, a fim de que todos tornem-se discípulos de Jesus Cristo. O movimento procura oferecer uma abordagem inovadora às formas tradicionais de doutrinação e renovar práticas tradicionais dos ritos e da mística da Igreja, mas permanecendo fiel a todos os preceitos católicos romanos.

Existem mais de 100 milhões de católicos carismáticos espalhados pelo mundo. No Brasil, a RCC teve origem na cidade de Campinas, SP, expandindo-se a partir da década de 1970.

Segundo à RCC, o “Espírito Santo”, que é a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, habita dentro de cada ser humano. Nele estaria o desejo da prática do bem e da santificação. É descrito como “conselheiro”, “consolador” ou “auxiliador”, defensor Paráclito, guiando os homens no “caminho da verdade e da justiça”. Há uma ênfase especial na ação do “Espírito Santo”.

ENQUETE

Você concorda com a decisão do bispo?

” Não. Fiquei triste ao saber da decisão do bispo e lamento, mas não entendi, pois a missa é uma forma de expressar a fé em Deus. O louvor e adoração ao Espírito Santo são formas aceitas pelo Vaticano”
Antonia Altamira Alves
Atendente

“Sim. O bispo não proibiu a Renovação Carismática Católica de realizar os seus encontros e momentos espirituais, mas a missa como era feita foge da liturgia própria da Igreja, sem preocupação comunitária”
Alcileide Bezerra
Coordenadora da Pastoral da Criança

Mais informações

Cúria da Diocese de Iguatu

Rua Eduardo Lavor, 475
(88) 3581. 0731; Paróquia Nossa Senhora do Carmo, (88) 3517. 1121
Rua João de Luna, 10, Jucás

HONÓRIO BARBOSA
REPÓRTER

Zeudir Queiroz